PANTANAL

A novela vai reconquistar o público?

A estreia do remake de Pantanal foi positiva em audiência e também nas redes sociais; agora virá o grande desafio de equilibrar inovação com memória afetiva

Karina Fusco e Aline Guevara
30/03/2022 às 14:20.
Atualizado em 30/03/2022 às 14:20
Remake da novela "Pantanal" estreitou na noite de segunda-feira (28) na TV Globo (Divulgação)

Remake da novela "Pantanal" estreitou na noite de segunda-feira (28) na TV Globo (Divulgação)

Havia muita expectativa para a estreia do remake da novela "Pantanal" na noite de segunda-feira, 28, na TV Globo, e a primeira impressão foi bastante positiva, tendo em vista a repercussão que teve o capítulo inicial de cerca de 1h30 de duração.

Uma das grandes conquistas foi em relação à audiência. Segundo dados do Kantar Ibope, "Pantanal" marcou 28 pontos de média, sendo que cada ponto equivale a 74.666 televisores ligados na Grande São Paulo. A novela anterior "Um Lugar ao Sol", entrou no ar com alcançando 25 pontos na estreia.

Nas redes sociais, o assunto também ganhou destaque. No Twitter, rede que atrai muito os jovens, só se falava sobre Pantanal. A hashtag #Pantanal foi parar nos Trending Topics (os tópicos mais comentados da rede) e ficou nove horas entre os mais citados. E não parou por aí. Mundialmente, Pantanal ficou como Trending Topic por seis horas como um dos assuntos mais falados. No total, foram computados mais de 100 mil tweets sobre a nova versão.

A jornalista campineira Jaqueline Marson, de 34 anos, foi uma das espectadoras conquistadas no primeiro episódio. Apesar de não ter visto a novela original quando foi transmitida em 1990 pela TV Manchete, ela assistiu à reprise em 2008 no SBT e guardava boas lembranças. Foi um dos motivos que a levou a conferir a estreia. "É uma história muito bonita. Também queria ver como a Juliana Paes se sairia como Maria Marruá, porque a Cássia Kiss foi brilhante na primeira versão. Gostei também da seleção de atores desta nova versão", declara.

O que ela viu até aqui, já impressionou. Assim como boa parte dos elogios repetidos nas redes sociais sobre a produção, Jaqueline achou a fotografia e visual do primeiro capítulo muito bonitos e impressionantes. "Cada cena está caprichada. Lindíssimo trabalho! E ouvir a música "Disparada", de Jair Rodrigues, foi emocionante, uma das cenas mais bonitas, assim como as passagens do tempo mostrando o personagem do Zé Leôncio (interpretado por Renato Góes)", comenta. Apesar de conhecer a história completa, ela já dispara que, sem dúvidas, quer continuar assistindo Pantanal até o final.

Saudosismo e inovação

Na avaliação de Álvaro André Zeini Cruz, mestre e doutor em Multimeios pela Unicamp e professor universitário no Senac SP, dois elementos pesam bastante nesse interesse do público pela nova versão de Pantanal: a curiosidade de quem não viu e a memória afetiva dos que já assistiram. "Nem todo remake é um sucesso, mas esse vem a calhar porque estamos em um período de comercialização da nostalgia. Está em voga a regravação ou obras que trabalham o tempo passado não tão distante. Isso, inclusive, também está presente nos streamings", afirma.

Ele pontua que no elenco estão nomes bastante conhecidos e alguns artistas que trazem essa memória afetiva, como Marcos Palmeira e Almir Sater. "A Globo tem uma tendência de trazer para as regravações os personagens que fizeram a primeira versão, mas sempre homens. As mulheres não voltam. Em “Pantanal”, há quatro atores que atuaram no original e nenhuma atriz", comenta.

Álvaro, que pesquisa cinema e televisão, explica que a telenovela sempre trabalhou na grade de programação como uma espécie de alternância entre a receita tradicional e a inovação. "’Pantanal’ é um título muito representativo de uma inovação, rejeitada pela própria Globo - foi feita na Manchete - e na época foi uma quebra do fluxo televisivo. A Globo vinha com novelas urbanas há pelo menos 20 anos no horário das 20h, o que até fazia parte de uma criação de identidade nacional moderna. “Pantanal”, com o cenário rural, foi uma novidade", diz.

Agora, tentando fazer diferente um produto que foi desprezado no passado, contando com Bruno Luperi, neto do autor Benedito Ruy Barbosa, à frente do trabalho, a tecnologia já se mostrou evidente nas cenas que valorizaram as belezas da região pantaneira. Para o especialista em Multimeios, entre os principais atrativos do remake estão as imagens e como captar as paisagens usando a tecnologia atual. "O primeiro capítulo usou e abusou de imagens de drones". E o telespectador se encantou!

A novela não vai acabar

Mesmo sendo a telenovela é um hábito cultural brasileiro de décadas, existe muita expectativa em relação ao ritmo de Pantanal no desenvolvimento da trama. Ao invés de capítulos com longos minutos mostrando paisagens e os fatos demorando dias para acontecer, o novo período requer mais agilidade. "Essa novela terá que encontrar um equilíbrio. Se bem que o primeiro capítulo já se mostrou ser mais dinâmico", afirma Álvaro.

Para ele, o formato que foi tão impactado pelos novos hábitos de consumo de cultura, sobretudo pelos serviços de streaming, tem vida longa. "A novela tem um formato que desdobra a narrativa seriada e também passa por uma evolução. Na TV aberta, nunca mais teremos a audiência que a telenovela tinha no passado, embora continue sendo o produto mais consumido. Existe a tendência de o streaming produzir novelas mais enxutas e coesas, sem muitas tramas paralelos e a TV aberta terá que se articular, com um pouco de experimentação, sem esquecer o escapismo que a novela proporciona, o arroz com feijão do melodrama. Esse será um grande desafio", complementa o especialista.

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