O passeio pelo saguão é uma viagem deliciosa por cheiros e sabores. A palestrante detalha as propriedades medicinais das ervas. Pelos corredores, há bancas forradas com cremes analgésicos, óleos cicatrizantes, manteigas, chás especiais. Enfim, o evento é programa para adeptos da homeopatia e da alimentação natural. E já passaram por lá centenas de visitantes: médicos, enfermeiros, terapeutas, produtores rurais... Gente que preserva uma sabedoria popular que, de geração para geração, mostra que a cura para a doença pode estar ali, no canteirinho cultivado no quintal.A Semana de Fitoterapia Professor Walter Radamés Accorsi é promovida pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), instituição pesquisa vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.No evento, que neste ano chega à sua 13ª edição, se debate a prescrição multidisciplinar e segura dos produtos naturais nos tratamentos de saúde. As pesquisas foram apresentadas, desde a abertura, nos auditórios do Instituto Agronômico (IAC) e da própria Cati, em Campinas. Incentivar A proposta essencial do encontro é estimular e inspirar profissionais do setor, estudantes e a população em geral a recorrerem a plantas medicinais de maneira segura, com respaldo da legislação. "A função terapêutica das plantas é reconhecida, cientificamente comprovada", afirma Maria Cláudia Silva Garcia Blanco, engenheira agrônoma da Divisão de Extensão Rural da Cati. A semana de debates, fala, tem o objetivo de incentivar o uso dos fototerápicos na rede pública de Saúde. Hoje em dia, diz Maria Cláudia, o acesso á medicina natural é privilégio de um grupo pequeno de cidadãos. A produção industrial em escala, hoje em dia, diminui o preço dos medicamentos alopáticos, que por isso são mais consumidos. Os laboratórios que recorrerem à fitoterapia são menores, e por conta disso precisam praticar preços maiores. A própria Prefeitura de Campinas, fala, mantém desde 2004 uma farmácia de manipulação de fitoterápicos. "É um segmento que precisa ser descoberto, valorizado, ampliado, popularizado", fala. Comida, arte, filosofia Quem já passou pela Cati se deliciou com as mesas tomadas por patês, bebidas e biscoitos preparados com ervas. A biomédica Heloísa Vilanova mostrava as propriedades de uma manteiga sem lactose servida com mel. No Jardim dos Sentidos, os visitantes de olhos vendados passeavam entre as plantas aromáticas: hortelã, orégano, bálsamo, arruda, capim-limão, manjericão, lavanda, sálvia, alecrim... Os ouvidos eram brindados com a música instrumental leve.Ali ao lado, a culinarista Sirlei Maiorano e a professora universitária Michelle Jorge falavam sobre os deliciosos pãezinhos feitos com ora-pro-nóbis, e sobre as propriedades terapêuticas do chá feito com uma flor, o ibisco. No pátio externo, as enfermeiras Ivanil Lima e Geni Freitas Gomes, voluntárias de terapias integrativas, apresentavam óleos curativos feitos com ervas. Várias culturais A Cati virou um espaço de exposição para artigos indígenas ou produtos da religiosidade oriental. Pelas bancas se espalhavam curandeiros, líderes espirituais, benzedeiras. A manhã toda foi marcada por apresentações artísticas e corporais, ao mesmo tempo que no auditório fechado (e lotado), a palestrante Eloísa Magalhães falava da saúde pregada pela filósofa europeia Hildegarda de Bingen, que alia a alimentação natural à prática do perdão, aos fim dos receios e das culpas. A Semana de Fitoterapia termina nesta sexta-feira (17). Os visitantes poderão conferir de graça as bancas de produtos naturais na Cati. Os estudantes vão participar de visitas à Botica da Família a ao Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que desde os anos 80 produz pesquisas na área. OMS A Organização Mundial de Saúde (OMS), há mais de 30 anos lançou um programa com o objetivo de avaliar os métodos de medicina popular, reconhecendo as plantas medicinais como alternativa medicamentosa no tratamento de doenças. Em Campinas, o incentivo à fitoterapia vem desde 1990, quando o centro de saúde de Joaquim Egídio foi usado em um projeto-piloto que criou um horto de plantas medicinais, com cerca de 60 espécies. Desde 2004, o Município mantém uma farmácia de manipulação que ordena a produção e a distribuição de medicamentos fitoterápicos. A "Botica da Família" funciona em um imóvel do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), e emprega uma equipe de farmacêuticos e técnicos.