Adeus ao Tremendão

Poucas horas depois da notícia da morte do cantor e compositor cubano Pablo Milanés, um dos fundadores e expoente da Nueva Trova cubana, outra informação abalou o meio musical. Erasmo Carlos, o eterno Tremendão, morreu aos 81 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado em um hospital particular da cidade pela segunda vez em menos de um mês - na primeira ocasião tratava de uma síndrome edemigênica, caracterizada pelo excesso de líquido nos tecidos do corpo humano. Pouco depois da alta, ele voltou ao hospital , onde chegou a ser intubado, mas não resistiu. A morte foi atribuída a um quadro de infecção generalizada. A informação dada pela família na terça-feira (22) à noite foi que o velório não será aberto ao público.

Ele nasceu na Tijuca, em 5 de junho de 1941, como Erasmo Esteves. Na infância conheceu Tim Maia e Jorge Ben Jor, e depois, na adolescência e início da vida adulta, firmou duas parcerias que mudaram os rumos de sua vida e definiram seu nome artístico. Ele foi assistente do produtor e apresentador Carlos Imperial, que o ajudou nos primeiros passos no mundo musical como cantor e compositor. Já a parceria com Roberto Carlos resultou em uma das maiores duplas da música brasileira - juntos, compuseram mais de 500 canções (das mais de 600 que Erasmo escreveu) e foram alguns dos artistas pioneiros da Jovem Guarda e do rock brasileiro nos anos 1960.

O Gigante Gentil, como também ficou conhecido graças à sua generosidade com outros artistas, navegou por décadas explorando o cenário musical, mudando com ele e nos presenteando com letras inesquecíveis. Das enérgicas "Festa de Arromba" e "Eu sou terrível", que escreveu nos tempos do iê-iê-iê, às mais introspectivas "Sentado à Beira do Caminho" e "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", considerada uma das melhores músicas de sua carreira. São só algumas das inúmeras canções que até hoje tocam corações.

Celebrado e ativo até os últimos dias, o Tremendão venceu o Grammy Latino 2022 na última quinta-feira, 17, na categoria Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa com seu disco "O Futuro Pertence À… Jovem Guarda". Em sua última publicação no Instagram, o perfil do cantor celebrava a vitória. "É tão importante entender o conceito, quanto ouvir a música… Existem várias formas de amor e eu preciso de todas. Obrigado a todos que contribuíram para mais essa vitória, esse Grammy é o reconhecimento do nosso trabalho. O Futuro Pertence à Jovem Guarda!!!!!", foram as derradeiras palavras na rede social.

Homenagens

Nas redes sociais, colegas de profissão e amigos compartilharam homenagens e mensagens de despedida. Lulu Santos declarou: "Primeiro parece inverossímil que algo tão intrinsecamente parte de nossas vidas deixe de existir porque, naturalmente, algo de nós se vai junto. A imprescindível obra, em seu doce balanço entre o ingênuo e o profundo é, pra isso serve a palavra, imorredoura. De resto, morremos todos um pouco. Viva Erasmo Carlos. Aos filhos, familiares e legião de fãs, nosso irmanado e comovido abraço". 

Já Maria Bethânia deixou um singelo, mas comovente adeus. "'Agora eu choro só, sem ter você aqui'. Perdemos Erasmo, este 'belo rapaz'. Nosso Tremendão! Quanta tristeza!". Ney Matogrosso também manifestou tristeza: "Morreu o queridíssimo amigo Erasmo Carlos, que lástima!". Marisa Monte declarou em seu Instagram: "Um espírito colossal com um coração bondoso. Não era à toa que seu apelido era Gigante Gentil. Super pai, super avô, super-homem. Eu adoro a narrativa descritiva de suas composições e as cenas cinematográficas que ele sabia criar como ninguém para ilustrar as situações vividas nas canções. Aprendi muito com ele e me orgulho de ter sido sua parceira, cúmplice e amiga. Descanse em paz meu ídolo e querido amigo inspirador! Te amo, Gigante Gentil. Sinto muito junto com seus milhares de fãs, familiares e amigos".

Erasmo em Campinas e região

O último show presencial de Erasmo em Campinas foi em setembro de 2019, na Sociedade Hípica de Campinas. Em julho deste ano ele esteve nas proximidades, quando abriu o Festival de Inverno de Amparo com um show ao lado de Paula Fernandes. 

Em Campinas não faltam fãs lamentando a morte do grande ícone da Jovem Guarda. Um deles é William Ferreira, responsável pelo Centro de Documentação (Cedoc) do grupo RAC, que publica o jornal Correio Popular. "Sou um grande admirador e pesquisador da música brasileira. Pra mim, Erasmo Carlos foi e sempre será uma grande referência e influência para a música em geral. Morre o artista, fica essa rica obra de arte rítmica. O mercado musical mundial fica carente com mais essa perda", diz ele, que mantém um acervo particular (que ele chama de relicário) sobre Erasmo Carlos, com discos, recortes de jornais e artigos. E assim, o Brasil se despede de mais um gigante da música.