JOGO RÁPIDO

Derrotando fantasmas

Coluna publicada na edição de 16/8/2016 do Correio Popular

16/08/2016 às 06:00.
Atualizado em 22/04/2022 às 22:57

Poucos torcedores que acompanham os Jogos Olímpicos têm noção de como é difícil — muito difícil — para qualquer um chegar a uma competição que reúne a nata do esporte mundial. Todos sabemos que o nível de competitividade é altíssimo e que o tempo dedicado aos treinos é enorme. Mas para chegar a uma Olimpíada é preciso muito mais do que isso. Diego Hypolito, por exemplo, já se submeteu a dez cirurgias. E falamos de um atleta de 30 anos, que começou a praticar o esporte aos 7. A média é superior a duas cirurgias por ano de carreira, mas na prática é muito pior do que isso porque as lesões se concentram em um período bem menor. Imaginem o quanto é preciso se dedicar na recuperação e na retomada dos treinos para continuar entre os melhores do mundo. É um sacrifício que só mesmo quem faz parte da vida de um atleta olímpico consegue dimensionar. Mas existem alguns adversários ainda maiores. Mais incompreensíveis. Inimagináveis. Diego Hypolito precisou superar muito mais do que alguns dos melhores ginastas do planeta. Superou uma barreira que nem mesmo dez cirurgias foram capazes de erguer. Na Rio-2016, Diego enfrentou — e venceu — seus medos. E, nesse caso, nem mesmo quem convive com ele deve ter ideia de como foi difícil. Bicampeão mundial, Diego Hypolito foi a Pequim e a Londres como favorito ao ouro. Extremamente emotivo, não conseguiu repetir em duas Olimpíadas os movimentos que fazia com precisão nos Mundiais. Ao invés do ouro, sofreu com duas quedas humilhantes que o atormentaram durante anos. Foi impiedosamente criticado. O pesadelo acabou com a prata no Rio. Diego conta que durante sua apresentação começou a pensar na queda de Pequim. Mais do que ninguém, ele sabia que outra falha, em casa, daria nova dimensão às críticas. Mais do que ninguém, ele sabe quanto sofreu por falhas em momentos decisivos. Mas Diego venceu seu maior adversário. Completou sua série, tirou 15,533 e conquistou a medalha de prata. E é nesse instante, quando todos os fantasmas são derrotados, que o sacrifício de uma vida vale a pena. Sacrifício do treino árduo, das dez cirurgias, da fisioterapia, da dor e da pressão psicológica de, mesmo sendo bicampeão mundial, ser visto por milhões de brasileiros como um fracassado amarelão. Diego Hypolito venceu Diego Hypolito. E não deve ter sido nada fácil.

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