CINEMA

Documentário é destaque no Festival de Curitiba

Cineasta Ivars Zievidris é autor de Documentarian, filme no qual retrata sua relação com mulher

João Nunes
faleconosco@rac.com.br
11/06/2013 às 14:16.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:34

Letônia é antiga república da ex-União Soviética, país de dois milhões de habitantes, onde vive uma mulher enorme, bipolar, meio bruxa, meio curandeira chamada Inta. Ela diz inúmeros palavrões e amaldiçoa sem piedade o cineasta Ivars Zviedris, no filme 'Documentarian,' um dos destaques do Olhar de Cinema – Festival Internacional, que acontece até sexta-feira (14) em Curitiba, no Paraná.

A razão das imprecações é porque o diretor leto, por meio da namorada, descobriu Inta em um sítio distante uns 100 quilômetros da capital Riga. “Essa mulher dá um filme”, foi o que disse a namorada.

Quando ele chega no local, encontra uma mulher sozinha, comendo sentada à mesa em frente da casa. E começa a filmá-la. Ela não tem dúvidas: chama o vizinho, que dá uma gravata em Ivars e o imobiliza. Em seguida, Inta o amaldiçoa dizendo que ele morrerá em um ano.

Essa reação intempestiva só porque estava sendo filmada poderia pôr fim ao projeto. Mas, ao contrário, convence o diretor de que, de fato, essa mulher daria um filme. E começa a negociar com ela. Promete que irá lhe pagar pelo trabalho, que trará remédios e comidas e ela acaba aceitando.

E, no início, ela retira a maldição, o perdoa, e começa a contar um pouco da história: foi abandonada pela mãe aos três anos e criada pela avó. A mãe lésbica a trocou por uma mulher, por isso ela odeia os gays.

No entanto, Inta adoece e liga para Ivars, que não pode ir ao encontro dela. E quando vai as imprecações retornam e ele o amaldiçoa novamente. A partir daí, haverá uma sequência interminável de brigas, insultos, humilhações e agressões. Em uma das vezes, ela pega um pé-de-cabra e parte para cima do diretor, que é obrigado a correr com a câmera na mão.

Ela não o perdoa, mas, quando se acalma, fala o que pensa da vida, discute o filme com Ivars, tenta entender porque ele quer fazer o documentário e, meio à calmaria, ela se enerva de novo. Fica fula da vida porque, no aniversário dela, o diretor não levou nem uma florzinha sequer. E lhe cobra dinheiro e descobre que o filme vai participar de um festival e ela quer receber direitos.

Por fim, ela discute que filme é aquele. Ele diz que é sobre a relação dele com ela. E Inta entende que aquilo não pode desembocar em algo legal. E discute o roteiro com ele, e sugere saídas. Enfim, uma mulher espetacular em um filme ousado, que provoca risos constantes da plateia, mas também reflete sobre como fazer um documentário. Em algum momento, ela lhe pergunta: “por que você aceita tanta humilhação?” O próprio diretor responde aos jornalistas: “Sem isso eu não teria filme”.

E, quase ao final, quando ela avisa que não irá mais voltar, pois seu trabalho terminou, ela recomeça com os xingamentos, sugerindo que ele a usou e, agora, que não precisa mais dela, irá desaparecer.

Ivars conta que isso não aconteceu. Ficou amigo de Inta, que retirou de vez as maldições, foi à estreia na capital, mas obriga-o a enviar cartõespostais de todos os países onde Documentarian passou. E foram muitos: Itália, Finlândia, República Tcheca, Estados Unidos e Israel, entre outros, além de ter ganhado prêmio na própria Letônia, além de ter estreado em toda a Rússia.

Quando o diretor anuncia que não irá voltar mais, Inta sugeriu fazer outro filme. Agora, ela seria uma xamã. Mas Ivars não pensa na possibilidade. Seu próximo projeto, também documentário, é sobre problemas de crianças quando chegam à puberdade.

*O jornalista viajou a convite do festival

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