Em 12 anos, matrículas mais que dobraram na RMC; índice supera as médias estaduais e federal
A universitária Fabíola Costa, de Campinas, que passou em jornalismo na Unesp, em Bauru, mas desistiu e agora foi aprovada na USP (Leandro Ferreira/AAN)
O número de estudantes matriculados em cursos superiores de instituições públicas e privadas na Região Metropolitana de Campinas (RMC) mais que dobrou em 12 anos. Os dados são de uma pesquisa feita pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) que será divulgada hoje. O estudo mostra que em 2000, 53,4 mil alunos da região estavam matriculados em algum curso universitário presencial no País. Em 2011, esse número saltou para 117,8 mil, aumento de 120%. O índice é superior às médias estadual e nacional, que cresceram, respectivamente, 90% e 114%.
A pesquisa do Semesp ainda mostrou que os cursos de administração, Direito, pedagogia e engenharia de produção lideram as matrículas nas faculdade privadas do País. Nas públicas, engenharia mecânica, análise de sistemas, química e medicina são os mais procurados. O levantamento reúne dados das instituições de ensino associadas ao Semesp, do Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho.
De acordo com Rodrigo Capelato, diretor executivo do sindicato, os números da RMC merecem atenção. “O aumento na região está acima do Estado e do País, o que mostra um bom desenvolvimento em termo de expansão do Ensino Superior.”
A maior fatia das matrículas no Ensino Superior está concentrada nas faculdades privadas, com 86% dos alunos. Para o pesquisador, os dados são reflexos da economia e do desenvolvimento da região.
Entre 2000 e 2011 o número de instituições com cursos superiores dobrou no Brasil: de 1.180 para 2.365. O Estado manteve a tendência de crescimento, saindo de 373 faculdades em 2000 para 616 em 2011. A RMC ganhou 19 faculdades ou universidades — eram 20 em 2000 e 39 em 2011.
Além de tabular dados concretos, a análise também fez projeções de matrículas para 2014. De acordo com o estudo, 12,7 milhões de brasileiros estarão matriculados em algum curso de graduação no ano que vem, seguindo a tendência histórica. O Estado de São Paulo deverá ter 1,7 milhão de alunos matriculados em algum curso de Ensino Superior em 2014 — 1,5 milhão apenas em universidades particulares, crescimento esperado de 13,3%. Na RMC, a expectativa é que em 2014, 136 mil pessoas estejam matriculadas, um crescimento de 15,2%, em relação a 2011
Foto: Leandro Ferreira/AAN Fabiano José da Silva já fez curso presencial mas agora optou pelo ensino a distância para se especializar em tecnologia da informação Mas, segundo Capelato, as projeções podem surpreender até os pesquisadores menos otimistas, que se baseiam no crescimento do PIB e da população para prever os números. “É até um pouco conservadora essa expectativa de crescimento”, disse, justificando que os incentivos federais, como o Financiamento Estudantil (Fies), devem contribuir para alavancar as matrículas nos próximos anos. “Esse financiamento foi relançado em 2010, mas explodiu em 2012. Hoje são 760 mil contratos, e deve chegar a 2 milhões em 2014”, afirmou.
Considerando esse fator, é possível que o crescimento na RMC ultrapasse os 20%.
Índice de evasão também cresce
A taxa de universitários que não conclui o curso no formato presencial em instituições privadas também chamou atenção dos pesquisadores. Na RMC, o índice em 2011 foi de 28,2%. O número, no entanto, ficou abaixo dos índices nacionais e estaduais, que tiveram taxa de evasão de 35,9% e 35,5% respectivamente.
Para o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, a evasão é um dos principais desafios das instituições. “É um ponto bem complicado. Os nossos números não são muito diferentes de outros países”, indicou Capelato, que elencou alguns fatores que podem explicar o alto índice de desistência. “A questão financeira não é, como a maioria acredita, o principal motivo. Hoje há incentivos do governo e das próprias faculdades para manter o aluno”, disse o professor. No Brasil, 19,8% dos estudantes que entram em universidades públicas não concluem o curso. No Estado o número é um pouco menor: 17,6%.
