Página Dupla | Sônia Hess

Do desafio surge a oportunidade

Reconhecimento: presença indiscutível na lista das mulheres mais influentes do Brasil, Sônia Hess foi responsável por alavancar uma das marcas de maior sucesso no cenário da moda; amor, empreendedorismo e muito trabalho fazem parte da história dela e da Dudalina

Thaís Jorge
07/06/2015 às 10:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:23
"Eu aprendi que ninguém consegue ter sucesso na vida sem trabalhar bastante e sem ter bom senso, principalmente. São valores que eles (meus pais) passaram para nós, e é isso que constrói tudo." (Guilherme Gongra)

"Eu aprendi que ninguém consegue ter sucesso na vida sem trabalhar bastante e sem ter bom senso, principalmente. São valores que eles (meus pais) passaram para nós, e é isso que constrói tudo." (Guilherme Gongra)

Foto: Guilherme Gongra "Eu aprendi que ninguém consegue ter sucesso na vida sem trabalhar bastante e sem ter bom senso, principalmente. São valores que eles (meus pais) passaram para nós, e é isso que constrói tudo." A prosa começa com uma viagem no tempo, mais especificamente ao interior de Santa Catarina, na década de 1950. Lá, seo Duda e Dona Lina criaram seus dezesseis filhos, entre os quais a menina Sônia. Para sustentar tanta gente, o casal mantinha uma venda de secos e molhados, que permitia pelo menos garantir o básico da casa. Acontece que, após um erro de cálculo que resultou na compra de tecidos além do que precisavam, uma oportunidade surgiu – ou melhor, foi criada por Dona Lina – e uma das camisarias mais bem-sucedidas do país (e do mundo) começou a nascer. Assim tem início o papo com Sônia Hess, a sexta filha do casal e atualmente uma das mulheres mais influentes do País. Presidente da empresa por 12 anos e hoje membro atuante no Conselho executivo da marca, ela conta que a Dudalina é uma história resultante de muito amor, empreendedorismo e uma dose generosa de trabalho. “Valores são o que constroem tudo e meus pais nos ensinaram muito sobre isso, o que nos guiou durante todo o desenvolvimento e as mudanças pelas quais a marca passou. Deixamos um legado de muitos desafios vencidos, aprendizado e sucesso”, conta. Em conversa com a Metrópole, ela explica sobre o início do negócio da família e divide os desafios e conquistas ao longo da carreira. Metrópole – A Dudalina tem uma história que começou a engatinhar lá atrás, no interior de Santa Catarina, com os seus pais. Você poderia contar um pouco dessa época pra gente? Sônia Hess – Claro. Gosto de contar essa história. Ela começa com o caso de amor dos meus pais, o seo Duda e a Dona Lina, que casaram e começaram um negócio de secos e molhados em uma pequena cidade do interior de Santa Catarina. Meus pais já tinham seis filhos quando eu nasci. Teve uma certa vez em que ela estava grávida e não podia ir para São Paulo fazer as compras da loja, e meu pai foi. Ele não tinha uma veia empreendedora tão forte quanto minha mãe, era um poeta. E aí lembro que ele comprou muito tecido, e não ia vender na loja. Minha mãe viu nisso uma oportunidade e, então, começou a fabricar camisas. Contratou duas costureiras, que trabalhavam dentro da nossa casa, e as peças começaram a vender bem. Isso foi aumentando e ela passou a comercializá-las também na região. Depois, tínhamos representantes, e em 1965 ela comprou uma casa em Camboriú. Lá, começou um varejo para ocupar os filhos. Então ela tinha a indústria e a loja. Em 1969, veio o 16º filho e mudamos com a família toda para Blumenau, para estudarmos. A fábrica foi junto, e as lojas só iam avançando.O que você aprendeu com seus pais quanto a empreendedorismo e persistência? Olha, foi uma lição de vida. Minha mãe trabalhou muito, apesar de ter muitos filhos. E ela não desistia fácil, via em cada desafio uma oportunidade. Eu aprendi que ninguém consegue ter sucesso na vida sem trabalhar bastante e sem ter bom senso, principalmente. São valores que eles passaram para nós, e é isso que constrói tudo. Se você olhar as empresas que estão aí fortes até hoje, os valores são muito parecidos. E tudo isso faz parte de um contexto de vida. Os valores são importantíssimos em um negócio.A partir de quando seu envolvimento direto com a marca começou a ficar mais forte? Nasci na empresa, mas fiquei seis anos trabalhando fora e depois voltei, há 31 anos. Como presidente da empresa, fiquei 12 anos. Quais os maiores aprendizados ao longo de todos esses anos à frente da marca, que já passou por tantas mudanças importantes e só cresceu com elas? O desenvolvimento da empresa, de modo geral, foi um aprendizado muito grande. Para começar, fazíamos camisas só para homens. Depois de um tempo, resolvemos apostar e fazer para mulheres, coisa que ninguém fazia por aqui. Em quatro anos, abrimos mais de 100 lojas. Avançamos muito forte, desenvolvendo melhor nossas marcas, comunicando tudo isso, indo para o varejo, tornando-nos uma marca desejada no Brasil. Foi um aprendizado imenso.Quanto a desafios ao longo desse período, quais mais te marcaram? O dia a dia do empreendedor brasileiro é de desafios. Qualquer empreendedor que está no Brasil e que é comprometido, tem muito a enfrentar. Mas coisas que me marcaram muito e que são interessantes foram sair de uma empresa que, durante 50 e poucos anos era exclusivamente masculina e ir para o feminino, ser industrial e ir para o varejo, esse tipo de coisa. Porque é muito desafiador. A própria geração de empregos é outro ponto, assim como não ser seduzido para comprar tudo na China e sim fazer nossos produtos com mãos brasileiras, etc.Como foi a mudança de foco do público masculino para o feminino? Em que momento surgiu esse insight? Isso aconteceu em 2010, quando fizemos um teste de mercado em Campos do Jordão. Fizemos uma coleção feminina e foi um sucesso imediato. Aí, lançamos para o mercado brasileiro como um todo. Isso já deu a ideia de fazermos uma loja conceito aqui em São Paulo que fica no Paraíso. Nesse momento, já avançamos ainda mais no varejo e a empresa cresceu a passos largos em pouco tempo.Na sua opinião, de que maneira a inserção cada vez maior da mulher no mercado de trabalho se relaciona aos valores e conceito da marca? Tem uma relação muito significativa. Afinal, a Dudalina é fruto de uma mulher empreendedora. Hoje existe mesmo essa inserção feminina, e isso é excelente, pois a mulher sempre teve muitas responsabilidades e um papel muito forte na sociedade, que até há pouco tempo não era valorizado. Ficamos felizes com isso, que é uma conquista, mas olhamos para a pessoa no geral, sempre. Buscamos não discutir gênero, e sim pessoas. E valores, que são os responsáveis por manter qualquer negócio em crescimento, junto com muito, muito trabalho. 

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