A manifestação grotesca e infeliz de uma conselheira do Flamengo sobre e-sports esquentou um debate que deve crescer nos próximos anos. Afinal, videogame é ou não um esporte? Começo pelas postagens de Marion Kaplan, que criticou o Flamengo por divulgar sua equipe de League of Legends nas redes sociais. “Quem diria, hein? Flamengo divulgando um nerd da pior espécie, símbolo do antiesporte, e nada do futebol feminino. Nem uma linha...” A opinião gerou críticas e então Marion se perdeu ao responder com rancor e preconceito: “Um nerd que fica horas na frente de uma tela, praticando algo que não é atividade física nem cultural. Não é ao ar livre e não serve para nada. Ou seja, se eu falar "nerd autista da pior espécie" ficou mais claro, não?” A conselheira pediu desculpas aos autistas e confirmou que sempre será contra e-sports no Flamengo. Disse que vai lutar para que o clube deixe de ter equipes. Eu adoro videogame. Não jogo League of Legends, mas gosto muito de games de esporte (Fifa, principalmente) e de tiro, como Counter-Strike, também muito popular nos campeonatos de e-sports. Ainda assim, não considero e-sport um esporte. Sei, até mesmo por jogar bastante, que para estar entre os melhores do Brasil ou do mundo em qualquer game é preciso ter uma enorme dedicação aos treinos. Também sei que os times de ponta contam com comissões técnicas robustas, com treinador, fisioterapeuta, analista, psicólogo, etc. Esse aspecto aproxima muito o e-sport de uma modalidade esportiva. Ainda assim, pelo menos por enquanto, não vejo videogame como esporte. Isso não me impede, porém, de constatar o crescimento e o enorme potencial desse mercado. Os torneios lotam ginásios em vários países da América, Europa e Ásia. Um evento no Staples Center, ginásio dos times de Los Angeles, teve ingressos esgotados em pouco mais de hora. Algumas universidades americanas já destinam bolsas para os melhores gamers e clubes de futebol da Europa, assim como o Flamengo, se associam a times de e-sports. A conselheira criticou o Flamengo por não dar a atenção que ela considera devida ao futebol feminino. Mas deixou de levar em consideração que o departamento de e-sports gerou receita de R$ 1,8 milhão ao clube em 2018. Em 2019, a expectativa é que chegue a R$ 3 milhões. Emissoras de TV já transmitem jogos e tudo indica que esse mercado vai crescer muito. Se é esporte ou não já é uma questão menor. O que vamos descobrir é a importância as competições de games terão na indústria de entretenimento, da qual o esporte tradicional faz parte. O The International 8, por exemplo, distribuiu mais de R$ 100 milhões em prêmios aos gamers participantes. Quantas modalidades alcançam essa cifra?