PAULINIA

A Descida do Monte Morgan tem estreia nacional

Adaptação: Com produção de Denise Fraga, texto de Arthur Miller será encenado no Theatro de Paulínia

Fábio Trindade
01/03/2013 às 09:47.
Atualizado em 26/04/2022 às 02:35
O protagonista Ary França brinca com o elenco do espetáculo durante entrevista (Leandro Ferreira/AAN)

O protagonista Ary França brinca com o elenco do espetáculo durante entrevista (Leandro Ferreira/AAN)

É possível ser fiel a si e aos outros ao mesmo tempo? Quem se faz essa difícil pergunta é Lyman Felt, um homem de sucesso, filho de judeus e albaneses, que conseguiu fundar sua própria empresa de seguros e tornar-se um dos homens mais respeitados dos Estados Unidos. Ah, tem mais um detalhe: ele é bígamo. Fiel a seus sentimentos, Lyman envolve suas duas mulheres numa vida de mentiras até que, por ocasião do acaso, sofre um grave acidente de carro e vai parar no hospital, onde tudo vem à tona. Um enredo forte e trágico, mas tratado pelo ilustre Arthur Miller — dramaturgo norte-americano conhecido por Morte de um Caixeiro Viajante e As Feiticeiras de Salem e por ter se casado com Marilyn Monroe — com muitas pitadas cômicas em A Descida do Monte Morgan.

A peça de 1991, apesar de bem-sucedida no Exterior, acaba de ganhar sua primeira adaptação nacional pelas mãos de Denise Fraga e o marido, o diretor Luiz Villaça, que compraram os direitos após ver o texto encenado na Argentina. O espetáculo, com Ary França no papel principal, fará a estreia nacional amanhã, às 20h, no Theatro Municipal de Paulínia, e contará com uma segunda sessão, no domingo, às 19h.

A apresentação faz parte das comemorações do aniversário de 49 anos da cidade e, por isso, basta trocar um ingresso por um quilo de alimento não perecível a partir de duas horas antes do início de cada sessão.

“Estamos em semana de estreia, por isso estamos assim, tão empolgados e ansiosos”, brincou Ary durante a coletiva de imprensa para apresentar a peça. O elenco, que tem as atrizes Lavínia Pannunzio e Lú Brites como as duas mulheres, Theodora e Leah, respectivamente, e completa-se com Fábio Nassar, Jú Colombo e Paula Ravache, chegou em Paulínia na quarta para poder transpor o espetáculo da sala de ensaios para o enorme tablado do Theatro Municipal. “Estamos conhecendo o cenário junto com vocês”, completou ator.

No palco, uma confusão só, com objetos pendurados no teto e uma cama de hospital no centro, representando a mente do protagonista, que transita entre passado e presente e realidade e criações de uma consciência culpada. “Temos dificuldades para entender o que ele está vendo, o que é produto da memória e o que vem do delírio. Lembrando que sempre devemos nos perguntar até que ponto nós nos lembramos com veracidade das coisas que aconteceram, principalmente do ponto de vista emocional”, explica Ary.

Apesar de toda mentira e isenção de culpa que Lyman sente, ele é um homem querido e que acredita profundamente que viveu e permitiu que essas mulheres vivessem os melhores anos de suas vidas. “O que mais me chamou atenção no texto, de cara, foi o nome do personagem, pois significa mentiroso. Temos a ideia de que a memória pode falar a verdade, mas ele vive uma verdade, as mulheres vivem as verdades delas. E esse caleidoscópio de verdades fica girando e, por isso, os personagens não têm muito tempo de sofrer exatamente a dor de cada um”, acrescenta Lú Brites para explicar como encarar um enredo desses com comédia, mesmo que seja dramática.

Mesmo não seguindo um raciocínio linear e tratando de uma temática difícil, Lavínia Pannunzio afirma que o texto é direto e acessível a todos os públicos, além de não criticar a sociedade. “O papo é reto”, resume. “O Arthur Miller é de uma inteligência incrível. O desfrute do texto é 100% possível. A gente se diverte na peça pelo brilhantismo das coisas que os personagens falam, da situação que o autor os coloca. É claro que Miller olha para algumas pessoas e algumas formas de vida e simplesmente as expõem, mas não necessariamente para fazer uma crítica. A gente entende o que ele pensa, mas aí a dizer aonde ele quer chegar, é outra coisa.”

Tanto que, para ela, o dramaturgo jamais quis levantar uma bandeira, como ser ou não a favor da bigamia. “Mas sabemos que ele é um cara muito atento, com uma contemporaneidade absurda. Ele sempre tem uma posição, ele não escreve atoa, mas depende de como você vê a sociedade.” E para saber de onde veio o nome da peça, é simples. O acidente que quase tirou a vida de Lyman e revelou todas essas situações aconteceu quando ele descia a estrada do Monte Morgan.

SERVIÇO

O quê: 'A Descida do Monte Morgan'

Quando: Sábado (02), às 20h, e domingo (03), 19h.

Onde: Theatro Municipal de Paulínia (Av. José Lozano Araújo, 1551, Pq Brasil 500, fone: 3933-2140)

Quanto: 1 kg de alimento não perecível (que deve ser trocado por um ingresso a partir de duas horas antes do início de cada sessão; sujeito à lotação da sala)

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