ig-zeza-amaral (AAN)
Sempre vivi só na vida. Não sou de andar em bando. Solidão existencial. Solidão de homem que só tem a si para confessar o que considera seus pecados maiores. Solidão de quem bem sabe que por mais que tente não conseguirá amenizar a dor de quem quer que seja, dos pais que perderam um filho, daquele que perdeu um amor, ou mesmo o emprego. Quando o ministro e decano Celso de Mello anunciou que acataria os embargos infringentes, advogados dos bandidos se abraçaram e depois foram tomar caros escoceses na birosca mais próxima da excrecência jurídica. Sei lá onde fica e nem isso é muito importante. O fato é que bandidos políticos, que roubaram centenas de milhões de reais dos bolsos públicos, apesar de condenados, não irão passar um dia sequer na cadeia (irão devolver cada centavo roubado?). Pode alguém argumentar que eles não são perigosos e aí a burrice fascistoide impede que ele raciocine sobre as consequências que advém de tal crime: o dinheiro público roubado poderia comprar remédios, por exemplo, para adquirir mais ambulâncias, alimentos ricos em proteína para os nossos estudantes infanto-juvenis, melhorar as pinguelas da periferia, comprar um aparelho de ressonância magnética, investir em saneamento básico... e a solidão da impunidade vai crescendo, crescendo, até nos esgotar o ânimo da revolta. Lula e seus asseclas políticos estão felizes com tal acontecimento. São os únicos que não estão sós. Não são hienas, pois tais animais vivem da sobra das carcaças que outros animais predadores abandonam, fartos. Eles são rapineiros políticos e querem que a sociedade brasileira os obedeça em tudo, que se ajoelhe, que se vergue, tudo em nome do Partido Único que vai determinar o que devemos ler e respeitar. E o petismo já dominou o Executivo, partidarizando ministérios, empresas e bancos estatais e, principalmente, os fundos de pensão (quando serão investigadas?); e além de dobrar as dóceis espinhas do poder Legislativo se dedica agora a definir a agenda do Judiciário que, ao acatar os embargos infringentes, contribuirá para hagiografar, digamos assim, o currículo político de um núcleo petista que, de resto, formou uma quadrilha para roubar o dinheiro de todos os brasileiros — dinheiro, repito, que poderia ajudar a salvar vidas nos hospitais ou em casos de calamidade pública. Exagero? Bem, com a palavra os familiares das vítimas de ambos os exemplos. Em crônica anterior, eu já havia perguntado sobre o paradeiro dos manifestantes (pacíficos) que sumiram das ruas de junho. Leio aqui e ali que foram expulsos das manifestações pelos violentos black blocs — e a mesma acusação é feita também pelos militantes do Occupy Wall Stret, em Nova York. Mas não consigo entender o sumiço dos militantes do Passe Livre, cujo slogan era “não é pelos vinte centavos”. Afinal, cerca de R$ 170 milhões foram comprovadamente surrupiados pelos bandidos do mensalão (que, aliás, trata-se apenas de uma pequena parte do que foi efetivamente roubado) e, convenha-se, não se trata apenas de “vinte centavos”. E agora mesmo o Brasil é sacudido por mais um escândalo político: a Polícia Federal desarticulou uma quadrilha que vinha desviando verbas do Ministério da Previdência; até agora apurou-se que R$ 300 milhões foram roubados dos nossos bolsos. E isso aconteceu quando ainda estamos tentando entender por que a presidente Dilma Rousseff ainda mantém Manoel Dias na chefia do Ministério do Trabalho após ter sido constatado lá um roubo de mais de R$ 400 milhões! O Brasil decente está sob o domínio dos embargos indecentes promovidos pelas mais distintas quadrilhas de bandidos e a presidente Dilma está mais preocupada com a próxima eleição presidencial. E de que adianta contratar médicos estrangeiros se, diagnosticada a doença do pobre paciente, que vive lá nos grotões, não se tem sala cirúrgica, nem remédios, nem enfermeiros e menos ainda um cirurgião — visto que os médicos contratados estão impedidos de realizar qualquer procedimento invasivo. E vou parando por aqui pois, eu que pensei que tal coisa só pudesse acontecer com a voz, sinto que as palavras também começam a ficar embargadas. Que país! Bom dia.