O mais recente romance de John Green (o mesmo de 'A Culpa é das Estrelas') patina na quase falta de assuntos: estreia nesta quinta-feira (9)
Cena do filme 'Cidades de Papel', que tem direção de Jake Schreier ( Divulgação)
Comecemos com um elogio: John Green tem inescapável apelo entre os jovens e faz por merecê-lo. A adaptação de 'A Culpa é das Estrelas' (Josh Boone, 2014) para a tela resultou num filme bem bacana — daí certa expectativa que cercava a estreia do novo livro do escritor americano levado para os cinemas, 'Cidades de Papel' (Paper Towns, Estados Unidos, 2015), de Jake Schreier, que estreia nesta quinta-feira (9). Margo Roth Spiegelman (Cara Delevingne), a paixão do protagonista Quentin Jacobsen (Nat Wolff), o chama insistentemente de “fofinho”. Pois esta é a melhor definição do filme. Sem o poderoso impulso dramático de 'A Culpa é das Estrelas', a mais recente adaptação de Green patina na quase falta de assuntos. Não que ele não os tenha; tem, contudo são frágeis demais. Quentin vive do amor platônico por Margo e, uma noite, esta invade o quarto dele e o desafia a participar de umas vinganças — completamente alopradas. E não tente achar verossimilhança nas sequências das tais vinganças. No dia seguinte ela desaparece e ele terá de procurá-la usando um livro do poeta Walt Whitman — ela deixou pistas no livro (recurso mais que manjado). O restante é a busca do rapaz pela garota. Entendemos que se trata de uma produção para adolescentes e, portanto, possui características próprias na forma de contar a história, nos temas recorrentes (ansiedade pelo sexo, baile de formatura, entre outros), na abordagem politicamente correta e na concepção certinha e clean. Até mesmo a personagem misteriosa e fora dos padrões sociais, Margo, tem tratamento de luxo. Não se invade a privacidade dela nem é desancada porque não se encaixa nos padrões e nos planos de Quentin, que sonha fazer universidade, casar, ter filhos; ela, ao contrário, abomina tais planos. Margo tem razão: Quentin é mesmo gracioso. Comportado, bom menino, animado, estudioso; enfim, o filho que toda mãe adoraria ter. Mas é só, porque o fio de história do roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber não sustenta o longa.Daí a sensação de que não acontece nada muito importante. Vamos acompanhando a relação da dupla e a de três amigos adolescentes — além de Quentin, há Ben (Austin Abrams ótimo no papel e responsável pelo alívio cômico) e Radar (Justice Smith). E tentamos embarcar na tal busca um tanto desinteressante, e lá pelas tantas passamos a ver um road movie (antes, parecia um roteiro de aventuras perigosas). É natural que um filme para adolescentes tenha leveza, assim como gracinhas e piadas. E elogiável, neste caso, que os diálogos sejam bons, afiados e com boas tiradas. Ainda assim é pouco para dar consistência ao que vemos na tela, em que pese a simpatia que Quentin desperta. Ao final, a impressão de Margo sobre Quentin e uma imagem entregue pelo próprio filme resumem a ópera. Quando com medo, à noite, Radar informa que dorme com um ursinho de pelúcia. Sem um grande drama ou um conflito forte, os produtores se contentaram em fazer um produto com tudo no lugar certo e milimetricamente pensado para alcançar o público desejado (negócios, afinal). O resultado é um filme fofinho feito ursinho de pelúcia.