CADERNO C

A arte brasileira da xilotattoo vai aos EUA

A artista campineira Thais França viaja amanhã para participar da Tatoo Week New York, levando o inovador estilo de tatuagem feita com técnicas de xilogravura

Cibele Vieira/[email protected]
07/05/2025 às 16:14.
Atualizado em 07/05/2025 às 16:14
Thais França elabora tatuagens a partir de matrizes de xilogravura (entalhadas em madeira) e linogravura (esculpida em linóleo), usadas para ‘carimbar’ na pele, como se fosse um decalque (Divulgação)

Thais França elabora tatuagens a partir de matrizes de xilogravura (entalhadas em madeira) e linogravura (esculpida em linóleo), usadas para ‘carimbar’ na pele, como se fosse um decalque (Divulgação)

Tais França nunca imaginou que o reconhecimento de sua arte pudesse se dar aos 40 anos de idade, depois de um bom tempo de dedicação à maternidade. Pois foi o que aconteceu em dezembro do ano passado, quando a artista — nascida em Campinas e moradora de Sumaré — foi selecionada em um concurso cujo prêmio é a possibilidade de participação em todos os eventos (nacionais e internacionais) que ocorrerão este ano organizados pelo grupo Tattoo Week. É por isso que ela estará na edição do Tattoo Week NY, que ocorre de 9 a 11 de maio no coração de Nova Iorque (EUA), onde mostra sua inusitada arte brasileira, a xilotattoo. 

O evento reúne cerca de 500 artistas de todo o mundo e de diversos estilos e, entre eles, foram convidados dez tatuadores brasileiros que se destacam globalmente por sua originalidade. Esse time terá a missão de apresentar ao público internacional a inovação da arte da tatuagem 'made in Brazil', ocupando estandes patrocinados e concorrendo em diferentes categorias. 

Nesse palco de arte, criatividade e cultura, Thais França apresenta sua tatuagem feita a partir de matrizes de xilogravura (entalhada em madeira) e linogravura (esculpida em linóleo com acabamentos mais refinados) que é usada para "carimbar"na pele com tinta própria, como se fosse um decalque. Após essa aplicação única, a tatuagem é finalizada com o método tradicional que injeta a tinta por meio de agulhas finas. 

A ARTE DO CORDEL 

A arte da campineira é diferenciada pela técnica da xilotattoo. A artista pretende divulgar imagens da cultura popular brasileira por meio de algumas matrizes pré-esculpidas com desenhos de capoeira, galhos de café, obras do Aleijadinho, o personagem folclórico Boi Tatá, releitura de obra da Tarsila Amaral e até o desenho da capa do disco da Orquestra Armorial da década de 1970 (uma fusão de felino, água e cobra). 

A arte eternizada na pele ganha um upgrade com o trabalho de Thaís França, pois ao fazer a tatuagem a pessoa leva para casa a matriz do desenho, montada em uma espécie de estandarte fabricado por ela com o uso de juta e madeira reciclada, como uma peça de decoração exclusiva. Além das tatuagens, ela levará para o evento alguns cordéis do artista Samuel de Monteiro para divulgar a literatura de cordel que já foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. 

MÃE E ARTISTA 

A inspiração da artista veio do Movimento Armorial, fundado por Ariano Suassuna em 1970 com a proposta de realizar uma arte autêntica brasileira baseada nas raízes populares, principalmente do sertão nordestino. Seu trabalho abordava diferentes manifestações artísticas, como música, dança, literatura e a arte da xilogravura. 

Durante a pandemia, ela fez cursos de tatuagem e uma oficina com J. Borges (1935- 2024), artista, cordelista e poeta, considerado um dos xilógrafos mais famosos de Pernambuco. A partir de então, a xilotattoo (tatuagem feita a partir de uma escultura) passou a ser seu meio de sustento e alimento para a alma: "Trabalhar com isso é como se eu estivesse voltando a um lugar que nunca estive", garante a artista. Thaís França é mãe solo de uma jovem de 23 anos e de um menino de 14.

INVESTIMENTO ALÉM DA ARTE 

O convite para participar dos eventos da Tatto Week garante aos artistas um espaço no estande patrocinado, mas os custos com viagem e hospedagem correm por conta do participante. Por isso Thais criou uma vaquinha online para ajudar, mas arrecadou somente 1/10 do valor necessário, já que a preparação para a viagem também requer investimentos em documentação, aulas de inglês e outras despesas. 

Para viabilizar a viagem, a artista independente vendeu a kombi cor de rosa — batizada de Camila — que abrigava seu ateliê itinerante. Para ela, "o convite para participar desse tipo de evento é importante e vale muito a pena, pois dá uma visibilidade internacional à nossa arte". 

O trabalho da artista pode ser conhecido pelo Instagram @thaisfrancaxilotattoo

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