Nasce um bebe, que alegria! Os olhos são do pai, a boca da mãe, a orelha da avó, parece um quebra cabeças sendo montado, mas as dobrinhas... Olha as dobrinhas do cotovelo, do joelho, do pescoço.... Por que a pele está assim, tão seca, vermelha e irritada? Olha as bochechinhas também estão iguais, o que será que ele tem? Este é o começo de uma longa história, de idas e vindas ao pediatra, ao alergista, ao dermatologista, enfim, uma via sacra que termina com o diagnóstico de Dermatite Atópica (DA); uma doença dermatológica que aumentou sua prevalência em 300% nas últimas décadas, a ponto de se criar o Dia de Conscientização da Dermatite Atópica, 23 de setembro. No passado falávamos de diarreia, pneumonia, sarampo, entre outras doenças infecciosas, entretanto, graças às vacinas, saneamento básico, maior acesso aos serviços de saúde e uma crescente conscientização da população aos métodos básicos de higiene vimos uma notável redução nestas doenças. Por outro lado, veio o processo de urbanização e com ele a poluição atmosférica, a falta de exposição ao sol, os hábitos alimentares entraram em uma seara de alimentos processados e ultraprocessados, aumentaram os partos do tipo cesariana, o aleitamento materno exclusivo em baixa, e principalmente, aumentou de modo significativo o processo de estresse em adultos e crianças. Este é o cenário ideal para esta doença inflamatória crônica chamada Dermatite Atópica (DA), caracterizada por uma pele seca com lesões avermelhadas e uma coceira intensa que acomete 20% das crianças, em todo mundo, normalmente aparecendo nos primeiros anos de vida. A DA se manifesta em pessoas com histórico familiar de alergia, muitas vezes está associada a outras condições alérgicas como asma e rinite. Trata-se de uma doença inflamatória crônica da pele, caracterizada por crises de coceira que leva a lesões, irritação local e um extremo ressecamento. Ela costuma aparecer em áreas especificas de acordo com cada fase da doença, em crianças é mais frequente nas dobrinhas. A DA é geneticamente determinada, mas o que define os períodos de crise são os fatores desencadeantes externos, uma vez que o sistema imune é hiper-reativo a eles. Alguns exemplos desses estímulos em bebês e crianças são o bolor ou mofo, os ácaros dos travesseiros, colchões, cortinas e carpetes, derivados do sabão, amaciantes e fragrâncias atualmente presentes quase tudo que se usa em bebes e crianças. Destaco a questão emocional, este é um dos grandes gatilhos para crises de agudização da DA, eu digo para meus pacientes: o estresse acorda a DA! É importante que os sintomas da doença não entrem no ciclo vicioso: irritação, coceira, lesões localizadas, contaminação por germes com habitat na pele, infecção, feridas, estresse, coceira e por aí vai. A pele vai ficando marcada por lesões agudas, novas, vermelhas, e outras mais antigas já cicatrizadas e/ou crostosas; vai se criando um estigma de criança com a pele “feia”, muitas vezes essas crianças são discriminadas por amiguinhos, parentes, professoras, entre outras. A DA não é uma doença contagiosa, é genética, é herdada, não adquirida. Este é o objetivo deste dia de conscientização, precisamos saber que é uma doença crônica, com épocas de agudização, mas preveníveis pela redução dos fatores de agravo já citados, e principalmente, pela boa hidratação da pele feita por cremes hidratantes específicos hipoalergênicos. Para tratar a dermatite em bebês e crianças é importante investigar as causas que estão agindo como desencadeantes das crises; desde a alimentação, até os hábitos de limpeza e as questões emocionais. Além disso, é fundamental a conscientização, de todos, do caráter não transmissível da doença. Com acompanhamento médico, o prognóstico da DA é favorável, cerca de 60% das crianças apresentam diminuição ou desaparecimento completo das lesões antes da puberdade, mas para isso são fundamentais um diagnóstico e um tratamento precoce, e principalmente o conhecimento desta “nova” doença do mundo moderno. Tadeu Fernando Fernandes é médico pediatra e presidente da Regional Campinas da Sociedade Brasileira de Pediatria