Eles sabem o que fazem

O Brasil da Copa é o Brasil da privada. Jogaram uma na cabeça de um torcedor no Recife e ninguém até agora apareceu com uma camiseta estampada com o rosto da vítima. Ninguém tacou fogo em ônibus, ninguém destruiu bancos de praças, ninguém quebrou vidros de lojas e nem atirou uma pedra sequer na polícia militar que, é verdade, só não foi pra rua porque ninguém estava depredando nada. Tudo na mais absoluta paz.Privada na cabeça de um cidadão é uma coisa normal. Faz parte do jogo jogar uma privada na cabeça de alguém. Faz parte do jogo da impunidade torcidas organizadas se engalfinharem e trucidar o adversário, na porrada, na paulada, com cano de ferro e depois, no Fantástico, se deliciarem com a carnificina, com o corpo de um jovem estirado no meio-fio de uma calçada qualquer, e com os suspeitos de sempre descendo de um camburão para prestar depoimento, sorridentes e altaneiros, e aplaudidos pelos seus seguidores covardes da idiotice alheia, incapazes que são até mesmo de matar as baratas que infestam suas ideias.As torcidas organizadas do Guarani Futebol Clube são incompetentes tanto quanto a cartolagem que há décadas transformou o clube em uma lavanderia de incompetências administrativas. É claro que a voz do povo jamais será a voz de Deus, e nem no inferno filosófico tal clamor se aproxima. Daí que torcedor torce, cartola dirige e boleiro faz o possível para enfiar a bola no gol adversário. Mas torcedores do mesmo time trocarem socos e pontapés na mesma arquibancada é algo tão estúpido, tão sem propósito, que fico sem palavras para descrever o absurdo. É uma desonra total.O fato é que torcidas organizadas do Guarani brigaram entre si, na mesma arquibancada, e constrangeram a todos que estavam no estádio. O clube está mandando seus jogos em Americana e poderá ser punido a jogar a mais de 150km de distância. De Americana, é claro. E o fato é que torcidas organizadas bugrinas (assim como a de todos os outros clubes, é bom frisar) são financiadas por facções de cartolas que agem politicamente para conseguir espaço político no clube e isso ficou bem implícito na arquibancada bugrina de Americana. E o que pode ser uma punição ao clube, bem poderia ser uma benção: a falsa cartolagem bugrina não vai investir três vezes mais para afundar de vez o clube que jura defender. Assim, longe dessa encrenca política e violentamente organizada, é possível que seus jogadores tenham a tranquilidade profissional para cumprir seus contratos e honrar a história da camisa que veste o sincero bugrino. É isso.