Há um grupo de economistas que defende que o Brasil não está crescendo pouco e nem que haja estagnação no PIB. Simplesmente, para eles, o teto possível a que se pode chegar é em torno de 2% ao ano - o chamado PIB potencial brasileiro, um conceito baseado no quanto o País pode crescer sem inflação.Sou propenso a concordar com essa corrente. Já vimos o que acontece quando nos metemos a bater nos 5% ou 7% ao ano sem termos preparo para isso: uma expansão de consumo que se aproximou perigosamente de uma bolha - ou de várias bolhas, dado que praticamente nenhum segmento do mercado deixou de se aproveitar daquele momento.Mas é bom deixar claro que se concordo com a premissa, não admito que ela seja uma regra inquebrantável, ou seja, não concordo que tenhamos que ficar eternamente presos desse percentual e nem que seja impossível rever o tamanho do nosso PIB potencial.Ocorre que chegar a um percentual maior é um processo muito parecido à preparação de um atleta visando uma maratona: é preciso se preparar, aos poucos mas com muita força de vontade, sem desânimos e sem desistências ou abandonos no meio do processo de treinamento.Aumentar o PIB potencial exige justamente essa postura - uma postura que, infelizmente, ainda não vi nenhum governo de nenhuma cor política assumir, porque os exercícios, no caso, são penosos: os músculos só se ganharão com ganhos de produtividade, e estes, por sua vez, precisam ser exercitados com base numa dieta restrita de redução do tamanho do Estado, adequação fiscal e modernização das relações de trabalho. Ou seja: economicamente saudável, mas politicamente (muito) indigesta.Mas é a receita que se tem, e a única que comprovantemente funciona - tudo o mais são “bombas” de efeito limitado tanto no efeito quanto no tempo. Servem para dar um forte impulsos nos números da economia, deixam seus usuários eufóricos, certos que de têm condições de ganhar qualquer maratona que surja pela frente e convencem até os espectadores de que o atleta está, como se dizia, “na ponta dos cascos”.Nada mais falacioso, como pudemos sentir nos últimos anos. Crescimento explosivo sem bases não se sustenta, assim como não se sustenta um atleta se preparo físico - ele pode até largar muito bem e assumir a ponta de uma corrida durante algum tempo, mas seu desgaste será inevitável e lhe custará não apenas a primeira colocação, como várias outras, assumidas por outros mesmo que minimamente preparados.Pois este é o retrato do Brasil: crescemos muito mais do que tínhamos condições de suportar, com os brasileiros se endividando até o último fio de cabelo para aproveitar o que parecia uma nova realidade econômica e com o governo se aproveitando dos bons ventos lá de fora para soprar mentiras aqui para dentro. Deu no que deu.Enquanto não surgir um governo capaz de entender o simples fato de que não se pode crescer sem que se alterem profundamente as bases em que o PIB se sustenta, e que são muito mais numerosas e complexas do que se supõe.Sem se estimular uma melhora na produtividade, jamais poderemos sair dos modestos índices de crescimento que ora desfrutamos, porque, se tentarmos, vamos cair de novo nas mesmas armadilhas que tanto conhecemos - inflação em alta, juros básicos subindo para controla-os (ao mesmo tempo que se estrangulam novos investimentos, já que o consumo, nessas circunstâncias, tende a cair); e quanto o remédio fizer efeito, lá vamos nós de novo estimular o consumo e o PIB, extrapolar nossas possibilidades - e começar todo o processo outra vez. É a história da nossa economia, desde sempre.Quebrar esse círculo é algo que exige uma dose de coragem política acima, me parece, da capacidade de qualquer político que temos e que já tivemos - e tenho sérias dúvidas se ainda teremos.Porque vai ser preciso mexer com coisas complicadíssimas, que vão de uma revisão com olhar pragmático, e não político, e muito menos ideológico, sobre educação, sobre o tamanho do Estado, sobre as relações de trabalho arcaicas sob as quais vivemos.Aumentar produtividade passa por tudo isso, e sem aumento de produtividade, não pode haver crescimento sustentável do PIB. Mas é, como se vê, um processo longo, que toma muito mais do que 4 anos de governo, e que terá um sabor bastante amargo no começo para só se tornar doce muito depois. E quem sacrificaria sua imagem política em nome de um progresso futuro que, provavelmente, não poderá aproveitar para recuperar-lá?Pois é: só sendo mesmo muito político, no sentido mais nobre da palavra, para assumir uma postura como essa, que preza o bem do País acima dos próprios interesses pessoais, partidários e outros menos importantes. Trata-se, infelizmente, de uma estirpe que nunca vimos nascer no Brasil, e provavelmente nunca veremos. Que pena.