Já é possível ver pelas ruas algumas tímidas manifestações pró-Copa. Aqueles panos verdes e amarelos começam a enfeitar os botecos, bem como as bandeirinhas do Brasil estão instaladas nos vidros de alguns carros, que, por sua vez, passam por lojas que deixam nas vitrines cornetas e outros badulaques à mostra no cantinho das vitrines. Mas é muito pouco, perto do que seria em outros tempos. Ainda mais por ser uma Copa no nosso quintal.Deve ter por aí — sinceramente, ainda não vi — ruas enfeitadas ou muros pintados com incentivos à Seleção Brasileira e aos jogadores, coisas comuns meses antes do evento mais esperado pelos brasileiros. Mas o clima para essa Copa está diferente. E não imaginaria que um dia poderia escrever isso: que bom que está diferente! Sempre fui adepto de enfeitar a casa em ano de Mundial. Anos atrás, minha mãe costurou um bandeirão, que era devidamente instalado na garagem pela manhã e só retirado à noite.Só que dessa vez, o clima está diferente. A festa de outros tempos deu lugar à percepção da situação do País. Foi preciso que uma Copa do Mundo viesse ao Brasil para a maioria do povo enxergar a farra do boi que acontece por essas bandas.É claro que muita gente sabia, em 2007, quando a Fifa anunciou o Brasil como sede, que haveria gastos a mais que os previstos, que os estádios seriam entregues em cima da hora, e que as outras obras não sairiam do papel. Mas, agora, muito mais gente está atenta para os mandos e desmandos do governo, que altera leis em benefício de uma entidade privada de fora do País, que visa o maior lucro possível a custo quase zero para ela.Que bom que o Brasil acordou para ver tudo isso e cobrar respostas, mas, mais que isso, cobrar investimentos onde realmente precisamos. Não se faz Copa com hospitais, como disse Ronaldo, mas não se faz saúde com estádios. Não se faz educação com chutes no traseiro. Não se faz segurança com promessas e tapinhas nas costas. Enquanto boa parte da população não tem o que comer em casa, serviremos caviar e champanhe importados para a cartolagem se fartar nos estádios.Devemos ficar indignados com tudo isso. Temos razão de ir para as ruas e exigir mudanças. Para não fazer com que essa Copa do Mundo sirva apenas para enriquecer ainda mais a dona Fifa, que irá embora daqui após o apito final no Maracanã sem olhar para trás. Que essa Copa seja o ponto de partida para o Brasil crescer como País. Para termos orgulho de estampar as bandeiras em nossas casas daqui para a frente.