RUBENS MORELLI

Deputados no octógono

Rubens Morelli
rubens.morelli@rac.com.br
30/08/2013 às 15:01.
Atualizado em 25/04/2022 às 03:48

Um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados prevê a proibição das transmissões televisivas de qualquer evento de lutas marciais não-olímpicas. Se aprovado, o UFC, principal torneio de MMA (Artes Marciais Mistas, na sigla em inglês), não poderá ser exibido no Brasil. No debate promovido nesta semana em Brasília, os deputados discutiram se a transmissão do evento serve de entretenimento ou para banalizar a violência.Não sou o maior fã do UFC, mas sou totalmente contra qualquer tipo de censura. E é isso que o projeto de lei propõe em suas entrelinhas. Proibir a transmissão de qualquer evento, esportivo ou não, vai contra a Constituição Federal, que prega a liberdade de expressão.O projeto de lei, de autoria do deputado José Mentor (PT-SP), exclui as lutas marciais não-olímpicas que não sejam violentas. Mas o que é considerado violência? E quem determina isso?O bom professor de artes marciais, seja ela qual for, olímpica ou não, ensina seus alunos a usar os conhecimentos com sabedoria. Mesmo assim, não é ele quem determina o comportamento pacífico ou violento de seu aprendiz no dia a dia. O conhecimento serve para o bem e para o mal.Um exemplo é a judoca Rafaela Silva, que ganhou a medalha de ouro na última quarta-feira no Mundial de Judô, disputado no Rio. Ela conheceu o esporte em um projeto social na Cidade de Deus. E o comportamento agressivo que ela tinha fora dos tatames, antes de subir em um, foi controlado com a prática da modalidade. A disciplina e o respeito aprendidos no judô podem ser vistos no kung fu, no jiu-jítsu, no caratê, no tae kwon do, no krav magá e na capoeira, para citar alguns. E todas ensinam o aluno a se defender, em primeiro lugar.Se a transmissão de MMA na TV deve ser proibida porque os lutadores saem machucados, as transmissões de futebol também deveriam ser banidas. Está aí o Ferrugem, da Ponte Preta, para concordar comigo. Até hoje ele se recupera da fratura exposta na perna em jogo do Campeonato Paulista.Pensar que uma luta na TV faz com que o espectador saia de casa e comece a socar o vizinho é o mesmo que pensar que jogar videogame faz uma criança virar assassina em série.Quem quiser assistir a uma luta, assiste. Quem não quiser, desliga a TV. Os deputados, em vez de elaborarem projetos que valorizam a prática esportiva nas escolas, ficam por aí, protegendo seus comparsas criminosos de terem seus mandatos cassados. Isso sim é banalizar a violência.

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