QUADRINHOS

A turma de Maurício de Souza é revisitada em nova HQ

Vitor e Lu Cafaggi imprimem seus traços em 'Mônica Laços', Graphic Novel da Panini Comics

Dario DJota Carvalho*
17/07/2013 às 15:35.
Atualizado em 25/04/2022 às 08:33

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Dario DJota Carvalho*

Dois avisos são importantes a quem for ler 'Mônica Laços', nova Graphic Novel da Mauricio de Sousa Editora/Panini Comics com desenho e argumento dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi. O primeiro: é impossível não se apaixonar pela fofura dos traços que a dupla mineira imprimiu aos tradicionais personagens de Mauricio de Sousa, em especial na fase mais criança do quarteto Cebolinha, Mônica, Cascão e Magali.

O segundo: é difícil ler a aventura sem lembrar de referências literárias e televisivas como Os Meninos da Rua Paulo, Cazuza, Meu Pé de Laranja Lima, Braço de Ferro... a história em quadrinhos tem um forte e delicioso aroma de nostalgia, e um gosto inconfundível daquelas aventuras de infância que muitos de nós viveram em tempos mais inocentes e que outros gostariam de ter vivido.

Seguindo a linha estabelecida no selo Graphic MSP, pelo qual já foi lançado a épica Astronauta Magnetar, os autores tiveram liberdade total para criar a história de quase 70 páginas — fora os extras, com direito a “momentos Kodak” tanto do bebê Cebolinha com o filhotinho Floquinho quanto dos demais componentes do quarteto principal. No prólogo da HQ, o leitor acompanha seu Cebola chegando em casa trazendo em uma caixinha um filhote de lhasa apso verde (sim, o cachorrinho tem raça!) com o qual presenteia o filho que mal sabe andar e sentencia: “É um cachorro, filho. Ele vai ser seu melhor amigo”.

A partir daí a história dá um salto no tempo e se (re)inicia como uma aventura típica da turminha: Cebolinha e Cascão fugindo da dentuça após mais um plano que não deu certo. Um plano clássico, daqueles com direito a fantasias — por sinal, as excelentes roupas de Peter Pan e Capitão Gancho têm tudo a ver com a aventura, que chegou a ter “meninos perdidos” como título provisório. Os autores aproveitam a fuga da dupla para brindar os leitores com as próprias versões de seu Juca, Jeremias (preocupado com o sumiço do boné), Titi, Aninha, Denise, Carminha Frufru, Cascuda, Xaveco e o pai e, finalmente, a adolescente Xabéu, por quem os meninos são apaixonados.

Ao voltar para casa, porém, Cebolinha descobre que Floquinho sumiu. Após um período de depressão no quarto (cheio de detalhes que vale a pena conferir, como um quadro da exposição “quadrões” de Mauricio na parede e coleção de miniaturas que incluem He-Man, Wolverine e Thundercats) o “galoto” decide, com incentivo e ajuda dos melhores amigos, procurar pelo cachorro.

A partir daí começa a odisseia por outros bairros, com direito a encontro com um misterioso mendigo no parque, acampamento noturno e confrontos com outra turminha. Vale aqui um parêntese: normalmente os adversários são a gangue de Tonhão da Rua de Cima (ou seria de baixo?), mas não desta vez, quando aparentemente os três garotos que tentam fazer bullying sobre os pequenos parecem ser anônimos. Uma segunda olhada no trio de desconhecidos, porém, revela uma grata homenagem: o líder é um gordinho loiro, acompanhado de um baixinho com cabelo rapado e um mais alto, de cabelos pretos e chapeuzinho. Trata-se de uma releitura de Bolinha, Carequinha e Joca, personagens de Luluzinha, da cartunista Marge Buell.

Conforme a aventura se segue, outras homenagens mais ou menos explícitas se seguem. A cena em que os meninos encontram um esquilinho morto, por exemplo, remete claramente a uma famosa tira de Calvin, de Bill Watterson, bem como uma cena de bicicletas é calcada na famosa fuga de ET. Durante o acampamento, na conversa em torno da fogueira, os quatro meninos relembram aventuras que o leitor assíduo da turminha reconhecerá como histórias realmente já publicadas nos gibis (e algumas até mesmo levadas aos desenhos animados). Em determinado ponto, Mônica conta uma história sobre a infância do pai que nada mais é que um episódio verdadeiro da vida de Mauricio de Sousa, contado pelo autor em seus livros de crônicas.

Enfim, não faltam homenagens e referências para quem quiser procurar — mas, claro, só depois da primeira leitura, já que a história é muito saborosa para ser deixada de lado atrás de troféus “cata-piolho” logo de cara. Quando finalmente descobrem onde Floquinho está, há um momento de tensão brilhantemente narrado pelos Cafaggi, no qual a realidade mundana, na qual os homens são cruéis, ameaça a fantasia a ponto de um Cebolinha chocado dizer “mas moço, você não pode, nós somos clianças”.

Todavia, Mônica avisa o garoto para correr e, no fim, como sempre ocorre quando não é contra a dentuça, o plano do menino de cinco fios de cabelo efetivamente se mostra infalível. Resolvida a tensão, tudo volta ao normal no bairro do Limoeiro — que, pra quem não sabe, é inspirado no Cambuí, em Campinas, na época em que Mauricio morou ali. Mas não acaba aí: o leitor ainda ganha um epílogo no qual vê o primeiro contato entre Floquinho e os personagens. Destaque para a concepção de Cascãozinho de cabelos cacheados, antecedendo a versão moicano quando mais velho.

Para finalizar, os extras da Graphic Novel trazem diversos esboços da HQ e as tiras comentadas mostrando o surgimento de Cebolinha, Floquinho, Mônica, Cascão e Magali. Mônica Laços pode ser encontrado em bancas e livrarias, em duas versões, com capa simples (R$ 19,90) ou dura (R$ 29,90).

* O jornalista Dario DJota Carvalho é autor das tiras Só Dando Gizada, publicadas diariamente no Caderno C

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