SUZAMARA SANTOS

Entre amigos

Suzamara Santos
11/10/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 02:24
ig - Suzamara Santos (CEDOC)

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Na semana passada, o amigo Luiz Meneguetti me encaminhou um artigo que ele havia recebido de outro amigo de Portugal. O texto, da revista Wine, listava dez mitos sobre o vinho ainda muito propalados mundo afora. Alguns deles foram ditos e repetidos aqui, outros nem tanto e há os esclarecimentos mais específicos. No geral, são pílulas que qualquer amante de vinho pode ingerir, pois só fazem bem. Vou compartilhar aqui os que mais me chamaram a atenção, tomando a liberdade de sintetizar e adequar a linguagem original para o português do Brasil. Acompanhe: O vinho, quanto mais velho, melhor.Infelizmente, são poucos os vinhos que envelhecem bem e ainda mais raros os que conseguem envelhecer com saúde. A quase totalidade dos vinhos mundiais – espumantes, brancos, rosés e tintos – é feita para ser consumida num curto prazo de tempo. A maioria dos rosés tem período de vida útil de um ano e os brancos, de dois anos, enquanto que nos tintos esse prazo se alarga para quatro ou cinco anos, no máximo. Além disso, sabendo que as condições de guarda dos vinhos raramente são satisfatórias, não espere muito tempo para abrir as suas garrafas. Os poucos vinhos elaborados para durar anos, décadas, são rótulos excepcionais e, geralmente, muito caros.  Um Reserva será sempre melhor do que um vinho comum. As palavras Reserva, Colheita Seleccionada ou Garrafeira são garantias de qualidade.Na verdade, estes adjetivos não têm relação direta com a qualidade de um vinho. As designações Reserva e Garrafeira são referências legais que determinam o período mínimo de estágio em barricas e, posteriormente, em garrafa. Indicações como Colheita dos Sócios, Colheita Seleccionada, Selecção Especial e Reserva Pessoal são opções de marketing e não garantem se o vinho é bom.  Um vinho DOC será sempre melhor do que um vinho regional.Mais uma vez, não é verdade. Para que um vinho possa ostentar o nome de uma denominação de origem controlada (DOC) terá de obedecer a regras claras quanto ao uso de castas autorizadas e recomendadas para essa mesma DOC. Se, por exemplo, um produtor recorrer a variedades não contempladas para determinada região, mesmo que melhores, ficará impedido de usar a sigla.  Os vinhos mais caros são sempre superiores.Não. Os preços dos vinhos são determinados não só pelos custos de produção, mas também pela sua escassez, pelo fator moda, pelo eventual empolamento feito pelos divulgadores e por boas campanhas de promoção. No entanto, é verdade que os bons vinhos são usualmente mais dispendiosos na elaboração. Melhores barricas, baixa produção, mais mimos, rolhas de qualidade e bons equipamentos implicam em custos mais altos. Mas, mesmo com tudo isso, não há garantias de que o produto final seja superior ou sequer bom.  O vinho rosé é uma mistura de vinho branco com vinho tinto.Não. O rosé é feito a partir de uvas tintas. A polpa da quase totalidade das uvas tintas é incolor, incapaz de acrescentar pigmentação ao mosto. São as cascas, ou melhor, os corantes das cascas das tintas que dão cor à bebida. Quanto maior for o contato com a casca durante a maceração, mais intensa será a cor resultante. O rosé passa pouco tempo de maceração em contato com as cascas e, portanto, não extrai muita matéria corante. O vinho resultante possui, assim, uma cor mais aberta e clara.  O vinho branco tem de ser produzido com uvas brancas.Não. O vinho branco pode ser elaborado a partir de uvas tintas. Como acabamos de ver, a polpa das tintas não tem matéria corante e, portanto, o sumo resultante é incolor. Se as uvas forem prensadas sem contato com as peles, o vinho será branco ou levemente salmonado. Um exemplo de branco obtido de uvas tintas é o champanhe, em que as castas pinot noir e pinot meunier, ambas tintas, são, por regra, vinificadas em branco, dando origem a um blanc de noirs.  Os verdadeiros grandes vinhos só melhoram com a idade.Não. Os bons vinhos são sublimes desde o nascimento e não é por um milagre tardio que se transfiguram de bestas em bestiais. Claro que os vinhos que envelhecem bem poderão ser duros e severos enquanto jovens, mas a qualidade tem de se mostrar desde o primeiro instante. A história do patinho feio não tem cabimento no mundo do vinho. Um mau vinho nunca se transformará num bom vinho. Saúde!

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