ENTREVISTA

A atriz Eva Wilma celebra em 2013 seus 80 anos de vida

Ela conversou com o Caderno C e garantiu que nem pensa em se aposentar

Delma Medeiros
21/11/2013 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 23:09

Completando 60 anos de carreira e 80 de idade este ano, a atriz Eva Wilma nem pensa em aposentadoria — afirma que ama o que faz e isso lhe dá ânimo para seguir atuando nos palcos, no cinema e na televisão. Eva Wilma começou a carreira profissional como bailarina clássica, mas em 1953 recebeu, simultaneamente, convites para fazer teatro, cinema e televisão, começando em todos os veículos com o pé direito. Foi chamada para substituir uma atriz numa montagem do Teatro de Arena; assinou um contrato de dois anos com a Cia Cinematográfica Maristela para fazer três filmes, começando com Procópio Ferreira em 'O Homem dos Papagaios'; e foi convidada por Cassiano Gabus Mendes para estrelar um programa na extinta TV Tupi. Desde então, acumula prêmios e trabalhos. Tem em torno de 80 participações na televisão, em novelas, séries e especiais; atuou em cerca de 30 filmes e quase 40 espetáculos teatrais. Atualmente, está em turnê com a peça 'Azul Resplendor', que apresentou em Campinas em outubro, ocasião em que concedeu uma entrevista exclusiva ao Caderno C. Correio Popular — Você está completando 60 anos de carreira e sempre na ativa. Qual o segredo dessa energia toda?Eva Wilma — Para resumir bem, chama-se entusiasmo. Essa palavra vem do grego e quer dizer ter um deus dentro. O entusiasmo é a força que a gente tem, o amor com que a gente faz o que está fazendo, dentro da profissão que escolhe. Isso é o ideal, ter como profissão aquilo que você ama fazer, que você gosta muito. E é o meu caso, eu gosto muito do que faço, então não tenho porque parar por enquanto. A peça 'Azul Resplendor', faz parte das comemorações pelos 60 anos de carreira?O Renato Borghi e o parceiro dele, Élcio Nogueira Seixas, fizeram uma viagem de pesquisa pelos países de língua latina, com uma proposta da Funarte (Fundação Nacional de Artes) de fazer um intercâmbio, para levar autores brasileiros e trazer autores de outros países da América do Sul, que falam língua hispânica. Ele trouxe esse texto e pensou em mim. Aliás, foi bem pensado, porque ele me trouxe em mãos e, assim que acabei de ler, transferi dois outros projetos que estavam em andamento pra aceitar este convite do Borghi, que produz e é um dos diretores. Eu adorei o texto, é apaixonante, ele aborda o mundo das artes cênicas de maneira irônica, com humor crítico, a gente dá risada de nós mesmos em cena. E ao mesmo tempo poeticamente. Na peça você interpreta uma atriz, uma grande dama de teatro, que se aposentou. Esta é a grande diferença entre vocês?Esse autor peruano, Eduardo Adrianzén é professor de teledramaturgia. Além disso, já teve vários textos premiados na Europa e agora é a primeira vez que é montado no Brasil. O que me interessou acima de tudo é o lado poético — tem bastante poesia — e o humor crítico. A diferença, o fato de eu não ter parado há 30 anos, é porque eu não sou a Blanca Estela Ramires, eu até gosto muito dela e faço de conta que sou, mas só no palco.Você começou a carreira como bailarina. Como foi essa guinada para a atuação?O meu primeiro contrato profissional foi de bailarina. Dos 9 aos 19 anos, eu estava certa de que seria uma bailarina clássica profissional, mas tinha receio de que tivesse de ir embora do País para isso. Eu e todas as minhas colegas do balé do 4º Centenário de São Paulo tínhamos esse receio. E, coincidentemente, eu recebi convite simultâneo, em 1953, para fazer teatro de arena, o primeiro teatro de arena da América Latina; para fazer televisão, do Cassiano Gabus Mendes, meu primeiro diretor-artístico; e para fazer cinema. Eu comecei os três veículos no mesmo ano e tenho tido o privilégio, nesses 60 anos, de participar dos três. Mas eu volto sempre ao exercício do espaço cênico livre, que eu chamo exercício ao vivo, de corpo e alma inteiros, presentes, com