"A pandemia da covid-19 escancarou a importância de se ter informações sobre a população brasileira"
Atribui-se ao filósofo inglês Francis Bacon a autoria da frase em latim "scientia est potentia" ou "informação é poder". Sob a ótica republicana, o objetivo do poder é manter a ordem, assegurar a defesa e promover o bem-estar. Se informação equivale a poder, conclui-se que, sem informação, não se pode zelar pelo bem comum.
Uma vez que a premissa seja verdadeira, o corte de 90% do orçamento para execução do Censo 2021 espelha o desmonte da República. Em essência, a República vem do latim "res publica" que significa "coisa pública". Portanto, a República é a administração do bem público que, para sua efetividade, requer informações sobre cada cidadão, cada família e cada domicílio.
Sem esse retrato da população brasileira, não se pode, por exemplo, calibrar a democracia representativa, por meio da contagem populacional a definir o número de deputados federais, estaduais e vereadores. Não se pode determinar quais grupos serão beneficiados por políticas públicas federais, estaduais e municipais. Nem tampouco mapear os contingentes populacionais de risco para campanhas de vacinação. Sem o Censo 2021, a distribuição correta e ajustada dos recursos da União aos Estados e Municípios também estará prejudicada.
O professor Roberto Luiz do Carmo, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e atual presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep), tratou do assunto, em matéria publicada na edição de hoje do Correio Popular. Ele alerta que a decisão do governo de inviabilizar o Censo é uma afronta à população brasileira, à democracia, aos gestores públicos, aos técnicos do IBGE, aos analistas de mercado e aos centros de pesquisa e universidades.
A pandemia da covid-19 escancarou a importância de se ter informações sobre a população brasileira. Diante desta constatação, como esperar que o Ministério da Saúde possa organizar uma política séria de vacinação em massa sem conhecer as condições de vida de diferentes grupos etários e suas características e composição, incluindo étnico-racial?
Evidências como esta só aumentam a desconfiança sobre a real capacidade do governo de conduzir com seriedade a gestão da pandemia. Assim, nos unimos ao respeitado Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na defesa veemente do Censo Demográfico brasileiro de 2021.