perfumaria

DNA campineiro

Parceria da Natura com o Agronômico de Campinas resulta em fragrâncias formuladas com base em óleo essencial de pimenta da Mata Atlântica

Kátia Camargo
02/09/2019 às 14:29.
Atualizado em 30/03/2022 às 17:01

Você já parou para pensar como nasce um perfume? A grande maioria das pessoas nem imagina quanto tempo demora para o produto final - que nasce com o propósito de conquistar mentes e corações – demora para chegar até a prateleira. Se pensarmos um cheiro muitas vezes nos remete a pessoas, lugares, momentos, histórias.Uma coisa é certa: depois de conhecer o caminho percorrido até se chegar a uma fragrância nunca mais se olha um perfume com os mesmos olhos! Os perfumes Química do Humor e Urbano Noite, lançados entre 2018 e 2019 pela Natura, começaram a ser gerados ainda em 2006. E olha que privilégio para Campinas e região: esses perfumes nasceram de uma parceria entre os pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e da Natura. Para se ter ideia da importância dessas fragrâncias que são inéditas na perfumaria mundial elas trazem pela primeira vez o óleo essencial de Piper, uma pimenta da Mata Atlântica. “A parceria permitiu que os estudos que começaram nas matas preservadas no IAC dessem origem a um resultado inédito na perfumaria mundial”, diz Márcia.Em 2006, os pesquisadores partiram para uma imersão na biota da Mata Atlântica de São Paulo – que é uma das regiões mais ricas da biodiversidade brasileira - em busca de potenciais aromáticos. “Por lá foram selecionadas cerca de 120 espécies de plantas. O critério de escolha era basicamente o cheiro”, lembra Márcia Ortiz Mayo Marques, pesquisadora do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que há 29 anos estuda óleos essenciais.Das primeiras prospecções, realizadas ainda nas reservas existentes nas áreas do IAC e nos polos regionais da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), presentes em municípios paulistas, até a etapa em que os óleos essenciais foram transformados em produto, vários estudos foram conduzidos. “Passa, por exemplo, por processos de extração dos óleos essenciais das espécies, também se faz uma análise da composição química, a perfumista faz uma avaliação olfativa e seleciona as que mais interessa”, conta Márcia. Só depois de muitas pesquisas é que perfumista formula a fragrância. “Foram 12 anos até se chegar ao produto final”, conta. Outra parte bonita dessa história é que o projeto alia o uso da biodiversidade brasileira com conservação ambiental. “Jamais tiramos a planta de onde ela está. Buscamos tecnologias sustentáveis para o manejo adequado da flora aromática nacional”, conta Márcia.Segundo a pesquisadora, após o estudo desenvolvido com financiamento da Natura, foi transferida para a empresa a tecnologia de cultivo. “Apesar de a espécie utilizada ser abundante, fizemos o cultivo justamente para preservá-la”, diz Márcia. Nas pesquisas também foram descobertas outras espécies promissoras, todas repassadas à Natura.Segundo destacou o Time de Ingredientes da Natura essa parceria é considerada muito relevante e referência de sucesso pois une competências complementares e esforços para disponibilizarmos ingredientes que são globalmente inovadores e aplicáveis à principal categoria de produtos da empresa.Sobre os perfumes No perfume #urbano, a abordagem é de uma marca jovem da Natura com uma fragrância marcada por notas vibrantes, modernas e aromáticas com a pimenta trazendo um toque de ousadia e personalidade única. Já no perfume Química do Humor, uma marca descontraída também voltada ao público mais jovem, o ingrediente entra para trazer contraste e agregar uma experiência surpreendente ao lado das notas de romã, fruta explosiva e afrodisíaca.Premiados Em 2014, o IAC esteve entre os premiados pela empresa, a maior fabricante brasileira de cosméticos, no Programa Qlicar, na categoria iQlicar – Desenvolvimento de Tecnologia. O reconhecimento foi feito pela bioprospecção de ingredientes. “Em 2010, também já havíamos recebido outro prêmio pela pesquisa, o que mostra o reconhecimento desse estudo que resultou em um produto nacional”, diz a pesquisadora do IAC, que continua estudando plantas nativas do Cerrado.De acordo com a pesquisadora, a parceria entre IAC e Natura permitiu o estudo da biodiversidade dessas regiões em busca de novos óleos essenciais. Estas pesquisas incluíram análises químicas, olfativas, genéticas, taxonômicas e a fisiologia das plantas, além da propagação das espécies selecionadas com potencial olfativo — todas nativas da Mata Atlântica. A equipe buscou também descobrir se, além dos fatores genéticos, os ambientais também influenciam a composição química dos óleos essenciais. As análises mostraram que os óleos essenciais se diferem de acordo com os lugares onde ocorre a planta.Segundo a pesquisadora, as informações resultantes da pesquisa viabilizam o uso sustentável das espécies, sua domesticação e cultivo, eliminando o impacto do extrativismo predatório. “A exploração comercial desses recursos genéticos deve levar em conta, além do fornecimento contínuo dos óleos essenciais, a fundamental conservação dos ecossistemas”, diz Márcia.Para ela, sem conhecimento científico, podem ser perdidas oportunidades da adoção sustentável da riqueza natural brasileira, composta por mais de 55 mil espécies catalogadas, de um total estimado entre 350 mil a 550 mil. “Temos no Brasil a maior diversidade vegetal do mundo, com possibilidades de fontes de corantes, óleos vegetais, gorduras, fitoterápicos, antioxidantes e óleos essenciais para os setores de produção”, diz a pesquisadora.

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