público.Você começou na TV Tupi. Quando foi pra Globo?Quando a Tupi faliu e acabou (1980). E aí foi para a Globo?Tinha recebido convites antes, mas estava feliz lá. Trabalhei 25 anos na Tupi de São Paulo, mas, infelizmente, terminou. Mas eu nunca tive vínculo empregatício porque presei a minha liberdade de fazer filme, de fazer teatro, e sempre voltando ao exercício da televisão também. Você tem ideia de quantos espetáculos e novelas já participou?Mais de 30 espetáculos, o mesmo tanto de filmes, mas de televisão tem muitos seriados, especiais, teleteatro, muita TV de vanguarda ao vivo, da época em que não existia videotape. E nos últimos tempos, além de novelas, séries como a 'Esperança', que foi uma maravilha, 'Os Maias', que também foi um seriado porque não teve o número de capítulos de uma novela. Mas eu perdi a conta, é muita coisa. Por exemplo, o programa 'Mulher' era semanal, mas durou dois aos no ar e me deu muita satisfação fazê-lo. E entre as personagens de novela, posso dizer que me orgulho demais de ter sido a protagonista de 'Mulheres de Areia', a original, em 1973. Portanto, eu estava no auge da carreira, comecei em 1953. A primeira, a original 'Mulheres de Areia', fazendo a Ruth e a Raquel, que foi na época um sucesso estrondoso. E outra que o público se lembra, o público sabe melhor do que eu e não esquece é 'A Indomada'. Muitas vezes a gente se cruza e falam “My chente, my good” e eu respondo “thank very much, viu bichinho?”. Você recebeu muitos prêmios ao longo da carreira, lembra qual foi o primeiro como atriz?Olha, acho que foi com cinema que ganhei o primeiro prêmio. Com cinema eu fiz inclusive viagens internacionais. A primeira edição de Cinema Brasileiro em Roma eu fiz com um filme do Roberto Farias, que me deu muita satisfação e, provavelmente, o primeiro prêmio da minha carreira artística. O filme se chamava 'Cidade Ameaçada'. Eu tenho prêmios desse filme, também do filme 'São Paulo S/A', muitos prêmios da peça de teatro 'Querida Mamãe', inclusive ganhei o prêmio mais cobiçado de todos, que infelizmente não existe mais, foi extinguido, que a Air France dava que era o Molière, todo mundo cobiçava o Molière. Foram vários, Troféu Imprensa, muitos mesmo. Você foi casada duas vezes com atores John Herbert e Carlos Zara — e com os dois você fez muitos trabalhos, pares românticos. Ter essa cumplicidade facilita o trabalho?Ter por parceria alguém que você conhece profundamente e que te conhece também profundamente, ou seja, usar a parceria não só na vida real como na profissional, é um privilégio, e eu tive esse privilégio.Atualmente na TV tem uma invasão de caras novas, de modelos atuando e às vezes sem tanta tarimba. Como é trabalhar com esse pessoal?Eu diria que isso não é atualmente, isso sempre teve e é realmente uma armadilha, digamos assim. Tanto no cinema como na TV, o ator corre o risco de cair nessa armadilha, que é essa questão de ficar siderado, ligado na imagem e esquecer de representar, ficar fazendo pose. Então a gente diz que isso é outra coisa, é manequim, não é ator. Mas isso sempre existiu. Mas, entre os jovens, que as vezes se pensa estarem invadindo terreno, têm alguns de muito talento. É muito diferente fazer teatro hoje e há 30, 40 anos?Teatro não está tão diferente porque teatro é eterno, sempre foi, tem os clássicos, tem os autores modernos como é o nosso, o peruano Adrianzén, teatro é o que sempre foi. O que está diferente é a linguagem da imagem por causa da informática, por causa dos efeitos especiais. Além da peça, que está em turnê pelo País, você está com outros projetos em vista?Este ano vou terminar fazendo a peça e cumprir várias solicitações da televisão, de reuniões, mas só. Você tem uma relação forte com Campinas...Muito forte, muito bonita. Carlos Zara, meu maridão, adorava recordar o tempo dele no (Colégio) Culto à Ciência. E tem muita gente da família aqui. Sinto a presença deles muito forte, sempre, e aqui mais ainda.

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