FABIANA BONILHA

Diga sim

Fabiana Bonilha
04/07/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 09:56

Com apenas três letras, “sim” é uma palavra muito pequena, e, talvez por isso mesmo, é uma palavra que tantas vezes se diz de maneira impensada. Por dia, dizemos inúmeros “sim”, respondendo a nós mesmos perguntas bastante triviais:

Quero ir almoçar agora? Vou vestir esta roupa que peguei no armário? Vou estar presente a esta reunião de trabalho? Vou me empenhar arduamente para realizar esta tarefa? Preciso descansar agora ao invés de trabalhar? Vou comparecer a este aniversário para o qual fui convidada?

Embora pareça muito simples e automático responder a todas estas indagações cotidianas, cada uma destas respostas é produzida às custas de um intenso esforço mental.

Para além destes pequenos “sim” diários, há também outros, que requerem maior reflexão, e que tem consequências a longo prazo. Dizemos sim ao escolhermos cursar uma graduação, ao aceitarmos uma oportunidade de emprego ou ainda ao firmarmos um laço matrimonial.

Todo “sim”, por menor que seja seu impacto, implica o exercício de nossa liberdade, e, por conseguinte, a atuação de nossa responsabilidade. Para que possamos dar uma resposta bem-sucedida, precisamos dizer “sim” conscientemente, e necessitamos buscar, em nosso coração, o real sentido de nossa escolha. Todo “sim” resulta do nosso autoconhecimento, e da capacidade de discernirmos, em função de nossas possibilidades e limites, nossas reais condições para aceitarmos uma determinada proposta.

Além disso, dizer “sim” é, antes de tudo, uma atitude radical. Em um “sim” não cabe “talvez”. “Maria, você aceita João como seu legítimo esposo?”

“Talvez”, responderia ela ao padre, de forma indecisa. Acaso se concretizaria um casamento desta maneira?

Do mesmo modo, dizer “sim” à construção de um mundo acessível pede um igual radicalismo. Assim como não existe “meio casamento”, não existe acesso pela metade. Garantir meio acesso a alguma coisa significa garantir acesso nenhum. A acessibilidade pressupõe uma atitude universal, e, por isso, a ela não cabem restrições nem concessões. Neste sentido, prover uma acessibilidade parcial não resulta em uma real transposição de barreiras, e não assegura a plena participação social de todas as pessoas, inclusive daquelas que têm alguma deficiência.

E por fim, cabe também considerar que a sabedoria para dizer “sim” pressupõe a capacidade de dizer “não”. Na verdade, estes são dois lados da mesma moeda. Dizer “sim” a um desafio que pretendemos assumir significa dizer “não” à sua recusa, e também significa dizer “não” a tudo o que deveremos renunciar em favor deste propósito.

O número de acertos em relação aos “sim” que dizemos é um índice de maturidade, que revela o quanto sabemos sobre nós mesmos e o quanto somos capazes de nos comprometer com a nossa vida. Quando dizemos “sim” de maneira consciente, livre e responsável, entramos em contato com a nossa própria verdade e nos tornamos realmente protagonistas de nossa história.

* Fabiana Bonilha, Doutora em Música pela UNICAMP, psicóloga, é cega congênita, e escreve semanalmente no E-Braille. E-mail: [email protected]

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