Manuel carlos cardoso - IG (AAN)
Com este título eu poderia estar fazendo propaganda de um bom inseticida contra pernilongos ou lançando uma campanha contra as drogas, mas poderia também tratar sobre as coisas que acontecem na nossa política ou em nossas eleições. No passado ouvíamos contar sobre o “voto de cabresto” ou a troca de votos por uma dentadura, ou ainda por notas rasgadas ao meio, para entrega da outra metade após as eleições. Diz o folclore político de Campinas que o dono de uma fábrica de camisas, ao candidatar-se a vereador, entregou aos eleitores camisas sem a manga, comprometendo-se a entregá-las após as eleições, caso fosse eleito. Milhares de casos como esses ilustram a falta de preparo de nosso povo ou a total irresponsabilidade que demonstram ao votar, pois para uma grande parcela da população é totalmente irrelevante a vitória deste ou daquele candidato. Talvez seja exatamente por essa razão que encontramos nos cargos executivos ou legislativos uma quantidade enorme de políticos sem preparo, sem boas intenções e o que é pior, sem qualquer caráter ou escrúpulo.Na história política brasileira já foi bem votado um rinoceronte e um macaco, fato que somente não se repetiu em razão do voto eletrônico. Na última eleição nacional ouvi, de muitas pessoas, que estavam votando em um determinado candidato a deputado federal por não saber em quem votar ou por não conhecer outro candidato. Votaram sem nenhuma convicção de estar elegendo um bom representante. De outras ouvi que não acreditavam mais na classe política e anulariam o voto. O descrédito na classe política acaba resultando votos irresponsáveis e inconsequentes que provocam a má qualidade do Congresso e das Assembleias, quando observamos tais casas no seu todo. Nem sempre a maioria dessas casas é composta de bons políticos, predominando nesses casos representantes que cuidam mais de seus interesses pessoais do que dos interesses da população que representa. Fala-se muito em reforma fiscal, da Previdência, do ensino, mas jamais notamos algum avanço na mais importante das reformas, que é a reforma política. Sem mudarmos o nosso sistema partidário e o nosso sistema eleitoral, não será possível mudar absolutamente nada. Assim, se as nossas casas legislativas acabam sendo de má qualidade, o que dizer de suas mesas diretoras, que são eleitas pelo voto de seus membros. É político votando em político. É bom político votando em bom político, mas é mau político votando no que se tem de pior no mundo da política e a maioria elege. A campanha é substituída pelo conchavo e pela mancomunação. O voto salta de um lado para outro de acordo com os lances que são dados e, quando o leilão esfria, saltam mesmo sem lance, apenas para reanimar o lançador. As dentaduras, as notas rasgadas ao meio e as camisas sem manga são muitas vezes doadas por poderes estranhos ao processo, como que a cobrar fidelidade ou inoperância na fiscalização que o legislativo deve exercer. Tenho pena do político honesto que se lança nessa disputa pretendendo ganhar as eleições com projetos ou propostas administrativas. São na realidade pessoas ingênuas que demoram a perceber como se dá esse processo eleitoral. Terminado o pleito, invariavelmente derrotados, eles dizem com muita propriedade: É o fim da picada! Uma expressão que pode significar a um só tempo a revolta ou verdadeira campanha contra as drogas da política.