JULIANNE CERASOLI

"Deixe-me pilotar, cara!"

Julianne Cerasoli
22/06/2013 às 15:55.
Atualizado em 25/04/2022 às 11:21

Ele foi contratado a peso de ouro pela Mercedes para substituir ninguém menos que Michael Schumacher. Mas o início do casamento entre Lewis Hamilton e a Mercedes não tem sido tão feliz quanto ambas as partes esperavam. E não é pelo motivo que muitos esperavam: a falta de rendimento da equipe alemã, que cresceu muito em relação ao ano passado.

É Hamilton quem não está rendendo na pista tudo o que pode. Nas três primeiras provas do ano, o inglês foi irrepreensível nas classificações, ainda que o companheiro Nico Rosberg tenha demonstrado um ritmo de prova pelo menos tão forte quanto. Porém, a partir do Bahrein, o inglês passou a admitir uma dificuldade em se adaptar aos freios. Problema curioso, é verdade, pois, no Canadá, circuito em que a confiança em freada é meio caminho andando, Lewis parecia em outro planeta em relação a Nico.

Há que aproveite essa dificuldade que Hamilton vem tendo para cravar o ex-companheiro e alvo fácil dos tempos de kart para relativizar as críticas ao final da carreira de Schumacher, que passou os últimos três anos na Mercedes. Afinal, parece que levar tempo de Nico não é tão vergonhoso assim. Porém, por declarações tanto do próprio Hamilton, quanto de seu chefe, Ross Brawn, essa dificuldade tem a ver com a adaptação — e deve, portanto, ter prazo de validade. Dois episódios recentes mostraram problemas de comunicação entre piloto e equipe.

Em Mônaco, Hamilton perdeu um pódio porque entendeu que deveria diminuir o ritmo antes de sua parada, mas aparentemente não houve nenhuma instrução nesse sentido. No Canadá, reclamou do excesso de informações dadas por seu engenheiro — “deixe-me pilotar, cara”, exclamou quando era perseguido por Alonso.

Hamilton nunca foi técnico ou detalhista, como o próprio espanhol ou Vettel. Nas comunicações com seu engenheiro nos tempos de McLaren, ficava a impressão de que o piloto precisava de informações mais básicas e tinha pouco poder de decisão sobre acertos e estratégia. De forma justa ou não, o inglês sempre foi tido como emotivo demais para ser um líder. Não é com esse papel que ele rende mais. E, como vimos claramente na campanha pífia de 2011, um Lewis fora de sua zona de conforto psicológico é um Lewis errático demais para lutar por vitórias.

A Mercedes vem descobrindo que contratou um grande piloto, mas talvez não tipo que Ferrari e Red Bull têm. Para que Hamilton brilhe com toda intensidade que seu talento natural permite, será preciso acertar, mais do que os freios, a sintonia fria entre piloto e equipe.

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