É preciso saber perder

Desbarato, destroço de tropas, revés, sucesso funesto, mau êxito, desastre, tragédia, derrota. Seja qual for a palavra utilizada sente-se na pronúncia, na carga com a qual se escreve, no teor da mensagem enviada, no volume soprado aos ouvidos quais serão as consequências daquela má notícia.

Na vida, certas situações exigem apenas silêncio; outras, revolta. Mas no esporte a derrota nunca pode ser levada tão a sério. Porque se perde o tempo todo e quem não souber lidar com tropeços iminentes nunca saberá também como tirar proveito quando a vitória chegar. É claro que não é assim tão simples para quem esteve ali, lutou e suou no campo de batalha, correu riscos, se entregou por inteiro, simplesmente dizer que "perder é normal e a vida segue". Mas, no geral, há mais lições positivas no tropeço do que no pódio.

A torcida da Ponte Preta é a prova disso tudo ao aplaudir e cantar no final da derrota de ontem para o Corinthians. O time, que com apenas duas derrotas está fora do Campeonato Paulista, podia ir além - e, por que não, ainda pode. Fez bela primeira fase, apresentou ao futebol bons jogadores (alguns ótimos), ajeitou-se no espírito de equipe pregado pelo técnico Guto Ferreira, bateu quase todos, venceu dentro e fora de casa e classificou-se quase sem defeitos. Mas o futebol, e a derrota, sempre altera o rumo das coisas. A de ontem, em pleno Majestoso, e para o atual campeão mundial, não deve (e nem pode) ter consequências drásticas. Deve, isso sim, servir de exemplo para outras equipes, para outras torcidas, para os cartolas.

Difícil saber se tudo se manterá como está na rotina da Macaca durante a semana. Mas ao menos ontem, todos, empurrados pelos gritos de apoio da torcida, pareciam tranquilos quanto à continuidade do trabalho. Até porque, apesar do placar elástico, a equipe se entregou, lutou, mas parou na qualidade técnica e individual do adversário, há muito mais tempo jogando junto e com elenco muito mais experiente.

Torço para que, assim que o Brasileiro começar, a Ponte Preta não tenha se desmanchado para começar do zero, em busca de uma renovação que não deve ser feita quando um trabalho ainda não foi concluído. Se isso ocorrer, tenho certeza que a torcida continuará a aplaudir e apoiar o time, na alegria e na tristeza, na vitória ou na derrota.