dia do radialista

A sintonia com o rádio está cada vez mais dinâmica

O Dia do Radialista, celebrado nesta terça-feira, nada tem de saudosista, pois as rádios continuam dinâmicas e seus profissionais aprenderam a usar a tecnologia a seu favor

Cibele Vieira/ [email protected]
07/11/2023 às 13:06.
Atualizado em 07/11/2023 às 13:06
O Dia do Radialista é celebrado no dia 7 de novembro (freepick)

O Dia do Radialista é celebrado no dia 7 de novembro (freepick)

Quando a televisão chegou ao Brasil, na década de 1950, as previsões pessimistas anunciavam o fim da era do rádio. Entretanto, cerca de sete décadas depois, as pesquisas confirmam que 80% dos brasileiros ainda ouvem rádio diariamente. E nesta terça-feira (7), em que se comemora Dia do Radialista, é oportuno lembrar a atualidade da frase dita por Roquette Pinto, o precursor da radiofonia no Brasil, que no discurso de inauguração da primeira emissora do País (Rádio Sociedade do Rio de Janeiro) em 1923, afirmou que o rádio seria "o livro dos que não sabem ler e o divertimento gratuito do pobre".

Nos últimos anos, com a evolução da tecnologia digital - que reuniu o telefone e a internet nos smartphones e introduziu aplicativos de mensagens como o WhatsApp - o trabalho do radialista ficou mais ágil e foi facilitado do ponto de vista técnico. É o que conta Danilo Fernandes, jornalista que atua na Rádio Educativa de Campinas (101.9 FM) desde sua fundação, em 1999. "Naquela época ainda tocávamos CDs, as entrevistas eram gravadas em fitas K7, enquanto hoje é tudo eletrônico e digital, esse impacto da tecnologia foi tremendo e facilitou muito para quem trabalha na parte técnica da rádio", comenta.

Mas a relação com o ouvinte ainda permanece afetiva, embora mais imediata, com o uso de novas ferramentas. "No início os ouvintes mandavam cartas, telefonavam e hoje a maioria usa o WhatsApp e as redes sociais. Entretanto, ainda temos um público idoso que telefona e até, mais raramente, envia carta", afirma. O imediatismo da comunicação, que permite ao radialista entrar no ar a qualquer momento, mesmo à distância e usando apenas o celular, estreita a relação com o ouvinte, que também reage mais rapidamente. "Esse impacto no contato com ouvintes e o trabalho interno mais rápido, nos permite avaliar as reações de retorno, fazer medições entre os ouvintes mais fiéis e promover ajustes imediatos", conta Fernandes.

Para ele, as rádios de Campinas atuam em nichos diferentes, cada uma com uma programação específica voltada para atender ao perfil do seu público. "A cidade tem opções para muitos nichos", comenta. A Rádio Educativa, embora tenha uma programação mais musical (em variados estilos), também mantém programas de entrevistas e notas informativas. Fernandes, por exemplo, produz e apresenta um programa de entrevistas com artistas locais. Como a internet também permite ouvir o rádio, ele relata que recebe mensagens de diferentes Estados (MG, PR e MT por exemplo) e diversas cidades da Região Metropolitana de Campinas. E afirma que pesquisa recente apontou a Educativa como uma das rádios de Campinas mais ouvidas pela internet.

Questionado sobre a eventual concorrência das plataformas digitais de música, o radialista comenta que "talvez o público de escolaridade e renda maior prefira os streamings", mas garante que o rádio continua o veículo preferido do cidadão comum. "O rádio é um prazer único, embora perecível, pois os programas que não são postados na internet se perdem após a exibição, são instantâneos. Mas são eles que mantêm memória da produção musical da cidade, nos permitem interagir com quem produz cultura, e escutar os ouvintes, que graças às novas ferramentas digitais estão cada vez mais próximas", diz.

