O médico e escritor Gilson Barreto vai apresentar suas novas conclusões sobre o estudo da Capela Sistina que o levou a descobrir órgãos e ossos “escondidos” na obra
O médico campineiro Gilson Barreto visitou Roma e a Capela Sistina (Divulgação)
Quando o médico campineiro Gilson Barreto visitou Roma e a Capela Sistina pela primeira vez, em 1989, ele lembra ter notado, provavelmente até inconscientemente, que cenas dos afrescos dispostos no teto pintados por Michelangelo se assemelhavam a estruturas anatômicas humanas. Pouco tempo depois, ele iria ler o artigo de Frank Lynn Meshberger fazendo um paralelo entre “A Criação de Adão”, um dos mais conhecidos quadros da imensa pintura, e o cérebro. “Eu acho que a resposta não é tão importante quanto a pergunta. E eu levei 12 anos, depois de ler esse artigo, para fazer uma pergunta: se ali havia um cérebro, e quanto às outras cenas? E aí eu fui buscar a resposta”, conta ele.
A pergunta levou a uma série de leituras e análises das cenas da pintura e, ao lado do professor do Instituto de Química da Unicamp Marcelo Ganzarolli de Oliveira, Gilson escreveu o livro “A Arte Secreta de Michelangelo”, publicado em 2004. Vinte anos após o lançamento, o médico volta-se novamente para esse trabalho, com novas observações que vai apresentar em palestra na Academia Campinense de Letras, nesta segunda-feira (11), às 19h30. A entrada é aberta para todos os públicos e gratuita.
PRODUÇÃO DO LIVRO
Após um ano dedicado ao estudo da obra de Michelangelo, finalizada em 1512, Gilson e Marcelo identificaram 32 peças anatômicas que, apesar de escondidas na pintura, foram descobertas através de pistas deixadas pelo próprio artista. “A descoberta que fizemos é que essas peças anatômicas eram coincidentes com a posição dos personagens retratados e com os destaques de iluminação da obra. Os personagens ficam em posição de evidenciar essas formas, por exemplo, anjos apontando para a peça anatômica e também há uma luz sobre ela. A partir dessa lógica, fomos descobrindo em cascata: há tórax, joelho, coração, cotovelo, nuca e muitos outros”, detalha o médico.
Foi o jornalista Heródoto Barbeiro que, ao entender a descoberta, propôs a criação do livro, cujo prefácio assinou. O volume robusto vendeu 70 mil exemplares, chegou a ser publicado na Hungria e na Coreia do Sul e virou reportagem na agência de notícias Reuters. Gilson garante que há mesmo uma precisão muito grande nas formas desenhadas por Michelangelo com os órgãos e ossos humanos. “A presença dos detalhes anatômicos é fantástica.” Depois de duas décadas debruçando-se sobre a arte de Michelangelo (e mais cinco visitas à Capela Sistina), Gilson disse acreditar ter entendido a motivação do artista para pintar essas peças anatômicas. Na palestra desta segunda-feira (11), o médico e escritor vai discutir o contexto histórico que envolveu o pintor, situando-o dentro do período do Renascimento Italiano e da rixa histórica entre as poderosas famílias Médicis e Pazzis – grandes patronos das artes. Adiantando o tema, os Médicis haviam acolhido Michelangelo e ele acabou envolvido em disputas políticas e ações da Igreja.
PROGRAME-SE
Palestra “A Arte Secreta de Michelangelo”
Quando: segunda-feira, às 19h30
Onde: Academia Campinense de Letras - Rua Marechal Deodoro, 525
Entrada gratuita
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