Mãe de passageiro morto em acidente com avião da Gol reclama na Justiça há 12 anos
O último dia 29 de setembro foi marcante para dona Aparecida Arcanjo Pereira Cabrerizo. Assistente social e enfermeira aposentada, ela completou 85 anos de vida. Estava cercada dos parentes na casa onde mora, no Jardim Flamboyant, em Campinas. Mas não foi um dia de festa. Dona Cida chorou os 12 anos da morte do filho dela, Gustavo, vítima do trágico acidente aéreo que envolveu um boeing da Gol no norte de Mato Grosso, em 2006. Aquela foi a maior tragédia da aviação brasileira, com 154 mortos. O episódio tomou as manchetes do mundo todo. Na ocasião, o Boeing 737-800 - que fazia a linha Manaus-Rio de Janeiro – se chocou com com jato executivo Legacy, da norte-americana Excel Aire. O acidente aconteceu a 692 quilômetros de Cuiabá, sobre a reserva indígena do Xingu, próximo da divisa com o Pará. O jato executivo conseguiu fazer um pouso de emergência na região e Alta Floresta, com uma asa e a cauda parcialmente danificadas. O boeing da Gol caiu e ninguém sobreviveu. As investigações do caso comprovaram que os pilotos do Legacy – os norte-americanos Joseph Lepore e Jean Paul Paladino – foram negligentes por não observarem o funcionamento do transponder, equipamento que transmite dados como a direção, a velocidade e a altitude do jato, alertando sobre possíveis choques, sugerindo a alteração da rota. Um relatório técnico da Aeronáutica conclui que a hipótese mais provável para o acidente tenha sido o desligamento não intencional do equipamento. Os pilotos foram condenados por crime culposo (sem a intenção de matar), e a Justiça decidiu pela pena de serviços comunitários. Dona Cida, hoje, se dedica exclusivamente a levar seu protesto aos jornais, emissoras e rádio e TV. Ela sabe que os pilotos vivem livres, tranquilos, nos Estados Unidos. E as famílias das 154 vítimas brasileiras, diz, choram de saudade. Foi mais uma vitória da impunidade, fala. Gustavo, o filho dela, era piloto de helicóptero e tinha 42 anos. Seu consolo, diz, é abraçar seus netos, um casal. Eles moram em São José dos Campos.