PESQUISA COMPROVA PREFERÊNCIA

Em setembro, a Kantar IBOPE Media divulgou o estudo "Inside Áudio 2023" que revelou que 80% da população brasileira, nas 13 regiões pesquisadas, sintoniza no rádio. Em Campinas, uma das regiões onde a pesquisa foi realizada, o índice é de 78%. Além do rádio, 90% da população pesquisada ouviu algum formato de áudio, incluindo rádio, música, streaming ou podcasts. A pesquisa revela que 76% dos ouvintes reconhecem a modernização do rádio em seus conteúdos e formatos, e 38% afirmam que a opção de ouvir online enriqueceu sua experiência, um aumento em relação aos 30% em 2022.

A música segue como principal conteúdo procurado pelos ouvintes, com 94% da preferência da audiência, seguida por 32% para notícias locais, 26% para noticiários nacionais, 25% para notícias de trânsito e 24% para futebol (notícias e comentários). Segundo a pesquisa: 83% dos ouvintes reconhecem que o veículo apresenta notícias com agilidade e 64% acompanham as notícias nas rádios por confiar em sua credibilidade.

O portal tudoradio.com aponta que a cidade de Campinas tem atualmente 12 emissoras de rádio em funcionamento.

NAS ONDAS DO RÁDIO CAMPINEIRO

A jornalista, professora universitária e pesquisadora Ivete Cardoso do Carmo Roldão, é autora do livro "Nas Ondas do Rádio", com base em seu levantamento histórico sobre a trajetória da radiofonia na cidade de Campinas, desde a primeira emissora fundada na cidade, em 1930.

O livro é fruto de uma pesquisa sobre o tema realizada durante três anos. Ela recorda, na introdução do livro, as histórias que vivenciou como ouvinte e, mais tarde, como estudante de jornalismo, repórter, produtora e gestora de emissoras. A autora tem doutorado em comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), trabalhou nos anos 1980 nas rádios Cultura e Central e, entre 2001 e 2004, foi diretora geral da rádio Educativa, o que lhe trouxe, além da experiência como jornalista, novas demandas de conhecimento de técnica, programação, legislação e transmissão.

A primeira transmissão na cidade, em 1930, foi quando o radialista Jolumá Brito disse no ar: "Aqui fala de Campinas! Nós estamos fazendo transmissão para ver se ouvem a nossa rádio. Quem estiver ouvindo, escreva ou telefone para nós". Um telefonema chegou da cidade vizinha de Vinhedo, distante cerca de 30km, o que causou espanto em Jolumá, que há cerca de três anos fazia tentativas para a implantação de uma emissora na cidade.

Na época da instalação da PRC-9, os campineiros contavam apenas com dois jornais como meio de comunicação e, até a chegada das emissoras de televisão à cidade, foram quase 40 anos de grande influência do rádio. Até a década de 1950, elas tinham programas de auditório, que acabaram se tornando exemplos para a instalação da televisão.

O livro relata a chegada tímida das emissoras de FM à cidade, no início da década de 1980, com o surgimento das rádios voltadas ao público jovem e, mais tarde, a segmentação, a afiliação às grandes redes nacionais, o crescimento do número de programas de entretenimento ou religioso. A pesquisa desenvolvida por Ivete analisa que a rádio AM perdia espaço na disputa pela audiência do brasileiro. Ela aborda também a diminuição dos investimentos em jornalismo que aconteceu em Campinas, assim como na maioria das cidades do interior, em comparação com a década de 1980.

DIA DO RADIALISTA

Apesar da primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil ter ocorrido em 1922, a profissão de radialista foi regulamentada apenas em 1978 (Lei 6.615). O Dia do Radialista é uma homenagem ao compositor e radialista Ary Barroso, mas a data ainda gera confusão, pois durante muito tempo foi celebrada no dia 21 de setembro (em alusão à data de 1943, quando foi assinada a lei que criou um piso salarial para a profissão) e em 2006 uma Lei Federal transferiu para 7 de novembro.

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