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Delatores acusam Chebabi de desvios na Coaf

O ex-presidente da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), Cássio Chebabi, foi acusado por delatores desviar de recursos da entidade

Bruno Bacchetti
28/01/2016 às 18:26.
Atualizado em 23/04/2022 às 02:14

Bruno Bacchetti DA AGÊNCIA ANHANGUERA [email protected] Fotos: Divulgação e arte (depoimento) Apontado pelo Ministério Público (MP) como cabeça do esquema de corrupção na venda de produtos para merenda escolar em prefeituras de São Paulo, o ex-presidente da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), Cássio Chebabi, foi acusado por delatores desviar de recursos da entidade. Em depoimentos prestados à Polícia Civil e ao MP, em Bebedouro, o atual presidente da cooperativa, Carlos Alberto Santana, e o vendedor Adriano Gilbertoni Mauro, narraram de modo semelhante desfalques do ex-presidente no caixa da Coaf. Os desvios de recursos da cooperativa, que podem chegar a R$ 13 milhões, motivaram o afastamento de Chebabi da presidência da entidade, em 2014. Santana disse em seu depoimento que ingressou na Coaf em 2012 como prestador de serviços de um projeto da entidade chamado Micro Bacias, e que somente em 2013 assumiu a vice-presidência. Ele contou que desde então percebeu que a cooperativa trabalha de forma irregular e tomou conhecimento do esquema de corrupção na venda de produtos da merenda escolar para várias prefeituras de São Paulo. O presidente da Coaf contou detalhadamente os desvios milionários de recursos da entidade realizados por Cássio Chebabi. “O declarante estima que Cássio tenha desviado da Coaf R$ 13 milhões da cooperativa e provavelmente comprou uma propriedade em Tocantins. (...) Cássio também refinanciou os veículos da Coaf e ficou com todo o valor do dinheiro. A caminhonete dele foi paga também através do financiamento de veículos da Coaf”, consta no depoimento de Santana. O presidente da Coaf também afirmou que Chebabi teria proposto a ele que falsificasse uma ata para que pudesse ampliar o mandato de ambos por mais dois anos, o que foi prontamente negado por Santana. Pouco depois, contou que Chebabi apresentou uma carta de renúncia e “disse que procuraria as autoridades para fazer um acordo de delação premiada”. Santana citou ainda que ao deixar a cooperativa, Chebabi teria feito um levantamento no qual a Coaf devia a ele R$ 400 mil, referentes a empréstimos realizados por ele e sua família para a cooperativa. Deste total, foram pagos R$ 160 mil - uma parcela de R$ 80 mil e duas de R$ 40 mil. Santana disse que não denunciou o esquema antes por temer represálias de Chebabi e sua família, que são influentes em Bebedouro. O depoimento de Adriano Gilbertoni Mauro, vendedor da Coaf, é parecido com o de Santana. Ele contou que Chebabi estava praticando desfalques na entidade e encaminhando dinheiro da cooperativa para contas pessoais, além utilizar para compras de fazendas em Tocantins. Segundo Mauro, o ex-presidente foi afastado da presidência e depois foi feito um acordo para que Chebabi deixasse de vez o cargo. “Como Cássio Chebabi estava desfalcando a cooperativa, foram feitas assembleias ele acabou afastado da presidência. (…) Foi feito um acordo por meio do qual a cooperativa devolvesse a família de Cássio o que teria investido”. Assim como Santana, Mauro disse que a família de Chebabi teria emprestado R$ 400 mil e que a cooperativa já pagou uma parcela de R$ 80 mil e duas de R$ 40 mil. O advogado de Cássio Chebabi, Ralph Tórtima Stettinger Filho, negou taxativamente todas as acusações, as quais ele classificou como “absurdas”. Segundo Stettinger Filho, os extratos bancários de Chebabi, de sua esposa e da cooperativa comprovarão que não houve desvio de recursos da entidade. “Algumas pessoas estão tentando inverter os fatos. Os demonstrativos financeiros da cooperativa vão mostrar o quanto descabidas são essas colocações. A situação financeira do Cássio é de dificuldades e ele, na verdade, é credor, inclusive com a anuência deles (acusadores)”, afirmou. “Já nos antecipamos e solicitações informações bancárias do Cássio e da esposa para esclarecer todos esses aspectos”. Retranca A Controladoria-Geral da União (CGU) e os ministérios da Educação e da Justiça anunciaram, na última quarta-feira, a criação de uma força-tarefa para intensificar a fiscalização e controle dos recursos destinados à educação, principalmente merenda e transporte escolar. A medida foi tomada pouco mais de uma semana após a deflagração da operação Alba Branca, que apura um esquema de corrupção na compra de produtos da merenda escolar de dezenas de prefeituras. Parte dos recursos utilizados na compra desses alimentos são do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), do governo federal. “Vamos intensificar a auditoria, a investigação de qualquer tipo de desvio e, ao mesmo, tempo elaborar uma política mais eficiente de controle”, destacou o ministro da Educação, Aloízio Mercadante. Somente neste ano, o MEC vai investir R$ 3,9 bilhões em merenda escolar e R$ 600 milhões no custeio do transporte escolar. “As auditorias (da CGU) demonstraram que essas são as duas áreas onde há mais vulnerabilidade.” A operação Alba Branca atingiu deputados estaduais, federais e membros do alto escalão do governo estadual. Entre os parlamentares citados por delatores com envolvimento no esquema estão o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB) e o deputado federal Baleia Rossi (PMDB-SP). Assessores dos secretários de Transportes, Duarte Nogueira, e da Casa Civil, Edson Aparecido, também surgiram em depoimentos de funcionários e diretores da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) prestados à Justiça. Todos negaram a participação no esquema de corrupção. O clima dentro do Palácio dos Bandeirantes ficou ainda mais carregado após uma postagem publicada na noite de domingo pelo secretário de Segurança, Alexandre de Moraes, em seu perfil no Facebook, parabenizando a Polícia Civil pela Operação Alba Branca. “Amigos, dizem que a corrupção é um crime sem rosto, entretanto, o trabalho da Polícia Civil durante a operação Alba Branca vem revelando alguns destes corruptos”, escreveu Moraes, que depois apagou o post.

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