Levantamento do Ministério da Saúde aponta que 0,8 % da população apresentou obesidade grave
De um lado, Isabel, com pouco mais de um ano pela frente até realizar o maior sonho de sua vida. De outro, Luciana, que depois de anos de angústia e sofrimento conseguiu realizar o mesmo desejo de Isabel. Duas vidas interligadas por um mesmo problema: a obesidade mórbida, que a cada ano avança no Brasil e no mundo e que tem sido combatida com a realização de cirurgias bariátricas, conhecidas também como redução do estômago. Em Piracicaba, nos últimos 15 anos, de acordo com dados da Clínica Bariátrica (Centro de Gastroenterologia e Cirurgia da Obesidade), foram realizadas seis mil cirurgias entre o SUS (Sistema Único de Saúde) e particulares. É o único local no município credenciado a fazer cirurgias desse porte pelo SUS. Levantamento do Ministério da Saúde, em 2009, apontou que 0,8 % da população brasileira apresentou obesidade grave (1,14 % das mulheres) e 0,44 % dos homens.
Segundo o médico cirurgião Irineu Rasera, esse tipo de procedimento é cada vez mais comum no Brasil porque ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a cirurgia é feita por questões de saúde já que a obesidade mórbida acarreta sérios riscos à vida, como doenças cardiovasculares, diabetes, dentre outras complicações. “O Ministério da Saúde tem tomado providências para melhorar o acesso da população a esse tipo de cirurgia”, explicou.De 2006 a 2011, houve aumento de 1,05 % de excesso de peso na população acima dos 18 anos, e de 0,76 % de obesidade mórbida. Em 2011, foram 207 mil internações pelo SUS em decorrência de complicações da obesidade.
Rasera destacou que Piracicaba é hoje considerada referência neste segmento em todo país por ter criado um sistema de atendimento multidisciplinar, que possibilita aos pacientes passarem juntos por todas as etapas pré-cirúrgicas, reduzindo assim o tempo de permanência na fila de espera. Enquanto na maioria dos municípios brasileiros são realizadas, uma média de oito operações mensais, em Piracicaba, são feitas 80 cirurgias. “Alcançamos esse número expressivo graças ao trabalho coletivo que implantamos e que tem dado muito certo”.
O cirurgião apontou que, em 90 % dos casos, a cirurgia é realizada com grande sucesso e que muito raramente se observa dilatação do estômago pós-cirurgia. Em alguns casos, os pacientes voltam a engordar novamente porque consomem muito mais calorias do que gastam. Os grandes vilões de um resultado duradouro são pela ordem: os refrigerantes, o sedentarismo e a ingestão de bebidas alcoólicas. “A cirurgia não faz milagres se a pessoa não tiver controle sobre a alimentação e adotar uma vida mais saudável. Todos deveriam fazer pelo menos 30 minutos de atividades diárias”.
No Brasil, hoje, a fila de espera pelo SUS para realizar a cirurgia é de até cinco anos. Em Piracicaba, o paciente pode ser operado antes dos dois anos. Para isso, ele deve realizar um acompanhamento mensal, que inclui dentre outras coisas, avaliação nutricional e psicológica. Todos os pacientes são obrigados a emagrecer antes de passarem pelo procedimento.
Rasera explica que não existe previsão de remédios que combatam a obesidade mórbida e que justamente por esse motivo a cirurgia acaba sendo o método mais indicado. “É questão de saúde e não de estética porque esses pacientes já não conseguem emagrecer apenas com dietas”.
PSICOLÓGICO
Todo paciente obeso que pretende submeter-se à cirurgia de obesidade deve antes passar por um preparo, que inclui, dentre outras coisas, o acompanhamento psicológico, já que esse paciente traz ao longo de sua história sofrimentos e privações sociais. No site da cirurgia bariátrica (www.bariatrica.com.br) é enfatizado a importância desse acompanhamento para o sucesso do procedimento cirúrgico.
Irineu Rasera explicou que é importante que o paciente compreenda a técnica cirúrgica antes de mais nada.”O acompanhamento psicológico é essencial para algumas pessoas porque eles (pacientes) precisam ser alertados sobre os limites da cirurgia porque ela não deve ser vista como uma mágica”.
O preparo pré-operatório é indicado para todos os pacientes. Eles são preparados para as mudanças que ocorrerão na imagem, auto-estima e também no modo de se relacionar com a comida, entre outros.O psicólogo vai discutir os problemas que contribuíram para a instalação da obesidade ou até mesmo que tenham surgido como conseqüência dela.
Logo após a cirurgia, no início do período pós-operatório, o acompanhamento psicológico faz-se necessário para ajudar a traçar metas realistas quanto à perda de peso e à imagem futura, além de auxiliar esse indivíduo na reintegração com o meio em que vive e consigo mesmo.