Nova geração de pais estão mais conscientes e assumem a responsabilidade de compartilhar a tarefa de criar os filhos com as mães
Há uma frase que diz: não basta ser pai, tem que participar. Pois a cada dia ela fica mais real e evidente na vida da maioria das pessoas. Nas últimas décadas, transformações econômicas, sociais e culturais refletiram, e muito, no papel do pai. Um dos motivos que contribuiu para esse novo olhar da paternidade foi, sem dúvida, a inserção da mulher no mercado de trabalho. O que muitos homens - que mergulham de cabeça nessa aventura - não negam é que a paternidade traz um novo olhar para si mesmo e para o restante do mundo. E para muitos pais poder viver plenamente essa experiência é enriquecedor, independente dos erros ou acertos que fazem parte do trajeto.Hoje em dia pai e mãe compartilham as mesmas tarefas e demandas de um filho. A única exclusivamente da mulher é a amamentação. A Metrópole conversou com pais que trocam fraldas, dão banho,comida, acordam a noite, levam e buscam na escola, levam no pediatra, questionam-se constantemente se estão no caminho certo, brincam e estão preocupados com a formação de um ser humano integral.A maior das aventuras Michel Lazinho, 42 anos, sempre foi aventureiro e amante de esportes radicais. Escalar paredões, pular de paraquedas, sair pelas estradas de bicicleta sem rumo sempre fez parte de sua rotina. Mas, ele não consegue esconder a emoção ao falar que sua maior aventura, sem sombra de dúvidas, foi a chegada do filho Matias, de 6 anos. “Por mais que eu tenha tido essas experiências, nada se compara com a grandeza e emoção de ser pai. O aprendizado diário que um filho traz na nossa vida é de uma beleza ímpar”, diz. Casado com Bianca, no primeiro momento, o casal tinha recebido a notícia que dificilmente conseguiria um filho biológico. Mas ambos ficaram surpresos quando viram um positivo no exame de gravidez. “Chamo o Matias de ‘milagrinho’, porque nem pensávamos mais em ser pais. Ele é minha inspiração diária e me faz tentar ser sempre uma pessoa melhor, me traz um olhar mais amoroso da vida”, diz. A sua lista de aventuras continua crescendo, mas agora com outro foco. A principal delas é tentar apresentar ao filho o mundo de um jeito bonito, alegre e colorido. Mesmo que seja se vestindo de superherói para o filho ele tem consciência de que a realidade da paternidade requer muito aprendizado. “Valorizo cada momento que podemos passar juntos, em família. Montei uma bicicleta dupla para que a gente possa pedalar juntos nos finais de semana. Também adoro soltar pipa com ele, andar de carrinho de rolimã, tocar violão e cantar com ele me faz feliz. Chego em casa e dedico parte da minha noite para brincar, assim percebo se ele está bem, como foi seu dia. Mas claro, sem esquecer de outras responsabilidades. Procuro dividir as tarefas, os desafios, as alegrias e responsabilidades de ser pai do Matias de forma integral. É um mergulho profundo mesmo”, destaca. Para ele, ser pai é a das mais lindas e desafiantes funções que a vida lhe presenteou. O parto de um pai O representante comercial Bruno Leonardo Petrocco, 35 anos, é pai do Lorenzo, de 3 anos e 4 meses, e Giulia, de 1 ano e 4 meses. “Confesso que nunca tive o sonho de ser pai. Só fui me ligar nesta questão e de ter noção da responsabilidade quando me dei conta que teria uma vidinha que dependeria de mim e da minha esposa. Foi na gravidez do nosso primeiro filho que minha esposa que começou a me apresentar novos valores da vida. O parto natural domiciliar dos nossos dois filhos, foi um divisor de águas em minha vida. Isso me fez descobrir um mundo novo. Fiquei encantado, mudou a maneira como eu me enxergava e como enxergava a minha esposa. Eu sempre comento que todo o santo dia a gente pede por um milagre e eu tenho o privilégio de ter presenciado dois milagres que são meus filhos. Eu agradeço todos os dias por essa experiência”, conta Bruno.Para ele, o envolvimento com os filhos é tão profundo que o fez entrar de cabeça neste universo. Trocar fraldas, cuidar, dar banho, colocar para dormir até a escolha do tipo de educação que pretender dar os filhos fazem parte do dia a dia de Bruno. “Ser pai me fez questionar o tipo de ser humano que queremos ajudar a formar e penso que nosso desafio é fazer com que nossos filhos tenham muito equilíbrio emocional, independente das escolhas que façam. Participei ativamente da decisão da escola deles, vou nas reuniões, levo e busco na escola. Para mim, que venho de um mercado de trabalho mais frio, ter a oportunidade de participar ativamente da educação e vida escolar deles tem sido muito prazeroso e me alegra muito”, conta.Ele destaca que a paternidade aflorou o desejo dele ser pai de forma integral. E que isso reflete muito no olhar que tem pela vida “Como pai meu maior desejo é que meus filhos pensem no próximo, tenham empatia, amor, paciência, sejam pessoas felizes e equilibradas e que optem sempre pela comunicação não violenta. Tenho certeza que se conseguirmos passar isso para eles, estamos no caminho certo da educação, mesmo com erros, acertos e questionamentos” diz.Mudança de rota “Mamãe virou uma estrelinha no céu”. Esse foi a jeito que o publicitário Rafael Stein conseguiu explicar para a filha Maria Clara que a na época tinha X anos a partida prematura da mãe Micaela, no final do ano passado em decorrência de um câncer de mama. O filho Francisco era ainda muito pequeno, tinha apenas 1 ano e 3 meses. Ele lembra que na primeira noite sem a esposa, levou os dois filhos para dormirem com ele e pela primeira vez se sentiu sozinho. “Desde então estou imerso na rotina e no dever de cuidar deles, pois foram eles que perderam a mãe. Nessa jornada venho tentando ser o alicerce perdido e a sustentação do cuidado deles”, conta. Rafael que sempre sonhou em ser pai e sempre foi muito presente, lembra que questões práticas e simples tornaram-se mais complicada sem a presença de Micaela. Parte dessa rotina e desafio ele conta no site Cartas para Maria, um projeto de escrita que toca para que os filhos leiam no futuro e entendam os laços de amor que sempre vai uni-los. Situações da rotina também estão relatadas, como, por exemplo, o dia em que teve que aprender a fazer o coque para a filha ir ao balé e levou 40 minutos. Atualmente já domina melhor essa arte.Mas, ele acredita que é preciso desmistificar o papel de pai herói ou paizão. Principalmente por sabe que muitas mulheres já assumem esse papel sozinhas na nossa sociedade e nem sempre são valorizadas. Sobre ser pai ele destaca: “Sei que não vou conseguir substituir a Micaela na vida dos meus filhos, mas posso e vou continua tentando ser o melhor pai que eu posso ser”, diz.Papai é pop Marcos Piangers ficou conhecido por falar da paternidade de forma sensível e bem-humorada. Autor do livro Papai é Pop e Papai é Pop 2, ele é pai de Anita e Aurora. Seus livros estão entre os principais rankings de leitura do País. Ou seja, tem muito pai por aí querendo entender esse universo e dividir a experiência com outras pessoas. O autor destaca que apesar de não ter conhecido o pai biológico, quis fazer diferente quando construiu sua família. “Apesar de eu não saber o que é ter pai, sei muito bem o que é ter filhos e , para mim é a melhor coisa do mundo.”