Ator faz também sua estreia como dramaturgo após três intensos anos de pesquisa
Espetáculo marca a estreia do ator como dramaturgo (Divulgação )
O ator Diogo Vilela pode se considerar um especialista em interpretar no teatro grandes nomes da música brasileira. Depois de Nelson Gonçalves no espetáculo Metralha, em 1996, e o excêntrico Cauby Peixoto em Cauby, Cauby!, em 2006, conseguindo sucesso de público e crítica, ele encarna agora ninguém menos que o compositor de Aquarela do Brasil.
Em Ary Barroso - Do Princípio ao Fim, em cartaz neste final de semana no Theatro Municipal de Paulínia, mais do que dar vida a uma das figuras exponenciais da música brasileira pré-bossa nova, Vilela faz também sua estreia como dramaturgo após três intensos anos de pesquisa.
E se revezar nas funções de autor, diretor e ator protagonista do espetáculo dá a ele tanta liberdade que ele confessa: “Ary Barroso não tem nenhum atrativo como pessoa. Ele é um anti-herói”. Algo que, durante a mesma conversa com a reportagem, o ator se arrependeu de ter dito.
“O que eu quero dizer é que eu tive que criar muitos conceitos na história, criar uma persona. Estamos diante de uma interpretação de uma persona, e eu acho interessante um ator fazer isso, porque também é um trabalho técnico e, ao mesmo tempo, atrativo. Só posso dizer que sou felicíssimo nesse papel porque ele me ajuda e me ensina muito. Não devia ter falado isso”, completa Vilela.
Em outras palavras, como autor, para construir uma peça que fosse além da obra magistral do compositor mineiro, ele precisava transformá-lo também em um indivíduo empático. “Eu tentei colocar alma nisso tudo. Digo que é um anti-herói porque ele não é um personagem com características românticas, por exemplo, mas alguém com um temperamento bem diferente”, continua.
Tudo isso surgiu para Vilela cerca de um ano após ele iniciar as pesquisas sobre o personagem, já que, num primeiro momento, ele decidiu se debruçar exclusivamente sobre a obra do autor. “Fiquei um ano mais ou menos trabalhando apenas em cima do repertório, só depois, quando entrei na pessoa, principalmente quando li Recordações de Ary Barroso - Último Depoimento, de Mário de Morais, e tive contato com a família, que fui conhecendo mais quem ele era.”
No começo, conta Vilela, a ideia era fazer uma peça política, sobre um compositor que via sua arte morrer. “Mas desisti porque a natureza me deu outra inspiração. Ficou uma dramaturgia fragmentada, mas achei que era a melhor maneira de contar, que é através da morte. Assim, posso mostrar tudo. Tanto que acho possível entender o autor como um todo. Todos os principais fatos, tudo dito pela filha, a vida dele com a mulher, estão ali. Conseguiu honrar com isso.”
O musical situa Ary Barroso (1903-1964) em seu leito de morte, mais especificamente no domingo de Carnaval em que a escola de samba Império Serrano iria homenageá-lo com o samba-enredo Aquarela Brasileira. Nesse momento, Ary Barroso vai relembrando sua trajetória, a criação de seus grandes sucessos e também a amizade com outras personalidades.
No elenco, Tânia Alvez vive Ivone, mulher de Ary, e há ainda os atores e cantores Mona Vilardo como Aracy Cortes e Alda Garrido, Lu Bollina como Carmem Miranda, Reynaldo Machado como Moreno e Alan Rocha, Esdras De Lucia e Carlos Leça como os sambistas da Império Serrano.