teatro do absurdo

'A Cantora Careca' ganha releitura em Campinas

Espetáculo escrito em 1950 pelo autor franco-romeno Eugène Ionesco está há 62 anos em cartaz em Paris

Agência Anhanguera
26/10/2019 às 13:35.
Atualizado em 30/03/2022 às 10:38

A atualidade do texto, irônico e com diálogos que mostram a total impossibilidade de comunicação entre os personagens, incompreensível num primeiro momento, mas que se revela do mais absoluto realismo nesses tempos bicudos, é um dos fatores que levaram o diretor e ator Jonas Lemos, do Grupo de Teatro Evolução, a remontar a peça A Cantora Careca. À primeira vista parece uma história simples de dois casais, uma empregada e um bombeiro, que têm diálogos incoerentes. Mas foi com este tema que A Cantora Careca, escrita em 1950 pelo autor franco-romeno Eugène Ionesco (1909 – 1994) marcou a dramaturgia mundial e foi considerada a primeira peça do Teatro do Absurdo, em 1950. A peça, remontada 42 anos depois que o mesmo Jonas Lemos estreou a primeira versão, em junho de 1977 - em plenos anos de chumbo da ditadura militar -, tem estreia marcada em Campinas, nos dias 2 e 3 de novembro, na sede do Grupo de Teatro Téspis, no bairro Nova Campinas. A remontagem é ainda uma homenagem a integrantes do primeiro elenco e equipe, que já não estão mais entre nós (leia quadro). “Essa montagem me faz viajar no tempo. Sempre gostei do Teatro do Absurdo, porque ele te desafia. Autores como Ionesco, Fernando Arrabal, Jean Genet, Samuel Becket nos instigam a pensar no que está sendo dito. O texto que se diz é o real da nossa vida, das nossas emoções, da política. Trata das questões humanas, mostra a dificuldade que temos em nos comunicar”, afirma Lemos. “Mostra a dificuldade dessa comunicação e o mal uso que se faz dessas palavras.” Os diálogos usam de uma linguagem que apresentam a princípio um desencontro de informações e de emoções, criando mentiras e ilusões. “O perigo das mentiras ditas como verdades absolutas, é exatamente o que estamos vivendo, a era da fake news”, lembra Jonas. Com uma formação de dois elencos, que se alternam nas apresentações, a nova montagem também representa para o diretor um desafio de criatividade. “Isso é muito instigante, pela dificuldade do texto e por retratar a essência humana. Quem for assistir vai perceber isso”, afirma. A montagem teve a parceria do Grupo de Teatro Téspis, onde foram realizados os estudos e os ensaios. Além da direção Jonas integra o elenco que conta ainda com Rita Lunardi, Joel Barboza (que participou da primeira versão), Luciane Aranha, Leidy Braz, Delma Medeiros (jornalista do Correio), Ramiro Lopes, Joaquim Andrade, João André e Marcos Zuim. Robson Loddo assina a maquiagem, Jésus Seda a cenografia e Neander Heringer a fotografia. Saiba mais A Cantora Careca comemora o recorde mundial de espetáculo apresentado sem interrupções no mesmo local, o Théâtre de La Huchette, desde 16 de fevereiro de 1957. O teatro chegou a receber um prêmio Molière honorífico, a maior recompensa do teatro na França, graças à sua fidelidade ao autor. O mítico teatro, de apenas 90 lugares, foi comprado pelos atores em 1975. O espetáculo mantém a mesma montagem, assinada por Nicolas Bataille em 1957. A primeira montagem em 1950, teve 25 apresentações apenas pela rejeição do público e crítica ao texto. Mas o estilo agradou o mundo literário: André Breton, Raymond Queneau, Albert Camus e outros começaram a apoiá-lo e, em poucos anos, Ionesco se tornou um escritor festejado nas rodas francesas. Tanto que no final da década de 50, o mundo artístico e intelectual de Paris pressionou o Teatro de La Huchette a remontar dois textos do autor, A Cantora Careca e A Lição. Homenagens A primeira versão de Jonas Lemos para o texto de Ionesco contou com uma equipe de primeira linha do teatro campineiro, como os atores Marco Ghilardi, Malu Lopes e José Mauro Padovani, e o ator, cenógrafo, figurinista e visagista Fernando Greco, já mortos e os homenageados desta montagem. A equipe tinha ainda os atores José de Oliveira, Zezé Lima, Lucia Martini, João Lauria, Zeza Amaral (colunista do Correio) e Joel Barboza; além de Jucam, responsável pelo cenário e Greco pelos figurinos. AGENDE-SE O quê: espetáculo 'A Cantora Careca' Quando: 2 e 3/11, às 19h Onde: Grupo de Teatro Téspis (Rua Augusto César de Andrade, 575, Nova Campinas, fone: 3365-3040) Quanto: R$ 15,00 (antecipado)  

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