Enforcado?

Gritaria de final de Copa do Mundo no Teatro Municipal “Carlos Gomes”. Era a molecada se esbaldando com o ator Carlito Maia, encarnando Tiradentes, a surrar o personagem de Joaquim Silvério dos Reis. Pelo menos até ali, a Inconfidência estava vingada. Bom tempo depois, um estudante de História da Puccamp jurava defender a tese de que o mártir não fora enforcado. No Teatro de Arena, a plateia quase esfola o traidor, na pele do maravilhoso Renato Consorte, quando ele ‘entregou’ o Tiradentes David José para a Coroa.Interessante esse apego do povo ao único herói de verdade do Brasil. Tratado com carinho, até piada fazem com ele. Na falta de pinturas da época – se houve, Portugal acabou com todas – a mais famosa é uma imagem que se aproxima da de Cristo. E quem não dobrou a famosa cédula de Cr$ 5 mil, até fazer o desenho de seu peito se parecer com a braguilha aberta de um qualquer?A nova versão, bem engendrada, está no site da Academia Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte, atribuída ao ‘rábula em direito’ Guilhobel Aurélio Camargo. Às folhas tantas, ele conta mais ou menos assim: “Ele estava muito bem vivo, um ano depois, em Paris. O feriado de 21 de abril é fruto de história que criou Tiradentes como bode expiatório, que levaria a culpa pelo movimento da Inconfidência. Quem morreu no lugar dele foi um ladrão chamado Isidro Gouveia, em troca de dinheiro para sua família.”.Além da definição conhecida, pergunto eu: “bode expiatório” é outra graduação da maçonaria ou nova piada de que Tiradentes foi maçom? “No livro ‘Narrativa da Perseguição’, de 1811, Hipólito José da Costa cita a diferença física de Tiradentes com o enforcado em 21 de abril. O escritor Martim Francisco Ribeiro de Andrada III diz em ‘Contribuindo’, de 1921, que ninguém lhe viu o rosto.”. Guilhobel continua: “O corpo do ladrão foi esquartejado e os pedaços, espalhados pela estrada até Vila Rica. A cabeça não foi encontrada. Sumiram com ela para não descobrirem a farsa.”. Mais: “Em1969, o historiador Marcos Correa estava em Lisboa quando viu fotocópias de uma lista de presenças da galeria da Assembleia Nacional francesa de 1793. Correa pesquisava sobre José Bonifácio de Andrada e Silva e junto aparecia a de um certo Antônio Xavier da Silva. Correa era funcionário do Banc o do Brasil, formado em grafotécnica e estudara muito a assinatura de Tiradentes. Concluiu que as semelhanças são impressionantes.”Resumo da ópera:14 anos depois, em 1806, Tiradentes voltou ao Brasil, abriu botica na casa da namorada Perpétua Mineira, na rua dos Latoeiros (Gonçalves Dias), e morreu em 1818.Fui atrás do fim do traidor Silvério. Morreu um ano depois, diz o historiador Manuel de Jesus Martins, no Maranhão, que o abrigou como coronel Agregado do Regimento de Milícias, com patente assinada pelo Príncipe Regente (d. João VI!), faturando 200 mil reais por ano! E teve o topete da peruca de pedir para o filho Luís José dos Reis Montenegro, de cinco anos (!), a patente de cadete de Regimento de Linha e um soldo a ser estudado.Pregado no poste: “Dividiu monumento com a família Sarney?”