OSCAR 2024

A aclamação de Oppenheimer

Christopher Nolan e sua equipe arrebatam sete estatuetas no Oscar 2024; cineasta e cineclubista de Campinas analisam o resultado da premiação

Aline Guevara/ [email protected]
12/03/2024 às 11:56.
Atualizado em 12/03/2024 às 11:57
A cinebiografia sobre “o pai da bomba atômica” venceu 7 das 13 categorias nas quais competia (Divulgação)

A cinebiografia sobre “o pai da bomba atômica” venceu 7 das 13 categorias nas quais competia (Divulgação)

A noite de domingo foi uma celebração do cinema espetáculo de “Oppenheimer”. Filme que fez parte do maior fenômeno cinematográfico de 2023, o Barbenheimer – ele estreou nos cinemas junto com “Barbie” e arrecadou quase 1 bilhão de dólares nas bilheterias –, foi também o principal vencedor da 96ª edição do Oscar. A cinebiografia sobre “o pai da bomba atômica” venceu 7 das 13 categorias nas quais competia: Melhor Filme, Direção para Christopher Nolan, Ator para Cillian Murphy, Ator Coadjuvante para Robert Downey Jr., Trilha sonora, Fotografia e Montagem.

“De fato, é um filme que merece todas as estatuetas. Cinematografia muito competente, com atuações precisas que justificam os prêmios de Robert Downey Jr. e Cillian Murphy. O Nolan atualmente é o melhor cineasta do mundo, está em boa forma e o filme tem isso muito bem impresso”, explica o cineasta campineiro Guilherme De Lucca. Ele admite que não é fã do tema bélico, “mas não dá para negar que cinematograficamente é uma obra prima e vai ficar pra história do cinema.” Guilherme confessa que sua torcida era para “Assassinos da Lua das Flores” e que desejava ver Martin Scorsese vencendo Melhor Direção. O filme sobre o genocídio do povo indígena Osage, que competia em 10 categorias, saiu da cerimônia sem nada. “Na minha visão, este é um filme gigantesco. Mas o Nolan merecia, pelo conjunto da obra, também pelo marketing feito em cima de Oppenheimer”, completa o campineiro.

Este ano, a cerimônia começou uma hora mais cedo, às 20h no horário de Brasília, e teve a apresentação de Jimmy Kimmel pela segunda vez consecutiva. O segundo maior indicado também foi o segundo maior vencedor, “Pobres Criaturas”. Emma Stone desbancou Lily Gladstone e Sandra Hüller em uma competição acirrada na categoria de Melhor Atriz, e foi coroada pela performance de Bella Baxter, um dos quatro prêmios do filme que ainda conquistou Maquiagem e Cabelo, Figurino e Direção de Arte.

MULHERES NO OSCAR 2024

A comunicóloga e curadora no MIS Campinas à frente do cineclube "Mulheres na Direção”, Nayara Lopes, aponta que nesta edição, “pela primeira vez na história do Oscar, três longas dirigidos por mulheres concorreram a Melhor Filme”: “Anatomia de uma Queda”, “Barbie” e “Vidas Passadas”. Como sua área de estudo dentro do cinema, a cineclubista analisou a presença das artistas no Oscar 2024. Ela também não viu seu favorito vencer o principal prêmio, mas reconhece a vitória de Oppenheimer: “Meu coração batia por ‘Anatomia de Uma Queda’, com a produção de Maria-Ange Luciani e David Thion, mas também achei merecido o trabalho de Emma Thomas como produtora de Oppenheimer”.

Nayara celebrou a vitória de Da'Vine Joy Randolph, na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel em “Os Rejeitados” (“para mim, um dos melhores filmes da temporada”), que discursou bem emocionada ao falar sobre resiliência e confiança. Ela revela alguns dos outros trabalhos favoritos feitos por mulheres: o documentário “A Memória Infinita”, de Maite Alberdi; o curta-metragem de animação Pachyderme, de Stéphanie Clément; o curta-metragem “Red, White and Blue” de Nazrin Choudhury; a montagem de Jennifer Lame por “Oppenheimer”; o figurino de Jacqueline Durran por “Barbie”; e Kiyoko Shibuya por “Godzilla: Minus One”, que estava no time responsável por efeitos visuais.

Ao fim da cerimônia, Nayara fez o levantamento: “13 mulheres foram premiadas, uma a mais do que em 2023, mas quatro a menos do que em 2021, quando foram 17”. Ou seja, há o que celebrar, mas existe muito espaço ainda para ser ocupado. Ela lembra que diretoras com grandes trabalhos não foram lembradas na categoria de Melhor Direção, como Celine Song e Greta Gerwig, e que Sofia Coppola, que fez “Priscilla”, teve seu filme completamente ignorado pela premiação.

MELHORES MOMENTOS

Um dos momentos mais esperados da noite foi a performance de Ryan Gosling na música “I’m Just Ken”, que seu personagem performa em “Barbie” e que estava indicada para Melhor Canção Original. Ela não venceu o prêmio, mas fez a plateia levantar-se das cadeiras na apresentação que ele fez com seus colegas de elenco e com Slash na guitarra, bastante carismática e divertida. Além dos astros e estrelas indicados, a cerimônia contou com uma presença especialíssima: Messi, o cachorrinho Border Collie de “Anatomia de Uma Queda”, elogiadíssimo por sua participação, esteve em Los Angeles, mas a aparição que foi ao ar na transmissão oficial foi pré-gravada, com poucas pessoas no teatro, para não estressar o pet.

Justine Triet venceu a categoria de Roteiro Original pelo francês “Anatomia de Uma Queda”, enquanto “Ficção Americana”, de Cord Jefferson, conquistou como Roteiro Adaptado. Em Melhor Animação deu Hayao Miyazaki com “O Menino e a Garça” (desbancando o favorito “Homem-Aranha Através do Aranhaverso”).

A cerimônia teve dois fortes discursos políticos buscando paz. Um foi do diretor britânico e judeu Jonathan Glazer, de “Zona de Interesse” (vitorioso em Filme Internacional e Som), que condenou os ataques ao povo palestino. “Nosso filme mostra como a desumanização leva ao pior cenário. Moldou todo nosso passado e nosso presente. Sejam as vítimas do 7 de outubro em Israel ou as do ataque em andamento em Gaza, todas são vítimas desta desumanização. Como vamos resistir?”, questionou o cineasta. O diretor ucraniano Mstyslav Chernov, do documentário “20 Dias em Mariupol”, sobre os primeiros dias da invasão russa em seu país, afirmou que “queria nunca ter feito este filme” e que “trocaria o prêmio pela Rússia nunca ter atacado a Ucrânia”.

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