PROFISSÕES

Engenheiro de alimentos agrega valor a comestíveis

Profissional é peça-chave para turbinar exportações e balança comercial brasileira

Cecília Polycarpo
cecília.cebalho@rac.com.br
07/02/2014 às 15:56.
Atualizado em 26/04/2022 às 22:16

Com faturamento anual na casa dos R$ 430 bilhões, a indústria de alimentos brasileira é um dos setores fabris menos vulneráveis a crises internacionais. Isso porque, apesar do momento delicado da produção mundial, toda a população precisa comer. Empresas nacionais de comestíveis de todos os tipos, porém, querem apoio governamental para aumentar as exportações: hoje, do total produzido, menos de 20% é vendido para outros países. Apesar de o Brasil ser considerado um dos grandes celeiros do mundo, o País exporta essencialmente alimentos in natura, como grãos de soja e café, com pouco valor agregado.Por isso, o engenheiro de alimentos, que tem técnica e conhecimento para fabricar, conservar, armazenar e transportar produtos comestíveis industrializados ou processados, é considerado um profissional-chave para turbinar a balança comercial brasileira. Além disso, o mercado para o engenheiro se mantém graças às mudanças de hábitos alimentares dos brasileiros, que buscam cada vez mais qualidade de vida e produtos diferenciados — uma demanda de todas as classes sociais.É o engenheiro de alimentos que atua em escala industrial, cuidando de todas as etapas de preparo e conservação dos produtos de origem animal e vegetal. Também seleciona a matéria-prima, como leite, carnes, peixes, legumes e frutas e define a melhor forma de preservar seus derivados, projetando as embalagens.O coordenador da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Flávio Luis Schmidt, explicou que o engenheiro ainda trabalha com o desenvolvimento de formulações e tecnologias para determinar o valor nutricional, o sabor, a cor e a consistência de comestíveis industrializados. “Mas não deve ser confundido com o nutricionista. Apesar de ter o conhecimento de planejamento alimentar, seu foco é mais na conservação e apresentação do produto, além também de ser responsável por toda parte de controle de qualidade”, disse.Segundo Schmidt, o bacharel em engenharia de alimentos está apto ainda a fazer a venda técnica dos produtos, por ter profundo conhecimento de sua fabricação e propriedades. Ele ainda negocia insumos, ingredientes e equipamentos relacionados à produção. Profissionais da área têm se esforçado também para entrar em áreas institucionais, já que são eles os funcionários com mais conhecimento técnico para gerenciar grandes supermercados ou varejões. “Hoje, os engenheiros têm conseguido espaço em redes de fast food, por exemplo. Mas ainda são menosprezados no setor agropecuário, que precisa se profissionalizar para competir lá fora”, afirmou o coordenador.O mercado de trabalho está vinculado à situação econômica do País, de acordo com Schmidt, mas há sempre demanda, principalmente para quem está disposto a sair do Sudeste e buscar boas vagas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, regiões para onde as grandes empresas de alimentos têm migrado nos últimos anos. “Quem tiver disponibilidade para mudanças, não fica desempregado nunca nessa área”, afirmou. Instituições públicas também têm buscado contratações na pesquisa e desenvolvimento de novos alimentos e para a normatização e fiscalização da área.Criação de embalagensO estudante de Campinas Marcelo Feliciano, de 17 anos, já quis prestar vestibular para engenharia química, mas optou por alimentos porque a área estuda também biologia. Antes de se decidir, conversou com amigos que já faziam o curso da Unicamp. “Percebi que era o que queria mesmo. Minha intenção é trabalhar com desenvolvimento de embalagens. Além de Unicamp, Marcelo tentará uma vaga na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e na Universidade Federal de Viçosa.Os dois primeiros anos do curso são de formação básica, com aulas de matemática, química, bioquímica e termodinâmica. Depois, o currículo enfatiza disciplinas mais técnicas, ligadas à produção e conservação dos vários tipos de alimentos. Os conteúdos nas áreas de economia e administração dão fundamento ao futuro profissional. O curso dura em média cinco anos.Ital é pioneiro Campinas é sede de um dos principais órgãos de pesquisa de desenvolvimento de comestíveis do País, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. O centro atua na inovação e difusão do conhecimento nas áreas de embalagem e de transformação, conservação e segurança de alimentos e bebidas.Fundado em 1963, como Centro Tropical de Pesquisas e Tecnologia de Alimentos (CTPTA), o instituto tem unidades especializadas em carnes, cereais, chocolate, balas, confeitos, pães, laticínios, frutas, hortaliças, engenharia de processos industriais e tecnologia de pós-colheita. Já a área de ciência e qualidade abrange laboratórios de análises químicas, físicas, sensoriais e microbiológicas. A área de embalagem, por fim, possui setores especializados em materiais metálicos, vidro, plástico, celulósicos e de distribuição e transporte.O diretor-geral do Ital, Luís Madi, se formou na segunda turma de Engenharia de Alimentos da Unicamp. De Mirassol, Madi teve contato com a profissão através de um primo, que já fazia o curso em Campinas. “Eu queria fazer uma engenharia e meu primo falou que o setor de alimentos ia crescer muito no País. Me interessei e entrei para a faculdade justamente quando o Brasil começou a industrializar a área. Nessa época, o profissional formado pela Unicamp não tinha nenhuma concorrência”, disse o diretor.Madi foi recrutado pelo instituto logo após se formar para trabalhar na área de embalagens. Ele conta que, à época, o setor tinha apenas três funcionários. Hoje, 70 pessoas trabalham no departamento. “A pesquisa era mais voltada para a embalagem metálica, que engatinhava no mercado naquele tempo. Os testes eram simples e os recursos tecnológicos limitados”, lembra. Madi foi fazer mestrado na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e voltou para ser chefe do setor. “Depois de muito tempo no centro de embalagens, virei diretor-geral. Tive boas oportunidades e soube aproveitá-las.” 

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