PÉROLA BEDUÍNA

Dubai além do luxo e da ostentação

Símbolo da modernidade e da arquitetura superlativa, cidade mantém recantos de sua origem

Cecília Polycarpo
02/05/2015 às 00:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 14:53
Vista da área central de Dubai (  Divulgação)

Vista da área central de Dubai ( Divulgação)

Desconfie se um dia alguém disser que Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, é somente luxo e ostentação. É fato que a cidade dos arranhas céus no meio do deserto se tornou uma das mais visitadas do mundo pelos shoppings gigantescos, hotéis seis estrelas, ilhas artificiais e praias particulares. Mas tem muito mais a oferecer. A busca pela rica história de Dubai, porém, depende do interesse e sensibilidade do turista — e para encontrá-la é necessário se afastar da famosa área de Jumeirah Beach e adentrar pelo creek, o rio que corta a cidade. O canal de água salgada, chamado também de Rio Al-Khor, passa pelos bairros de Deira e Bur Dubai, onde está o coração da cidade. Foram nessas áreas onde as primeiras famílias de origem árabe, principalmente iraniana, e beduínos começaram a se fixar, atraídas pelo comércio de pérolas. Em pouco tempo, a cidade se tornou o principal porto da Costa da Golfo Pérsico e os souks — mercados populares de ouro, tecidos e especiarias — foram formados. Foto: Cecília Polycarpo/ AAN Uma das estações do moderno metrô que corta a cidade Há várias formas de se chegar à parte histórica de Dubai, mas o metrô pode ser a mais interessante delas. A linha, que começou a ser construída somente em 2005, passa pelos principais pontos turísticos e tem trechos suspensos com vista panorâmica, como o que corta Dubai Marina. Para fazer um roteiro coerente pela parte histórica, o turista pode descer na estação Al Fahid, da linha verde, e caminhar por cerca de 100 metros para chegar ao Museu de Dubai, em Bur Dubai. Localizado em um forte antigo de 1780, a arquitetura é completamente diferente do visual espelhado dos prédios do emirado. A entrada custa 10 dirhams, o equivalente a R$ 10,00, e a visita é importante para se contextualizar na história da cidade. Com réplicas de embarcações e painéis multimídia, o local conta como os primeiros beduínos se instalaram na região e como o comércio de pérolas impulsionou o acúmulo de riquezas na cidade. Ao contrário do que se pensa, Dubai produz pouco petróleo. O mineral é principalmente extraído de Abu Dhabi, que concentra quatro quintos de toda a reserva do País. No entanto, o emirado construiu a atmosfera ideal para ficar com boa parte dos investimentos decorrentes da extração do óleo. Em Bur Dubai também estão concentradas as construções em estilo persa. O quarteirão mais pitoresco, com casas em tons de areia, é o Al Bastakiya. Para aproveitar o tour pelo bairro, a contratação de um guia é importante. O profissional irá explicar detalhes da arquitetura e da história da cidade que podem passar batidos. Feitas principalmente de corais, as construções foram projetadas para a circulação de ar e isolamento térmico no século 19. No Verão, a cidade chega aos 50 graus centígrados. A principal característica são as torres de vento, ou barjeels. As janelas especiais em formato retangular conseguem captar as correntes de ar, não importa a direção que elas estejam. Foto: Cecília Polycarpo/AAN Mulheres muçulmanas no metrô de Dubai As residências típicas iam ser demolidas na década de 1980 para darem espaço a mais prédios, mas foram salvas pelo príncipe Charles, da Inglaterra. Em uma visita oficial a Dubai, o monarca se encantou com o bairro e pediu para que ele fosse preservado. Hoje, as casas de Al Bastakiya foram transformadas em galerias de arte, cafés, restaurantes, formando o quarteirão mais charmoso do emirado.Ainda em Bur Dubai, há o souk de tecidos. O labirinto de lojas oferece pashminas de caxemira (lã fina feito de pelo de cabras) e seda por preços acessíveis. A maioria dos mercadores são paquistaneses e adoram negociar: a barganha faz parte da cultura de Dubai. Por isso, o turista não deve se assustar com o primeiro preço passado pelos vendedores. Na maioria das vezes, é possível levar um lenço por um terço do valor inicial. Templos do ouro e das especiarias Para chegar aos souks de ouro e especiarias é necessário atravessar o creek até Deira. E a travessia de abra, embarcação de madeira típica de Dubai, é obrigatória para quem quer conhecer a fundo os costumes da cidade. O passeio custa 1 dirham por pessoa e o abra acomoda até 20 passageiros. A navegação pelas águas calmas oferece uma visão diferente de Dubai e faz o visitante se sentir de fato em um país árabe: nas duas margens, trabalhadores retiram e negociam mercadorias de navios. São nas docas que ficam ancoradas grandes embarcações que atravessam o Golfo Pérsico trazendo produtos de países vizinhos, como Omã, Iêmen e Irã. Foto: Cecília Polycarpo/AAN Abajures são alguns dos variados produtos nos famosos mercados de Dubai OuroEm Deira, ficam os dois souks mais visitados, de ouro e de especiarias. O mercado de joias tem centenas lojas com vitrines ostentando milhares de peças de ouro. Mas a disposição dos brincos, pulseiras, anéis e colares gigantes não é pensada de forma clean, como nas finas joalherias ocidentais. No souk, o amarelo reluz para todos os lados e a quantidade de peças pesadas cravejadas de rubis, esmeraldas e diamantes é tanta, que chega a dar a impressão de se tratar de bijuterias. A cotação do metal de 14, 18 e 24 quilates é dada logo na entrada do mercado, para o cliente ter base nas negociações de preços. O pagamento a mais é pelo “trabalho” realizado em cada peça e pelas pedras preciosas. Como no mercado de tecidos, a palavra de ordem é a pechincha. É possível levar brincos de até cinco gramas de ouro por R$ 500,00 preço bem mais acessível que em lojas brasileiras. Foto: Cecília Polycarpo/ AAN Peças em ouro à venda no souk das joias EspeciariasNo mercado de especiarias é possível achar ervas completamente desconhecidas no Brasil e outras cobiçadas, como o açafrão iraniano. Enquanto por aqui um grama do açafrão pode custar R$ 70, no spice souk de Dubai ele é vendido a R$ 30,00. O visitante também encontra todos os tipos de incensos e chás. Mais simpáticos que nos outros souks, os vendedores de especiarias são de origem indiana e paquistanesa, adoram conversar com brasileiros. O mercado é um labirinto de cores, cheiros e aromas, que chegam a ficar impregnados nas roupas dos turistas. Os três souks ficam abertos das 9h às 22h.   

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