REGIÃO DE CAMPINAS

Em média, 5 menores são assassinados por mês

Estudo é de vítimas de homicídio nos oito municípios com mais de 100 mil habitantes: Americana, Campinas, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Santa Bárbara d'Oeste, Sumaré e Valinhos

Bruno Bacchetti
10/05/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 14:18
Para cada grupo de mil pessoas com 12 anos completos em 2012 nas oito cidades, 1,20 correm o risco de serem assassinadas antes de atingirem 19 anos de idade.  (Elcio Alves)

Para cada grupo de mil pessoas com 12 anos completos em 2012 nas oito cidades, 1,20 correm o risco de serem assassinadas antes de atingirem 19 anos de idade. (Elcio Alves)

A crescente violência contra jovens e adolescentes deverá vitimar centenas na Região Metropolitana de Campinas (RMC) nos próximos anos. Segundo o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), produzido pelo governo federal em parceria com a sociedade civil e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e divulgado em fevereiro, cerca de 300 adolescentes, de 12 a 18 anos, poderão ser vítimas de homicídio nos oito municípios da região com mais de 100 mil habitantes — Americana, Campinas, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Santa Bárbara d'Oeste, Sumaré e Valinhos — até 2019. São, em média, cinco por mês. Isso significa que, para cada grupo de mil pessoas com 12 anos completos em 2012 nas oito cidades, 1,20 correm o risco de serem assassinadas antes de atingirem 19 anos de idade. A taxa representa um aumento de 60% em relação ao estudo anterior, quando o IHA chegou a 0,75. Em âmbito nacional, a projeção aponta que 42 mil jovens devem perder a vida nos municípios com mais de 100 mil habitantes nesse período. A região Nordeste tem o maior índice (5,97). Depois aparecem Centro-Oeste (3,74), Norte (3,52), Sul (2,44) e Sudeste (2,25).Segundo a estimativa, Sumaré apresenta a maior incidência de violência letal contra adolescentes da região, com índice de 1,64 mortes para cada mil jovens. Do total de 29,8 mil jovens da cidade, o estudo aponta que 49 podem ser assassinados nos próximos anos. A seguir estão Santa Bárbara d'Oeste (1,63), Hortolândia (1,58) e Campinas (1,42). Americana e Indaiatuba são as únicas cidades da RMC com mais de 100 mil habitantes que não devem ter adolescentes mortos de forma violenta, segundo o estudo.Para José Henrique Specie, professor de Direito da PUC-Campinas e especialista em segurança pública, a escalada da violência que atinge os jovens não surpreende. Ele avalia que o crescimento é reflexo da sociedade e da falta de oportunidade para os adolescentes da periferia. “Essa previsão demonstra uma situação que já vem há um bom tempo, principalmente em áreas onde há uma população mais vulnerável e que envolve o tráfico e a criminalidade. A relação que era vinculada somente a adultos tem acontecido mais precocemente e gera um impacto”, explica.Segundo o especialista, para alterar esse cenário é necessário não apenas investir em policiamento e segurança pública, mas também em educação e atividades que deixem os adolescentes longe da violência. “Só é possível melhor esse cenário com uma atuação mais ampla. O Estado não tem tido preocupação com o ensino fundamental médio, não existem atividades para pessoas com idade escolar além de um período do dia. São questões que vão gerando um ambiente propício”, analisa. “Não é só repressão policial, tem que ter outras esferas”, completa.Paula Selhi, de 50 anos, perdeu o filho Felipe para a violência em 2010. O jovem, então com 17 anos, foi morto com uma facada no peito quando voltava da escola. Ele foi atacado na rua Cônego Cipião, perto do Viaduto Miguel Vicente Cury, onde morava com a família. Segundo testemunhas, os homens que abordaram o jovem estavam sob efeito de drogas. A praça onde Felipe foi morto, conhecida na época como “Quebra Ossos”, hoje leva o nome do jovem e tem presença constante da Guarda Municipal (GM). “Perder um filho para a violência é se sentir de mãos atadas, enterrar metade de você e a Justiça não dar a resposta que merece. O risco de perder um filho vem de todos os lados. Hoje temos uma polícia que mata jovens, no trânsito todo mundo corre”, afirma. “Hoje você perde a vida por nada”, acrescenta.Após a tragédia que ceifou a vida de seu filho, Paula criou o Movimento Felipe Selhi, cujo objetivo é cobrar das autoridades ações como maior patrulhamento, iluminação pública mais eficiente e revitalização de áreas abandonadas, além da lutar pela mudança no Código Penal e o fim da impunidade. “A gente tem nesses momentos dois caminhos. Ou se entrega ou arregaça as mangas para ajudar. Dia 18 de maio vai fazer cinco anos que perdi meu filho, temos uma lentidão burocrática muito grande. Uma única testemunha mudou para outro Estado e não há recursos para trazê-lo para depor. Também já passou da hora da revisão do Código Penal”, finaliza.

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