Coluna publicada na edição de 12/11/19 do Correio Popular
Pela primeira vez desde 2004, um Dérbi no Brinco de Ouro terminou sem gols. Mais do que o placar raro, o confronto de 2004 entrou para a história do clássico por outro motivo. Um triste motivo. Naquele 24 de outubro, 10.094 torcedores compraram ingresso para ver um Dérbi válido pelo Brasileirão. Desde então, os times só se encontraram na Série B ou no Paulistão. Embora tenha voltado a disputar a divisão de elite em 2010, sem a companhia da rival, o Guarani tem uma responsabilidade maior nesse jejum de Dérbis na Série A. O time não apenas ficou muito tempo distante do Brasileirão, como ainda sofreu com várias temporadas na Série C. A Ponte Preta chegou a fazer boas campanhas na Série A, com direito a um 8º lugar em 2016. Não dá nem para comparar com o timaço de 1981, mas foi a melhor campanha do clube no formato atual. Campeão brasileiro em 1978, vice-campeão em 1986 e 1987 e semifinalista em 1982 e 1994, o Bugre tem um histórico bem superior ao da Macaca, semifinalista em 1981. Na era dos pontos corridos, os papéis se invertem. De 2003 em diante, o alviverde disputou 130 partidas na Série A e conquistou 147 pontos. No mesmo período, a alvinegra fez 362 apresentações como clube de elite, conquistando 432 pontos. Esse período coincide com o de fortes mudanças nas finanças de um clube de futebol. Tanto a arrecadação como os gastos subiram demais e o Guarani apenas observou esse período de profundas transformações. O seu CT é exatamente o mesmo utilizado por Amoroso quando ele apenas uma grande promessa da base. Vários departamentos de apoio que foram criados nas últimas décadas são precários ou simplesmente não existem no Brinco de Ouro. Tudo isso explica porque o time deixou de disputar Dérbis na elite para enfrentar adversários pouco conhecidos na inexpressiva Série C. A Ponte, com estrutura superior, disputou nove edições de Série A com pontos corridos. Em 2020, vai disputar a Série B também pela nona vez. O clube acaba de desperdiçar mais uma chance de voltar à elite. O fato de ter saído de campo no sábado com um 0 a 0 foi comemorado porque atuou na casa do rival e manteve um tabu de sete anos no Dérbi. Mas completar uma sequência de sete rodadas sem uma vitória sequer na Série B é um sinal de alerta para a diretoria. Para voltar a frequentar (e permanecer) na Série A, será preciso fazer mais do que o time apresentou a sua torcida nesta Série B. Quantos anos mais teremos que esperar para ver um Dérbi de elite?