ANTONIO CONTENTE

Emoções de tempos eleitorais

22/10/2012 às 00:10.
Atualizado em 26/04/2022 às 20:08

Não é incomum que num processo eleitoral reflexos francamente óbvios para análises e reflexões passem despercebidos do grande público. Um que me deixou francamente perplexo foi que, no primeiro turno das recentes eleições em nossa cidade, nada menos de 270 mil pessoas deixaram de votar, num colégio eleitoral que quase chega a 800 mil. Compute-se, na montanha de votos aqui desperdiçados, os brancos e nulos mais a brutal abstenção. Na Capital aconteceu o mesmo com a acachapante contabilização: o número de não votantes foi maior do que conseguiram arrancar das urnas eletrônicas os drs. Serra e Haddad, individualmente.Ora, amigos, nem vou entrar nessa história de que votar é “dever cívico”; porém, aí está um gesto que nunca deixo de cumprir. Nem mesmo agora com a chamada idade provecta me desobrigando de palmilhar a cabine indevassável. Só não compareço, nos outubros, à Zona 33, seção 6, no Colégio Progresso, se estiver na ilha em que me escondo de vez em quando na foz do rio Amazonas.Lembro que num pleito passado, já neste século, quando eu ainda era obrigado a votar, fiquei sinceramente comovido na fila de espera para o exercício da escolha dos mandatários. É que de repente chegou uma senhora numa cadeira de rodas empurrada por jovem enfermeira uniformizada. Passou, claro, na frente de todo mundo. Porém quando saíram consegui perguntar quantos anos a eleitora tinha. Com olhos extremamente vivazes ela me encarou e, sorrindo, respondeu que estava com 97.— E nunca — acentuou — deixei de votar. Nem mesmo quando as eleições ocorriam durante minhas temporadas em Paris. Então comparecia à Embaixada e depositava meu votinho...Mas como não consigo mesmo esquecer as 270 mil pessoas que não apertaram ou as que apenas brincaram com os botões das urnas eletrônicas, acho lícito refletir: os dois candidatos que irão ao embate do dia 28 devem estar ávidos para catapultar aos seus cestos de votos muitas dessas criaturas. Trabalho árduo para os marqueteiros que têm operado dezenas de truques com empenho, o que permite que possamos julgar como andaram até aqui. Dizem muitos analistas que os profissionais comandantes da propaganda do dr. Jonas no primeiro turno caminharam mal das pernas. Afinal pegaram um candidato que nas primeiras pesquisas chegou aos 50% da preferência do eleitorado, faltando, portanto, apenas 1% para conseguir o Jequitibás no primeiro turno. Nos costumeiros papos diários no Café Regina, ouvi muitas pessoas afirmarem que o postulante do PSB já poderia mandar confeccionar o terno da posse. O que, contudo, não aconteceu, fato que só pode levar à conclusão que os responsáveis pelos marketings dos drs. Serafim e Pochman operaram com mais competência. Afinal o atual prefeito nunca foi nenhuma Brastemp em termos de popularidade como seu então adversário Donizette, até pelo contrário, pois era conhecido como um simples “vereador de 3 mil votos”. No entanto graças aos profissionais que fizeram sua propaganda no horário gratuito conseguiu não só chegar perto dos 100 mil sufrágios como roçou os 19% do eleitorado. O mesmo se deve dizer do candidato do PT: de repente disparou levando o pleito para o segundo turno, com 28% da preferência dos que não se abstiveram. Bom, mas segundo turno é outra eleição...Sou eleitor com domicílio no município de Campinas faz uns 40 anos. E nunca, jamais, em tempo algum, dados os acontecimentos que nublaram a vida da cidade recentemente, me vi diante de uma eleição tão importante. Só lamento que isso não possa ter sido visto pelos 270 mil que esnobaram as urnas no dia 7. Efetivamente que não posso dizer, numa crônica de jornal, em quem votarei logo mais. Estou, todavia, de olho nos cabos eleitorais que, tenho certeza, percorrem as ruas da cidade no apoio a este ou aquele. Diante disso, de uma coisa tenho certeza, acabarei sendo testemunha de fatos exóticos. Quando Lula, por exemplo, cruzar meu caminho em alguma avenida do Centro, certamente lembrarei que ele conhece bem a cidade. Afinal, não faz muito tempo andou por aqui pedindo votos pro cassado dr. Hélio a quem apontava como sendo uma espécie de reencarnação de São Francisco de Assis. É por essa e por outras que, quem é eleitor, não deve deixar de avaliar bem. Sem abstenções..

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