opinião

Eleição já está definida

Reinaldo Dias
reinaldo.dias@mackenzie.br
18/10/2018 às 12:11.
Atualizado em 06/04/2022 às 08:17

Há poucos dias do encerramento do segundo turno da mais polêmica campanha eleitoral do período pós constituição de 1988, as pesquisas indicam que o pleito está praticamente definido, com a eleição de Jair Bolsonaro. A diferença entre os dois candidatos é muito grande para o resultado ser alterado nos dias que faltam. Numa reunião convocada pelo Partido dos Trabalhadores no Ceará, visando a articulação de uma frente democrática contra Jair Bolsonaro, Cid Gomes, senador eleito manifestou-se fazendo severas críticas ao PT afirmando que o partido se recusa a reconhecer suas falhas e sua responsabilidade na crise. Ato contínuo, o irmão de Ciro Gomes reagindo às manifestações contrárias dos petistas bradou em alto e bom som que Fernando Haddad já havia perdido a eleição. A manifestação de Cid Gomes colocou um ponto final nas pretensões que o PT ainda tinha de formar algum tipo de frente democrática. Nitidamente foi um troco às manobras que os petistas fizeram contra Ciro Gomes no primeiro turno. Estas eleições presidenciais serão motivo de muitas discussões e análises de jornalistas e acadêmicos. Todos procurando explicações para o comportamento do eleitorado. Embora tenhamos chegado ao final com duas candidaturas extremistas, o fato que deve ser destacado nestas eleições é o protagonismo dos eleitores, que decidiram fazer valer nas urnas suas demandas contra a corrupção e por mudanças nas práticas políticas. Pode-se concordar ou não com a escolha dos eleitores, mas há que se respeitar, pois na democracia prevalece o desejo da maioria quando expressado nas urnas. Aos derrotados, em particular ao PT, cabe compreender a nova realidade que emerge das urnas, fazer a necessária autocrítica, refazer suas propostas, seu programa e aprender a conviver, periodicamente, com a alternância de poder. Há necessidade de que a oposição no Brasil aprenda que ao se opor ao governo de turno isto não significa questionar os fundamentos do Estado. Diferenciar claramente o que é política de Estado e política de governo é um dos problemas a serem superados por aqueles que farão oposição ao futuro governo. Estas eleições também mostraram o poder das redes sociais. A facilidade de comunicação entre as pessoas, via WhatsApp, possibilitou guinadas surpreendentes de última hora – como a vitória de Márcio França sobre Paulo Skaf no primeiro turno das eleições em São Paulo. O papel desempenhado por essas mídias possibilita antever uma virada no modo de fazer política nos próximos anos e que deve ser sentida nas próximas eleições municipais. Muitas críticas se fizeram ao povo brasileiro de que não participava do debate político e fazia pouco caso das eleições. Nesta eleição destacou-se a participação ativa da população, substituiu-se a discussão acalorada de futebol, por debates intensos sobre as eleições. Nas mesas de bar, no ambiente familiar, no ambiente de trabalho multiplicaram-se as discussões confrontando-se pontos de vista. As radicalizações podem ser creditadas à falta de hábito de debater, também é um problema de aprendizado. Aprende-se a debater, debatendo. Este é um saldo positivo destas eleições. O povo despertou para a política. Entendeu que pode alterar os rumos do país, que pode barrar representantes indesejados e eleger aqueles que julga melhores. Pode-se não concordar com a escolha popular, mas não se pode negar o ativismo político que foi despertado. Essa possibilidade de intervir, simplificada pelo uso do celular, amplamente disseminado seu uso pela população. É um processo que não tem volta. E, certamente, substituirá o discurso de falsos porta-vozes da vontade popular. Pois ela – a vontade popular – se expressa em tempo real com a ampla participação da população. Democracia é isto, goste-se ou não. Fato que pode passar despercebido pelo interesse despertado no resultado eleitoral, é a situação gravíssima em que se encontra o presidente Michel Temer. Se sua situação já não estava boa, agora se complicou mais ainda com o seu indiciamento pela Polícia Federal pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A PF solicitou ainda o bloqueio de seus bens. Do jeito que anda a coisa para Temer, ao perder o foro privilegiado em janeiro, poderá fazer companhia a outro ex-presidente preso em Curitiba. Embalada pelo apoio da população à luta contra a corrupção demonstrado nas urnas, o judiciário identificado com a postura da Lava Jato deverá intensificar o combate aos criminosos de colarinho branco.

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