ig-antonio-contente (AAN)
Medo de voar é um belíssimo assunto para cronistas, escritores, psicólogos, fabricantes de ansiolíticos, conselheiros de mesa de bar etc. O tema é tão interessante que até exato percentual já foi levantado por um desses institutos que pululam por aí: 40% dos brasileiros não morrem de amores por flanar no espaço. O que, num primeiro momento, como efeito colateral, tolhe o sagrado direito de ir e vir de muita gente. Sei, por exemplo, de pessoas que mesmo tendo numerário suficiente para viagens internacionais, além de fundos desejos em fazê-las, não as realizam por medo de subir nos aviões. Já outras adoram tanto os jatos para grandes percursos que não podem ver um que entram. Neste caso está minha amiga Geni, esposa do empresário Jayme Delgadinho: tem tal intimidade com os gigantes voadores que se, num percurso sobre o Atlântico a tripulação morresse de repente com ela e o marido a bordo, assumiria o comando tranquilamente e colocaria o aparelho, com mão firme, em chão seguro.Livros que se propõem a ensinar pessoas a vencer o medo de voar conheço pelo menos meia dúzia. Um dos mais procurados é “Safe Journey”, de Júlia Cameron. A autora oferece várias sugestões para quem quer viajar de avião numa boa. Uma delas: “Pegue caneta e escreva, num papel, piedosa oração. Leve para bordo e comece a ler assim que o bichão subir aos céus”...Bom, na realidade conto tudo isso porque a imprensa noticiou, faz alguns dias, que a presidente Dilma Rousseff tem tremenda paura de viajar de avião. Soube-se dessa circunstância, estranhíssima para quem é obrigada a estar todo instante a bordo do Aerolula, pelo seguinte: com o famoso aparelho tendo entrado certa vez em zona de turbulência, a atual mandatária do Palácio do Planalto teria dado tremenda descompostura no pobre comandante. Acusando-o, dedo em riste, de não saber desviar dos “cumulus nimbus”. Consta que agora, assim que o aparelho presidencial ganha altitude, a doutora Dilma invade a cabine de comando a indicar os caminhos celestes que devem ser seguidos. Isso, certamente, só não vai terminar mal porque o pessoal da FAB que pilota, como se verá mais adiante, é muito bom, muito safo...Os que gostam de contar e recontar a saga da atual presidente adoram lembrar que, no tempo em que era terrorista, ela seria dona de incomum destemor. Para ilustrar relembram episódio ocorrido numa das vezes em que o hoje poste do Lula se viu encurralado pela repressão à época da ditadura militar. Diante do milico que enfiara no peito dela um horripilante fuzil, bradou, com bravura indômita: — Vamos lá, se você for homem, atire! Estou esperando, vamos lá, atire!Está claro que o camarada amarelou, não atirou e o resultado é esse que está aí.É lícito, para quem se dispõe a escrever sobre o pavor que a doutora tem de voar, lembrar que, quando se vê tomada pelos pepinos de ser presidente desta República, ela costuma se enfiar no Air Bus presidencial para vir a São Paulo pedir conselhos para o primeiro-ministro, digo, para o ex-presidente Lula. No curto voo de cerca de lh20m entre Brasília e a capital paulista, a presidente, colocada atrás do comandante, vai ensinando como o aviador deve agir para que o mastodonte aéreo não balance. Está claro que o hábil aeronauta que se encontra na poltrona da esquerda da cabine ouve o que ela diz, faz exatamente o contrário e acaba sempre levando a viagem a transcorrer com bom princípio, bom meio e bom fim. Isto posto, com chão sob os pés, a santa senhora segue de Congonhas para o Instituto Lula, onde passa horas a receber orientações do padrinho sobre como conduzir esta combalida nação no rumo que o PT acha certo. Justamente aí pinta a grande dicotomia. Pois está claro que o oficial da FAB comandante do Aerolula faz as viagens sempre chegarem a bom termo exatamente por não seguir nenhuma das orientações de Dilma. Já ela, obedecendo cegamente tudo o que o estadista de Garanhuns ordena, cria condições para que sejam gerados comentários iguais ao que ouvi de um colega, há dias, no Café Regina.— Cada vez que a Dilma vem a São Paulo pedir orientações para o Lula, o Brasil anda mais um pouco no rumo...— Rumo de que? — Indago, surpreso.— Do abismo, não é?