“Acredito em dois pontos cruciais para a evasão: um que o aluno vem com formação do Ensino Básico ruim, e chega no Ensino Superior sem conseguir acompanhar o curso, isso acontece muito nas engenharias. Outro ponto é a falta de vocação. Acaba sempre se matriculando nos cursos tradicionais e com maior oferta de vagas, mas vê que não tem interesse.”
O diretor do Semesp disse que medicina é o curso com menor evasão, justamente pela questão da vocação. “O estudante quer ser médico desde criança, está muito vocacionado para aquilo”, enfatizou.
A universitária Fabíola Costa, de 19 anos, é a prova disso. Em 2011 ela passou para o curso de jornalismo na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Fez a matrícula e se mudou para Bauru. Desistiu do curso após assistir apenas uma aula.
“Eu estava um pouco incerta se queria mesmo morar lá. Foi a distância, as dúvidas sobre as oportunidades para a carreira, além disso tinha acabado de sair do colégio e sempre quis estudar na USP (Universidade de São Paulo)”, disse a jovem, que voltou a Campinas, fez mais um ano de cursinho e foi aprovada para a USP, também em jornalismo.
“Sempre quis continuar na área, mas em São Paulo”, contou Fabíola, que não precisou se mudar para a Capital e viaja todos os dias para estudar.
Formação a distância ajuda a elevar números
Em um ano, número de alunos aumentou 11%, chegando a 11 mil
O índice de matrículas no ensino a distância (EAD) na RMC registrou aumento de 11,1% em um ano, entre 2010 e 2011, quando 10.913 pessoas estudavam nesses cursos. “O EAD tem sido grande propulsor para melhorar as taxas de matriculados, porque ele acaba sendo solução para quem precisa trabalhar, que já é casado, tem família. A grande realidade no Brasil é de pessoas que saem do Ensino Médio e têm que trabalhar e o ensino a distância é uma alternativa”, disse Rodrigo Capelato, diretor do Semesp.
Foi por todos esses motivos que o analista de microinformática Fabiano José da Silva, de 31 anos, decidiu ingressar em um curso a distância. Ele se formou em economia em um curso presencial, mas optou por estudar em casa quando foi se especializar em tecnologia da informação. “Quando fiz a graduação de segunda a sexta, todos os dias, era maçante. Hoje tenho três filhos e agora consigo ir para a casa, um dia ou outro tiro para estudar, é muita diferença”, disse.
Mas o ensino em casa exige atenção, alerta Silva. “O aluno tem que reservar um tempo. O grande fator do curso a distância é que depende mais do aluno. Tem que ter responsabilidade, se policiar.”
Os números da evasão no ensino a distância mostram alto índice de desistência. Em cada 100 alunos da RMC, 53 abandonam a graduação antes da conclusão. O levantamento mostra que no Brasil, 41,7% das pessoas que começam um curso param antes do fim. No Estado de São Paulo ainda mais gente abandona os cursos a distância: 47,2%.
As instituições públicas que oferecem esse tipo de formação também veem taxa de evasão maior: 29,1% dos alunos que iniciam cursos no formato EAD no Estado não se formam. No Brasil, o índice é de 23,6%.
Daniel Galelli, coordenador geral da graduação do grupo Ibmec, Faculdade Metrocamp, afirmou que a evasão é dividida em motivos financeiros e pedagógicos. “Atuamos nas duas frentes. Temos equipes para acompanhar o aluno, oferecer bolsas em alguns casos ou acompanhamento, se o problema diz respeito à evasão pedagógica, como alguma dificuldade no curso, ou mudanças de emprego ou de cidade”, explicou.
Para o coordenador de EAD da PUC-Campinas, Nelson Mendes, a metodologia de ensino a distância deve continuar em alta. “A tendência de crescimento da EAD é um fenômeno não apenas local ou regional, mas mundial. Há quatro principais fatores que estão impulsionando essa modalidade de educação: a aplicação intensiva da tecnologia da informação e comunicação no processo de ensino; o acesso crescente da população aos computadores e à internet; a facilidade do jovem em usar os recursos tecnológicos e as restrições limitadoras da mobilidade, tais como o trânsito, custos e dificuldades para estacionamento, segurança, tempo disponível para estudo, etc”, exemplificou.