Que coisa mais chata é essa de viver num País em que todas as decisões são tomadas com fins políticos. Não há nenhuma lógica em colocar Manaus como sede do torneio de futebol da Olimpíada do Rio de Janeiro, mas, na última quinta-feira, o Comitê Organizador Local do Rio-2016 indicou a cidade e disse que vai até a Fifa, responsável final pela escolha, para tentar convencer a cartolagem sobre o projeto. A capital amazonense está 4 mil quilômetros distante da cidade olímpica e não consigo enxergar outra razão para essa decisão que não a da politicagem brasileira, para provar que a Arena da Amazônia não é um elefante branco construído com o dinheiro do povo e justificar que ela tem utilidade para inúmeros eventos. E falo isso para não entrar nos detalhes das negociações, com direito a inúmeras “reuniões técnicas” entre políticos, cartolas, empresários e afins para concluir os “estudos” do dinheiro que mais uma vez será investido com o propósito de alavancar o turismo ecológico da região. É verdade que os organizadores dos Jogos do Rio de Janeiro sempre levantaram a bandeira de que a Olimpíada não é só dos cariocas, e sim de todos os brasileiros, mas tentar submeter os atletas, outra vez, às intempéries do clima equatorial que prevalece em Manaus é um absurdo. Já tivemos a experiência da Copa, com todas as reclamações possíveis do ponto de vista esportivo, em que os atletas sofreram com a umidade e tiveram claro prejuízo no rendimento em campo. Vale ressaltar que a cidade de Manaus é linda e merece a visita. Tenho certeza que a festa dos manauaras pelos Jogos Olímpicos na cidade seria fantástica. Mas não dá pra engolir uma decisão política dessas. Estivessem os dirigentes preocupados com o turismo ecológico no Brasil, que tivessem aproveitado a Copa para fazer os investimentos necessários na infraestrutura de Manaus, em vez de torrar todo o dinheiro na construção do estádio. Já a partir da Olimpíada deveriam ter achado um jeito de despoluir a Baía de Guanabara, local das competições de vela que é um esgotão a céu aberto. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, admitiu, também na quinta, que o Estado não conseguirá atingir a meta de tratar 80% do esgoto despejado nas águas da baía até 2016. Agora, se não há problema em mandar os atletas pra longe da cidade olímpica, deveriam abandonar o projeto da vela na Baía de Guanabara e deslocar a competição para Ilhabela, onde, além de não estar poluído, existe vento pra velejar, outra coisa difícil de se achar no Rio. Talvez o lobby da capital da vela não esteja tão forte como o da capital da maior floresta tropical do mundo.