TADEU FERNANDES

Desenvolvimento

Tadeu Fernandes
19/05/2014 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 13:38

Desde o nascimento, a criança passa por diversas fases em seu processo de desenvolvimento, e essas precisam ser monitoradas pelo pediatra. Dentro da Pediatria, porém, há uma área específica chamada Puericultura, composta por consultas sequenciais de rotina, voltadas, principalmente, aos aspectos de prevenção e promoção da saúde, atuando no sentido de manter a criança saudável para garantir seu pleno desenvolvimento, de modo que atinja a vida adulta sem influências desfavoráveis e problemas levados da infância.Na Puericultura, realizamos ações que priorizam a saúde em vez da doença, bem diferente da consulta em prontos-socorros (PS). Entretanto, dados e pesquisas mostram uma crescente utilização dos serviços de emergência para queixas nada condizentes com esse ambiente. Um recente levantamento avaliou os motivos, e as respostas dos pais surpreenderam: seis em cada dez pacientes buscam o PS sem ter um real motivo de urgência. E as justificativas são preocupantes.A resposta mais frequente foi “No PS, os horários são mais acessíveis, à noite, final de semana, e assim não atrapalham o dia a dia no emprego”. Mas há outras: “É bom porque não tem necessidade de agendar a consulta” e “No PS os exames são feitos na hora e os resultados saem de imediato”. Assim fica fácil entender o motivo da superlotação nos serviços de emergência, um total desrespeito ao paciente emergencial. Sem contar que essa “PSmania” passa a substituir as consulta de Puericultura, com objetivos específicos de promoção da saúde, não simplesmente de tratamento de doenças.A criança, desde o nascimento, passa por um período de rápido ganho de peso e de estatura, além do desenvolvimento neuropsicomotor, que evolui rapidamente de uma condição de vida dependente para uma vida de relacionamentos com os pais e o ambiente familiar, ganhando autonomia progressivamente. Herdamos de nossos pais uma carga genética, que sofre marcante influência do meio ambiente, modernamente chamada de Epigenética. A importância de monitorar esse passo a passo fica cada vez mais evidente nos estudos científicos. Os efeitos danosos e as adversidades precoces sofridas na primeira infância irão repercutir no futuro em baixo desempenho na aprendizagem, distúrbios de comportamento e prejuízos para o bem-estar físico e mental.As crianças precisam muito mais do que boa alimentação. Os pais se preocupam em demasia se o filho está engordando ou não. Parece que apresentar à sociedade uma criança “fofinha” é um atestado de bons cuidados, mas não é só isso. Um estudo realizado no Rio Grande do Sul com 3.855 crianças avaliadas aos dois e quatro anos de idade mostrou que aquelas que tiveram contato com livros e cujos pais leem historinhas, que brincam com outras crianças, frequentam parques ou praças nos primeiros 720 dias de vida apresentaram melhores resultados em testes específicos de memória, inteligência e cognição.Crianças que são acompanhadas na Puericultura e passam pelo processo de prevenção de anemias e outras deficiências nutricionais também têm melhores resultados em testes cognitivos. Enfim, desde o nascimento, mês a mês, elas precisam de avaliação e os pais, de orientações – se um dia os filhos tiverem febre, tosse ou diarreia, por exemplo, eles estarão orientados quanto ao manejo, sem a necessidade de correrias e consultas em PS, onde as condutas são previsíveis, mas, às vezes, totalmente equivocadas.A Sociedade Brasileira de Pediatria está em plena campanha de resgate da Puericultura, valorizando esse procedimento ímpar para o futuro de nossas crianças. Frederick Douglas conseguiu resumir em uma frase nossa meta atual: “É mais fácil construir uma criança forte do que reparar um adulto quebrado”.

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