Hoje vamos tratar de dois pronomes que também costumam aparecer em provas
Nas últimas semanas, trocamos dois dedos de prosa sobre o emprego de alguns pronomes (os possessivos “teu” e “seu”, os pessoais “contigo” e “consigo” etc). Hoje vamos tratar de dois pronomes que também costumam aparecer em provas e concursos públicos que exigem o domínio do padrão formal da língua: “eu” e “mim”. De início, é bom deixar de lado uma velha e conhecida “tese”, que diz que a opção por “eu” ou “mim” depende da posição do pronome na frase ou da palavra que está perto dele. Muita gente afoita (para dizer o mínimo) acredita naquela história que diz que antes do verbo no infinitivo o pronome que se emprega é sempre “eu”. Será? Vamos tentar simplificar as coisas: no português padrão, o papel essencial do pronome “eu” é o de sujeito, razão pela qual ele costuma vir associado a um verbo, “conjugando-o”. Vejamos este exemplo: “Eles fizeram o possível para eu participar do evento”. Nesse caso, o pronome “eu” funciona como sujeito de “participar”, o que pode ser percebido pelo fato de essa frase ser equivalente a “Eles fizeram o possível para que eu participasse do evento”. Na língua padrão, em casos como o que acabamos de ver, não ocorre o pronome “mim”, o que significa que, na língua formal culta, não se registram frases como “Eles fizeram o possível para mim permanecer na empresa” ou “Ela fez o que pôde para mim aceitar a proposta”. Como vimos, nesses casos o pronome “eu” funciona como sujeito (de “permanecer” e “aceitar”, respectivamente). Convém lembrar que, se o pronome “eu” fosse trocado por “nós”, teríamos, respectivamente, “permanecermos” e “aceitarmos” (“Eles fizeram o possível para nós permanecermos na empresa”; “Ela fez o que pôde para nós aceitarmos a proposta”). Como se nota, foi preciso alterar as flexões verbais, para colocá-las em sintonia com o novo sujeito, o que comprova que, nos exemplos vistos, o pronome “eu” funciona como sujeito. Agora vejamos: “É uma honra para mim participar desse projeto”. Que tal? No registro formal culto, é “mim” o pronome que se emprega nesse caso? É. Sabe por quê? Porque, apesar de próximo do verbo (“participar”), esse pronome não funciona como sujeito desse verbo. O que temos nesse caso é apenas uma inversão da ordem natural dos termos. Na ordem direta, teríamos mais ou menos isto: “Participar desse projeto é uma honra para mim”. Mudou a ordem das palavras, mas as palavras são as mesmas. Veja de quantas maneiras se pode dizer isso: “Participar desse projeto, para mim, é uma honra”; “Para mim, é uma honra participar desse projeto”; “Para mim, participar desse projeto é uma honra”. No padrão formal da língua, não se encontraria algo como “Participar desse projeto é uma honra para eu”, certo?