MOACYR CASTRO

Desculpas

03/11/2013 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 23:14

Dia de aula de ginástica era só vestir a camiseta, as calças sobre o short, calçar o par de tênis e rumar para o colégio, ali pertinho (seo Stucchi abominava ‘sete vidas’, lembra?). E escapar da aula, só se estivesse com febre. Subi a arquibancada do “Alberto Krum”, desabotoei as calças e... Vixe! Esqueci do short! “Em forma, coluna por quatro, para a chamada”. Ele me viu com roupa e tudo e perguntou. “Gripe, professor.” Dispensado, sai mancando. “Castro, volte! Está com gripe e sai mancando?” Expliquei o vexame. “Pois vai fazer de calça, mesmo.”. Ainda naquele templo, um aluno voltou atrasado do intervalo e a professora (acho que foi a ‘matemática’ Madalena Vidotti) perguntou o motivo. O jovem disse que estava no banheiro. Em seguida, sem ouvir a desculpa do colega, o José Carlos Amin justificou: “Eu estava ajudando ele...”. Essa virou piada além dos muros da Hércules Florence, Barão de Itapura, Culto à Ciência e Delfino Cintra: o quadrilátero mágico do conhecimento. Um aluninho maluquinho jogou uma bola de papel, que resvalou o rabo de cavalo da Beatriz Biasi Purchio e bateu na testa de uma professora. Ela perdeu a paciência: “Pegue esta bola e vá jogá-la na sua mãe!”. A desculpa foi constrangedora: “Eu não tenho mãe...” Silêncio. Quando o maluquinho chegou em casa, a professora que tomara a bolada estava lá, conversando com a mãe dele. Dona Gladys, durona e adorada inspetora de alunos (e alunas), entrou antes do seo Benê, mestre do Latim, e ordenou: “Quem estiver sem meias pretas, fora da classe!” (Quando dona Gladys dava uma ordem, até o busto do ex-diretor Aníbal Freitas, lá no portão do “Alberto Krum”, ficava em posição de sentido.) Ela passou a turma em revista e flagrou o Mané, amigo do Edmilson Siqueira, com as calças bem abaixo do umbigo (um perigo!) para esconder as canelas e os pés. Tomou um esculacho, depois da desculpa mais esculachada que lhe veio à cabeça: “A senhora falou para quem estivesse sem meias pretas, mas eu estou só sem meias, ora!” Foi procurá-las até onde Judas perdeu as meias. Agora, veja como muda a natureza (e a índole) das desculpas, quando se sai das salas de aula e se mergulha em ninho de abutres. Semana passada, na cidade de Dumont, uma cidadã, cansada de discutir com a Prefeitura a melhor forma de cuidar da mãe, com câncer terminal, foi ao ninho do prefeito Adelino da Silva Carneiro (PSD). Ela contou ao jornal “A Cidade” que, além da recusa, foi chamada de sem-vergonha e ouviu do político esta desculpa: “Não adianta dar atendimento à sua mãe, se ela vai morrer do mesmo jeito.”. Ele levou apenas um tapa na cara, dado pela filha desesperada. Pregado no poste: “Com um prefeito desses, pra que black bloc?”

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