ANTÔNIO CONTENTE

De verdades e mentiras

Antônio Contente
29/04/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 18:35
ig-antonio-contente (AAN)

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Ninguém precisa concordar, mas eu acho que o bom publicitário é aquele que consegue transformar mentiras em verdades; e estas, no seu oposto. Exerço meu amplo direito de formular tal reflexão, relativamente simplória, talvez, para chegar ao imenso Ministério da doutora Dilma Rousseff. Segundo leio nos jornais, são 39 pessoas, entre homens e mulheres. Mas, correndo por fora, há um quadragésimo membro no chamado Primeiro Escalão. Ou seja, um ministro sem pasta, talvez o mais importante de todos. Chama-se João Santana.

Certamente é provável que alguém esteja a perguntar: é o mais importante por que? Exatamente porque David Copperfield (o mágico, não o personagem de Charles Dickens), perto dele, é mero amador. Não, não tenho informações de que Santana seja capaz de transformar água em vinho, multiplicar pães, peixes ou ressuscitar mortos. Mas, a serviço do atual governo, tem feito coisas tão espantosas quanto essas. Afinal, exibe em tecnicolor de Natalie Kalmus uma administração em P&B de Ed Wood, instalada faz mais de 10 anos no Planalto, como se fosse algo de fazer inveja aos países do Norte da Europa. O Brasil-maravilha que vemos nas propagandas das TVs faz com que Suécia ou Dinamarca, perto desta esculhambação que aqui viceja, sejam o quintal do aborígene fajuto Evo Morales.

Claro, já deu para sacar que o ministro extra é publicitário. Responsável, ao longo desses anos petistas, pelas enganações que pegam na curva os incautos. Lembro, por exemplo, que na campanha para eleger o poste, digo, a doutora Dilma, a Petrobras gastou tanto dinheiro em propaganda que hoje, com tal numerário para ajudá-la, aliviaria seus rombos. Os anúncios cantando que o Brasil era autossuficiente na produção de petróleo tinham cores e luzes de superprodução de Spielberg. O povão ficou encantado e acreditou na balela. Situação semelhante ao ocorrido nos recentes pronunciamentos da presidente nas TVs. Ou será que alguém já sentiu, no orçamento doméstico, os vastos benefícios com o propalado abatimento nas contas de luz?

Recentemente, contam, numa das horas de sufoco na Presidência, com inflação aumentando, alguém estalou os dedos: “Chamem imediatamente o Santana”. Que entra dizendo: — Pode deixar, tenho a solução?

— Para conter os preços? — um esperançoso Mantega arregalou os olhos.

— Não — o mágico respondeu — apenas para fazer o eleitorado acreditar que tá tudo muito mais barato...

E agora aí está novamente a Petrobras, mesmo ruim das pernas, a anunciar em reclames com efeitos especiais do “Titanic” de James Cameron, que o Brasil vai bem, que o petróleo jorra aos borbotões, dando a entender que quem acredita nessa história de preço de tomate são as zelites d’olhos azuis que torcem contra o Brasil.

Os anúncios endeusando nosso método educacional são brilhantes, mas o aprendizado da garotada continua opaco. O que já saiu insinuando a retirada de petróleo das “águas profundas” (aquele que dorme 8 quilômetros abaixo da superfície), ticket para levar o país a sócio da Opep, na mentirona de Lula, caso fosse verdade, teríamos morrido afogados em óleo. Na realidade, de tais pélagos, até hoje, nunca foi retirada uma gota, até porque não há tecnologia disponível para o cometimento. De vez em quando divulgam, também, esse duende, esse elfo chamado “trem bala”, enquanto o sistema ferroviário brasileiro permanece rodando em passos de cágado.

Correram (lembram?) milhares de anúncios jurando que o biodiesel resgataria o Brasil da miséria; atualmente o que pinga desse combustível mal enche um romântico dedal. Também a transposição do São Francisco estrelou nas telas das TVs. Só que nos canais terrestres por onde deveria correr água, viceja mato e trafegam calangos. Ariscos lagartos da família dos Tropiduridae que as vítimas da seca capturam para comer. Querem mais propaganda enganosa produzida graças às mágicas do nosso Coppefield? É melhor ficar por aqui...

O que sei é o seguinte: caso eu fosse comprar um carro novo, até poderia me habilitar à transação a partir de anúncios que tivesse visto nas TVs. Mas ontem à noite, entre os lençóis, estive a pensar que, ao chegar à concessionária para adquirir o veículo, poderia me ocorrer perguntar da cabeça de quem teriam saído os filmetes tão estimulantes. Caso recebesse como resposta “João Santana, o ministro 40”, com certeza optaria pelo automóvel do concorrente...

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