Apesar da manifestação pacífica, em sua grande maioria, cidade teve rastros de destruição
Assim como em muitas capitais e cidades brasileiras, o dia seguinte aos protestos em Piracicaba foi de contabilizar os prejuízos causados por atos de vandalismo. Nesta sexta-feira (21), os rastros de destruição provocados na quinta (20) eram facilmente percebidos. Uma das áreas mais afetadas foi a região central, próximo ao TCI (Terminal Central da Integração), ponto de maior concentração dos manifestantes. Apesar das lojas do centro terem sido fechadas no meio da tarde para evitar possíveis depredações, alguns comerciantes tiveram os seus estabelecimentos parcialmente destruídos.
O comerciante Marcelo Ferrari, da Mania Games, estima que foram saqueados de sua loja cerca de R$ 80 mil em equipamentos. Somente de videogames foram mais de 30. Ainda inconformado com a situação encontrada em sua loja, Ferrari disse que já acionou o seu advogado e que deseja entrar com um processo. Nesta sexta, funcionários varriam os estilhaços das vidraças que foram quebradas. Uma porta de aço encontrava-se jogada no meio da calçada. Ele disse que por volta das 20h de quinta foi surpreendido pela Central de Alarmes e foi até o local verificar o que tinha acontecido. "Quando cheguei já não havia mais ninguém na loja, mas a destruição estava por todos os lados". Sua loja fica a um quarteirão do TCI.
Na Rossini Bike, também próxima ao terminal, os prejuízos foram de cerca de R$ 20 mil, segundo o proprietário Antonio Dirlei Rossini. Em sua loja, foram furtadas 15 bicicletas (três delas já tinham sido recuperadas nesta sexta), além de patins e outros produtos. Rossini disse que não é contrário ao manifesto, mas, sim, a todo tipo de vandalismo.
Outra loja muito danificada foi a Pink Biju. Segundo a gerente Alessandra Moraes, o prejuízo foi de cerca de R$ 15 mil. Foram roubados bolsas e bijuterias, além de muitos estragos em vitrines. "Sou favorável aos manifestos desde que as pessoas não destruam as coisas públicas", disse.
Nas ruas, a sensação de indignação também foi grande por parte da população. A aposentada Zenaide Defavari Libardi, de 70 anos, considera um absurdo o que os vândalos tinham feito em muitos lugares.
"Os comerciantes não deviam pagar por esse prejuízo. Eles devem cobrar da Prefeitura porque tudo isso está acontecendo porque não baixaram o preço das passagens do transporte coletivo". O mecânico José Cardoso, de 34 anos, também disse não concordar com as cenas de violência.
A Câmara dos Vereadores também foi alvo de protestos, já que manifestantes jogaram ovos no prédio. As atividades foram suspensas na quinta. O vereador Gilmar Rota (PMDB) disse que seu gabinete recebeu uma ligação anônima de uma voz feminina no início da tarde ameaçando os vereadores. O presidente da Casa, João Manoel dos Santos (PTB), confirmou que o gabinete de três vereadores foram ameaçados. Além de Rotta, receberam ameaças os gabinetes dos vereadores Matheus Erles (PSC) e Chico Almeida (PT).
Guarda Civil apedrejada
Durante o Ato Público de Apoio ao Manifesto Nacional de quinta-feira (20), o Posto da Guarda Civil de Piracicaba, localizado no Parque do Mirante, teve um vidro quebrado após ser atacado com pedras. A informação foi divulgada nesta sexa-feira, por nota da administração municipal.
Além do dano ao patrimônio público, um guarda que estava no TCI (Terminal Central de Integração) foi atingido na cabeça e encaminhado a uma unidade de pronto atendimento.
O protesto ocorreu das 17h às 22h30. Após concentração na praça do TCI, os manifestantes saíram em passeata pela avenida Armando de Salles Oliveira até as pontes do Mirante. Depois de subirem a rua do Rosário, passaram pela Câmara de Vereadores, na Praça José Bonifácio e retornam ao TCI.
Para o integrante do movimento Pula Catraca, Arary Galvão, a adesão da população deixa claro que não há justificativa para que a prefeitura não revogue o aumento. “O Governo Federal já tirou alguns impostos do transporte público. Essa é a luta da população por qualidade do serviço e por um preço justo”, afirma.
Segundo balanço do movimento, cerca de 20 pessoas ficaram feridas após serem atingidas por spray de pimenta e tiros de balas de borracha. “Até o momento em que não havia a guarda, não houve atitudes de agressão ou vandalismo. A reação da guarda, que começou a agressão, gerou irracionalidade. As pessoas, no desespero, correram para todos os lados, o que também criou perigo de pisoteamento. No momento do pânico, as coisas saíram do controle”, afirma. “O prefeito Gabriel Ferrato demonstrou que é inoperante e incapaz de gerir a sociedade. Teve seis meses para tomar uma atitude e não fez nada. A mobilização de ontem (quinta) e o número de manifestantes que foram às ruas, é a vitória do ato”, acrescenta.