FABIANA BONILHA

Ensinar e aprender: os dois pilares da inclusão

Do Correio.com
28/05/2015 às 18:05.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:14

Nossos professores dispõem de todas as ferramentas necessárias para ensinar, mas não têm disponíveis as ferramentas de que precisamos para aprender. O aprendizado é um processo individual, cujas fases são pessoais e intransferíveis.Cada um aprende de um jeito, dentro de um ritmo e à sua maneira, não cabendo ao professor fazer isto por nós. Tal concepção sobre o aprendizado se aplica a todas as pessoas, inclusive àquelas que têm alguma deficiência.Ao abordarem a inclusão, professores e especialistas recorrentemente se preocupam, de modo por vezes exagerado, com a forma pela qual alunos com deficiência podem assimilar os conteúdos por eles ensinados. Ao transparecerem este tipo de preocupação, e, pior do que isso, ao utilizarem-na como um subterfúgio para resistirem à proposta da inclusão, estes professores saem do papel de educadores, e transcendem, inadequadamente, a incumbência de ensinar.Em uma definição simples e despretensiosa, não embasada em qualquer autor ou referencial teórico, ensinar significa abrir caminhos para que os alunos, cada um a seu modo, possam aprender. Ensinar não pode ser um ato discriminatório, isto é, não se pode abrir o caminho a uns e obstruir a trilha de outros. Ensinar é um ato universal, que alcança os alunos em todas as suas diferenças e singularidades.Ao estabelecer contato com o professor, cada estudante, de acordo com suas características, tira o melhor proveito do que é bem ensinado! Por isso, pouco importa se o aluno tem alguma deficiência, e poucas deveriam ser as preocupações em relação à presença destes alunos em sala-de-aula.Se o professor se sentir efetivamente responsável por todos os seus pupilos, sem distinção nem discriminação, suas aulas bem dadas e estruturadas irão atingir a todos, e é isso que importa! Os alunos com deficiência não merecem que se tenha para com eles uma preocupação excessiva e à parte! Aliás, em nome deles, peço aos professores que tirem destes alunos este peso! Que deixem de tratá-los como alunos especiais, diferentes e destacados. Deixem-nos serem alunos simplesmente, na mesma medida e intensidade que os outros o são! Libertem-nos deste terrível estigma de “alunos da inclusão” e permitam a eles estudar em paz!Em minha trajetória escolar, eu sempre soube que a grande maioria de meus professores nunca havia dado aula para uma pessoa cega. Eles, como legítimos videntes, não faziam a menor ideia de como era possível um cego assimilar conteúdos que eles mesmos haviam aprendido com o uso da visão. Diante disso, o problema era meu! Cabia única e exclusivamente a mim criar e desenvolver metodologias que me possibilitassem a apropriação das disciplinas, a partir do bom ensino que eu recebia!Nas aulas de Matemática, por exemplo, os alunos videntes enxergavam na lousa um gráfico ou uma tabela que significava uma representação esquemática e intuitiva de um dado ponto. Mas eu não enxergava! E então, eu precisava pôr a cabeça para funcionar e compreender o mesmo ponto de outro jeito! E não há nada sobrenatural nisso!Os professores ensinam, e os alunos aprendem! Independentemente se o aluno é cego, surdo, cadeirante, ou tenha qualquer limitação física e sensorial, seus professores que ensinam de verdade e que são realmente comprometidos com a Educação Inclusiva serão para ele importantes por toda a vida!

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